Quanto tempo vocês perdem? Quantas fotos os nossos olhos deixam de tirar, me diga? Quantas sensações que você terceirizou pros seus amigos e excluiu do seu coração? Quantas vezes sua alma não sentiu pra que sua câmera conseguisse capturar? No melhor momento, os arrepios não vieram. Sua concentração estava em lembrar qual era a senha.
Até quando nós todos estaremos mais concentrados em avisar o mundo sobre onde estamos, com qual roupa, em qual setor, com quantas hashtags e com qual pose pra selfie do que em permitir aos nossos mais profundos sentimentos de aflorarem e curtirem em paz. De perder-se das horas e saltar com fé sem saber pra onde.
Será que vale mesmo a pena levar todo mundo contigo? Carregar nas mãos a responsabilidade de imergir os amigos no melhor ângulo, em 4K, com efeitos e filtros? O momento não é seu? O dinheiro gasto, a estrada, o combustível, a ansiedade, a expectativa, o sonhos, as horas gastas para aprender melodias e letras. O tesão todo. Vai dividir na hora da viver? Benevolência ou necessidade de atenção?
Porque você ama um artista só? Porque ele é popular em seu Instagram? Porque só um gênero é legal? Porque é ele que os consumidores das suas postagens gostam? Você ouve o que é moda ou que você gosta? Gastar duas horas de olhos entreabertos, vestindo a roupa mais confortável e imerso numa viagem musical te parece hipster demais? Ou seria a verdadeira alegria dessa história toda?
Passou da hora. É tempo de parar. Esquecer o telefone, perder a câmera, entregar o coração e a alma pro som, pro momento, pra tudo o que só acontece ali. Que não precisa reverberar ao público. Fica contigo, na memória mais querida, numa lembrança quentinha. Feliz. Aquele tempo que você ignorou ter problemas, que a vida te fez carinho, que o sonho pareceu mais perto. Que você foi feliz por você.
Deixe que os encarregados registrem tudo. Não viva pelos stories. Viva pelas vibez