Tive a sorte de ir ao Ultra e acompanhar três dias de muita música eletrônica, um velho sonho. Me peguei surpreso ao notar que todos os meus heróis já não tocavam as músicas com as quais me acostumei e me encantei ainda menino. Assimilei que é o processo natural das coisas e aproveitei cada momento que lá vivi. Ainda assim, uma coisa seguiu me perturbando as ideias: os velhos hábitos acabaram pra valer?
A resposta do UMF pra mim foi que sim, fim da linha para eles. Ainda que compreensível, não me soava uma percepção tão feliz assim. Senti falta de ouvir uns clássicos, umas farofagens gostosas para pular e fazer confusão no palco. Senti falta de chorar com umas velhas e boas que há 10 anos estavam nas rádios, mas sem remixes, sem novas versões, só o antigão, sabe? O que tem cebola picada nos olhos em cada verso.
Deixei a cidade do pôr do sol ciente de que seria apenas uma saudade a ser tratada. Hardwell agora toca um Techno modernão, Armin fez chover IDs e David Guetta é o homem do Future Rave. Nicky agora toca House, Alesso evita drops conhecidos e Illenium é o novo preferido dos Estados Unidos. Novos tempos, novas realidades. Estava fixo nessa ideia quando abri o YouTube e assisti ao Tomorrowland Winter – uma experiência transformadora.
O primeiro show com o qual me deparei foi do saudoso 3 Are Legend, a reunião de Dimitri Vegas, Like Mike e Steve Aoki. Durante 40 minutos, num palco discreto, pequeno e no meio da neve, me senti de cara contra um evento de 2015. Da introdução ao encerramento, eram apenas os clássicos, as viradas caretas, os remixes empoeirados e as mesmas falas ao microfone. Foi tão antiquado à modernidade que eu achei deliciosamente maravilhoso. E, confie em mim, os sortudos que lá estavam pulavam e cantavam como se não houvesse amanhã.
Me pareceu evidente que Aoki e os irmãos belgas estavam pela diversão, pela curtição, pelo remember, pelo beijo descompromissado, pelo podrão no fim da noite. E encontraram na plateia esse mesmo mood, todos felizes, sorridentes e pulando como pipocas sob fogo quente – na neve. De casa, fiquei vidrado na televisão e aproveitando cada track, cada drop, cada momento que me fez voltar pelo tempo, com algumas cebolas nos olhos.
Na última track, Like Mike tocou uma música nova de seu projeto solo, lembrando a todos nós que eles também têm mundos mais moderninhos para expor, mas que não é antiquado curtir velhos hábitos. Se foi o festival, se foi a comodidade ou o conformismo, não posso te dizer, mas foi bom, foi uma delícia. Talvez tenhamos mais uma missão para viver como fãs de música e críticos da cena: novo e velho são a mesma coisa, só vindos de épocas opostas. Eles convivem.
Eu não sei vocês, mas tô prontinho para vários velhos hábitos