A porta de entrada para as trevas: O que está por trás de Sara Landry (e pouca gente sabe)

Desde que foi lançada, “Heaven”, de Sara Landry, soma mais de dez milhões de streams no Spotify – um feito até então praticamente não alcançado dentro do universo do Hard Techno.

O sucesso comercial estrondoso mostrou a capacidade de Sara Landry de levar um gênero tão pouco comercial para o grande público. Até então, nem um único artista da vertente havia tocado no mainstage do Tomorrowland Bélgica. Até o dia 27 de julho, quando a americana nascida em 1993 fez o set com os BPMs mais acelerados do festival, sorrindo para dezenas de milhares de pessoas.

Esse feito, na indústria musical, só é possível com números volumosos. Sara já tinha feito um Boiler Room que ultrapassou 8 milhões de views, sendo o terceiro mais visto do ano em questão, mas só de 2024 para cá a artista conseguiu chegar no grande público.

Definitivamente nenhuma música dela é para ser mostrada para alguém que caiu de paraquedas no universo da música eletrônica e é novo. Mas “Heaven”, ironicamente, não é a porta de entrada para o paraíso – mas sim para as trevas. Nunca um artista havia angariado tanta gente de outros universos para dentro do techno, especialmente tocando uma subvertente como o hard. Esse movimento todo não é acidental.

De mãos dadas com quem fez bilhões de streams

Em uma tarde qualquer em um estúdio repleto de sintetizadores e mixers Sara perguntou “O nós queremos fazer? Algo mais mainstream? Algo mais techno? Como estamos nos sentindo?”, e recebeu uma resposta curta e bem humorada: “Techno”.

Quem respondeu não é ninguém menos do que Mike Dean, o homem com os números mais invejáveis da indústria musical, de longe. Produtor musical, engenheiro de som e multi-instrumentista, Dean produziu simplesmente alguns dos discos de maior sucesso comercial da música contemporânea, como “Astroworld”, de Travis Scott, ou “After Hours“, de The Weeknd. Ele trabalhou com gigantes do pop e do hip-hop como Jay-Z, Beyoncé, Drake, Playboi Carti, entre outros – empilhando então bilhões de streams nas plataformas de streaming. Nada que passa por “Dean”, passa despercebido. Seu nome é sinônimo de barulho, no bom sentido.

Para além das estatísticas assustadoramente positivas, “Dean” chegou no #1 da Billboard algumas vezes e também ganhou 7 prêmios Grammy (além das 24 indicações).

Dean é uma das figuras por trás de Spiritual Driveby”, o álbum debut de Sara que foi lançado em meados de outubro de 2024 e é talvez o maior sucesso do hard techno da década – e talvez até da história.

O disco une a criatividade artística e conceitual com elementos que fazem a música chegar mais longe. Começa com vocais hipnóticos do hipnoterapeuta pessoal de Sara – em devotion 396hz -, em uma sequência imersiva, e vai até os vocais de Heaven que são facilmente cantaroláveis, e Play With Me que faz sucesso no TikTok de Sara, que soma mais de 690 mil seguidores – número que supera com folga o de outros gigantes da música eletrônica que tem mais tempo de carreira, mais views no YouTube e nomes maiores.

Não é techno de bueiro, é techno de mainstage

Sara passeia por gêneros como o schranz e até pelo Drum & Bass (como no set do Knockdown Center de Nova York) quando quer, e mergulha fundo em sonoridades igualmente obscuras e aceleradas.

O mais curioso de tudo isso é que em nenhum momento ela faz adaptações expressivas para se encaixar onde toca. Em pleno mainstage, vira Freedom Inside Your Illness” como se fosse a coisa mais habitual do mundo – mostrando que em nenhum momento o intuito é saturar o próprio som para alcançar mais gente, mas trazer mais gente pra uma sonoridade que pode ser mais sofisticada, madura ou difícil de digerir aos entrantes.

Isso demonstra que Sara tem, talvez, uma das qualidades mais raras e valiosas de um artista – a coragem de ser quem é, e não quem você acha que seu público gostaria que você fosse.

A sonoridade, a estética, a personalidade e todo o conjunto de fatores que moldam a artista devem fazer com que seu nome se mantenha em fontes grandes nos flyers de grandes festivais.

Teremos Sara Landry no Brasil

Seguindo a tradição firmada em 2024, com Lukas Ruiz (aka Vintage Culture) dando spoilers não oficiais do line-up da Só Track Boa, vimos o nome de Sara ser citado no broadcast channel dos fãs do brasileiro. 

Dias depois, de fato, Sara foi confirmada no line-up do festival, que ocorre nos dias 6 e 7 de junho na Neo Química Arena, em São Paulo. Além dela, outros nomes do high bpm foram escalados para a edição de 10 anos da Só Track Boa e surpreenderam o público, como Blazy e Astrix.

O cenário mostra, também, que o público brasileiro está disposto e deseja novas sonoridades. Mostra que o público amadureceu. Que talvez as trevas e o 150bpm não sejam necessariamente um universo inacessível e inóspito.

E você, está ansioso para ver uma das principais expoentes do hard techno em um dos maiores festivais do Brasil? Fique de olho na Eletro Vibez (@eletrovibez) no Instagram para mais novidades!

Por: Eduardo Vargas