Imagine você, um DJ brasileiro, se colocar no patamar de Ivete Sangalo e Roberto Carlos, o Rei. Era plausível? Não, né. No pais da música sertaneja, do axé e do bailão, colocar-se atrás de uma nave espacial e apertar botões nunca foi admirável. Era preciso subverter a ordem secular do que era musical por aqui. Alguém mudou. E é preciso aplaudir em pé.
Alok foi convidado pela maior emissora do país para se apresentar na televisão aberta, na fechada e nos canais digitais. Alok foi contratado por empresas que queriam expor suas marcas. Alok foi o rosto de uma ação coordenada para angariar doações e entreter do filho até o avô. E vocês queriam que fosse com prog? Com techno?
Ontem (2/5), Alok, um rockstar, pessoa pública e de reconhecimento notório, invadiu a nossa televisão, ao vivo, em horário nobre, na Rede Globo. Ele mesmo que já tocou no Big Brother e em tantos outros programas de TV. O primeiro que levou nossa bandeira ao mainstage de muitos festivais internacionais.
Quem nos colocou entre os 20 melhores do mundo, que tocou a música eletrônica nas ondas do rádio que só tocavam o sofrimento de um corno. O primeiro que lançou uma subvertente aqui na nossa laje e que hoje já rodou o planeta terra e criou uma geração. É mundo antes e o mundo depois de Alok.
Entendo que nós, familiares à música eletrônica, possamos ter alguns desalinhos com o set comercial e popular que o DJ trouxe à nossa telinha, mas isso tudo não se refere a nós. Esse é o ponto em que é preciso entender o que aconteceu e por quais motivos.
Filho do trance, headliner de todo e qualquer evento, dedicado à cena ou não, falamos aqui de um artista, na acepção da palavra. De alguém que se molda para a ocasião e sabe se livrar dos problemas. Tem um imenso feeling sobre o que tocar, quando tocar e onde tocar. Esse é o ponto.
Parar o centro de São Paulo e seus trocentos milhões de habitantes, encher as varandas, aglomerar carros nas ruas, bater a casa dos MILHÕES no YouTube, mesmo com a concorrência das tevês aberta e fechada, é muita coisa. É uma imensidão. Provavelmente só tenhamos a clara noção quando a próxima geração vier por aí e a música eletrônica for ‘normal’ na criação dela. O que não foi na nossa.
A resignação da resistência, a qual pertencemos, é justa, mas é preciso ser altruísta de entender o que aconteceu e como isso abre caminho para nós. Para que os olhos alheios chegue a nós com outro tom, com outra receptividade. Se hoje nossos nomes circulam pelos festivais mundo afora, foi porque alguém mudou a trajetória dessa história.
E a própria indústria da música tem essa ciência. Cláudio da Rocha Miranda, Diretor Geral do Brazil Music Conference e Diretor Artístico do palco “New Dance Order” do Rock In Rio, comentou em uma rede social:
Alok personifica uma trajetória de muitos, uma história bonita de vida, que curto acompanhar. Mais uma grande conquista hoje. A música eletrônica explodiu com o boom da internet, quebrou barreiras, venceu preconceitos, é grande aliada da tecnologia, do mundo digital, dos games. É protagonista nas transformações do entretenimento, uma ferramenta e tanto pra conectar e emocionar pessoas.”
Se hoje podemos debater música eletrônica na televisão, meus bons, é porque alguém a levou até lá. Do rodeio até o Tomorrowland, Alok reescreveu a música eletrônica do Brasil para sempre.