Alok levou diversão ao The Town, estranho é achar que isso é um problema

O ano é 2023 e eu juro pra vocês: zombaram de um show usando do termo “diversão” com conotação depreciativa. Sim, divertir pessoas não é mais uma qualidade da música, tampouco de um artista. Imagino que ninguém mais vá a uma apresentação para ter momentos de curtição, de se sentir em um grande parque de diversões que mexe com as emoções, que encanta, que faz sorrir e até arranca umas lágrimas sorrateiras. Teríamos chegado à época dos sommeliers de festa?

Sempre será engrandecedor à cena, seja ela qual for, que discussões sejam travadas sobre os rumos que a música tem tomado, quais são caminhos já conhecidos, quais são mais disruptivos e como esses ambientes podem se cruzar. Essa é a jornada do debate salutar, que visa celebrar bons momentos e pavimentar outros ainda melhores. O que não contribui é crítica pela crítica, o jocoso que passa pelo ofensivo e tudo isso de forma gratuita, baseada em uma sensação individual.

Existe na música, principalmente na eletrônica, uma coisa que não se negocia: a resposta da pista. Um artista promove seu show para aqueles que compraram ingresso e que se amontoam para vê-lo. Foi desse lugar que presenciei, e registrei, pessoas que jamais haviam experimentado EDM vivendo cada segundo como fosse o último, com sorriso no rosto, cantarolando, pulando feito pipoca recém estourada, filmando tudo, muitas vezes maravilhadas com todo o entorno pirotécnico, que é divertido, que causa a gostosa sensação do épico.

Nunca mais vai sair da minha cabeça a cena de pessoas boquiabertas – na acepção do termo – enquanto drones formavam imagens no céu de São Paulo, completando o cenário com o mashup de Swedish House Mafia tocado por Alok. Encantado, o público curtiu cada segundo, cada clique, e cada comando que vinha do sorridente DJ, também claramente feliz de estar ali, com aquela multidão. O que pode ser mais admirável que uma conexão honesta entre esses dois lados? Talvez eu seja romântico demais, mas isso é entender que felicidade está em se divertir.

No fim do dia, Alok trouxe, sim, uma seleção musical já conhecida, e isso ajudou com que ilustres desconhecidos cantassem todas. Trouxe fogos e drones, festejados à exaustão em cada aparição, e trouxe diálogo com seu público, sendo por ele respondido com enorme empolgação. É preciso entender, de uma vez por todas, que gostar é facultativo, mas respeitar o poder da arte em todas as suas formas é um gesto de humanidade. Diversão faz bem pro coração.