Há na música eletrônica uma figura capaz de estremecer multidões usando apenas de sua marcante e icônica presença. Com uma máscara carnavalesca veneziana que surge da escuridão, dos lasers e das fumaças, em meio a uma aura mística que parece tornar confusa a divisão entre a realidade e a psicodelia, um nome sobe aos palcos: Boris Brejcha.
Tenho que admitir que a máscara junto da música, dos visuais e luzes de um clube sempre exalaram algo especial. Ela coordena com as vibez e dá a todo o show algo especial. Eu amo isso, mesmo que não seja planejado (risos).
A questão é que, quando eu fui tocar no meu primeiro show no Brasil, em 2007, eu estava procurando algo único. Então pensei no carnaval carioca e de alguma forma acabei comprando uma máscara. Mas naquela época a máscara era diferente da de hoje.”
A máscara tornou-se não apenas a icônica marca de Boris Brejcha, como também símbolo de tudo aquilo que ele e sua música representam aos fãs.
Tenho várias máscaras em casa. Acontece muitas vezes de uma quebrar e este é exatamente o motivo de eu sempre ter supercola na bagagem de mão. Já aconteceu até de roubarem. Então, peguei emprestada uma máscara de um fã na plateia para tocar.”
A força desse símbolo fica em evidência a partir do momento em que podemos ver diversos fãs o tatuando como demonstração de amor.
Eu ainda acho isso incrível todas as vezes. Recebo tantas fotos de tatuagens todos os dias e fico realmente impressionado com elas. É um tipo muito especial de carinho. Eu nunca teria pensado nisso. Mas acho que se deve, em partes, à máscara como símbolo. Parece mais legal como uma tatuagem do que apenas um rosto.”
Com sua sonoridade única e performances marcantes, Boris Brejcha se consolida há anos como um dos mais importantes DJs da cena underground, acumulando milhões de fãs mundo afora.
Em sua infância, esteve presente e se acidentou em um dos maiores desastres aéreos da história, em Ramstein, na Alemanha. O trauma fez parte de sua vida e moldou toda sua infância, influenciando até mesmo seu início como produtor musical.
O alemão, porém, não deixou que essa história tirasse seu bom humor e sua energia sempre tão contagiante. Seu carisma continua sendo um ponto forte, afinal seu objetivo com a música é sempre impactar positivamente a vida das pessoas.
A música tem um poder e uma força inconcebíveis. Para mim, pessoalmente, é remédio e me ajuda a curar. Eu também recebo esse feedback de alguns fãs. Isso é realmente bom. Você pode expressar todas as emoções com música ou processá-las enquanto a ouve. Isso é notável.”
Na vida de Boris Brejcha, parece não haver muita distância entre o momento em que conheceu a música eletrônica e o momento em que decidiu que precisava produzi-la.
Meu primeiro contato com a música eletrônica foi através de um colega de classe que trouxe um CD do Thundercome para a escola. Mesmo assim, eu queria saber como fazer esse novo tipo de música sozinho. E algum tempo depois percebi que não queria fazer mais nada, porque produzir música é o que mais gosto no mundo. E sou muito grato por poder transformar meu hobby em minha profissão.”
Durante seu desenvolvimento como produtor, e numa busca por fugir de rótulos, Boris decidiu batizar o gênero que produzia. Foi assim que surgiu o “High Tech Minimal”, que explora com maestria intensas linhas de baixo e melodias cativantes de forma minimalista e direta.
Confira abaixo a entrevista exclusiva completa:
Você não parece se importar muito com as tendências da indústria da música eletrônica. Você acha que esse é o motivo de sua sonoridade se sobressair e ser considerada tão única?
Boris: Pode ser isso. Espero que seja assim. Eu sempre quero ser influenciado pelo mínimo possível e, portanto, evito ouvir outras músicas eletrônicas. Eu tento fazer o meu trabalho o melhor possível e, na melhor das hipóteses, ser conhecido por isso. Para que apenas me destaque dos outros e não seja simplesmente intercambiável.
Então você não escuta música eletrônica quando não está trabalhando? Que outros gêneros musicais você gosta de ouvir?
Boris: Absolutamente não. Eu acredito que a música eletrônica não seja tão boa para lazer e relaxamento. É perfeita para festejar. Eu gosto de músicas diferentes. Adoro músicas de filmes, como por exemplo as do Hans Zimmer, mas também dos anos 80 e 90 ou Pop moderno, como The Weeknd.
Apesar de ter um estilo próprio, você já quis produzir outros gêneros? É algo que você faz no estúdio por diversão ou algo assim?
Boris: Sim, eu definitivamente gosto disso. Eu tento coisas diferentes de vez em quando, apenas por diversão. Se há algo que eu realmente goste, eu publico. Não quero me limitar.
Após despontar como produtor, Boris Brejcha começou, então, a discotecar, e o lugar que marcou o início de sua carreira como DJ é muito especial: o Brasil!
Boris: Isso foi absolutamente não intencional. Depois do meu primeiro lançamento, houve um convite do Brasil. Primeiro tive que aprender a tocar, porque não sabia que você poderia ser DJ e também produtor. Desde então, tenho uma forte conexão com a América do Sul e você pode ver isso na minha base de fãs.
Existe algo em particular na cultura brasileira, independente da música, que mais te atrai? E depois de se apresentar várias vezes aqui, você se sente um pouco brasileiro?
Boris: Aprecio especialmente as pessoas no Brasil e na América do Sul em geral. Eles são muito apaixonados, têm fogo e são sempre amigáveis. Quando eu vou para o Brasil, sempre me sinto um pouco como “voltar para casa”. Certamente permanece para sempre um vínculo especial.
Desde então sua visibilidade começou a crescer e se expandir, de maneira sólida. Aos poucos, na Europa era equivalente à que possuía na América do Sul e, logo, Boris Brejcha se tornou um dos nomes mais influentes da música eletrônica underground em todo o mundo.
Boris: Tomei conhecimento disso pela primeira vez quando tive um pequeno avanço na Alemanha, no meu próprio país. Também em momentos em que mais e mais pessoas se aproximaram de mim na rua e me reconheceram.
Foi questão de tempo para que o DJ se tornasse requisitado em eventos como o Tomorrowland Bélgica, que atrai multidões para as pistas.
Boris: Isso é impressionante todas as vezes. Claro, estou sempre muito animado antes dos shows e especialmente para os grandes. Uma vez que eu toco uma ou duas músicas, a emoção se vai e eu simplesmente aproveito. Em shows tão grandes, às vezes é difícil acreditar que tantas pessoas vieram apenas para me ver.
O que você normalmente faz quando não está produzindo ou tocando?
Boris: Gosto de cozinhar em casa com minha namorada, brincar com nosso gato, passear ou passar tempo com minha família. Eu também gosto de assistir filmes e ir à praia.
Quais foram os momentos mais incríveis da sua carreira? E o mais difícil? Quando você olha para trás, como vê suas conquistas e onde ainda pretende chegar?
Boris: Só para citar alguns, os sets no Cercle e a apresentação no Tomorrowland foram definitivamente grandes sucessos e momentos especiais dos quais estou muito orgulhoso e nunca me esquecerei. Essas coisas deram um grande impulso à minha carreira e sou muito grato por isso. Sempre houve pequenas dificuldades também, isso é certo. Mas nunca houve um momento em que duvidei por muito tempo. Felizmente!
Boris Brejcha é o nome por trás da máscara mística que impressiona multidões, mas também é aquele que leva supercola para caso ela quebre em algum show. É aquele que comanda fervorosas pistas como a do Tomorrowland, mas que também adora cozinhar com sua namorada e brincar com seu gato.
Boris é um dos mais influentes artistas do mundo no meio underground, mas também é gente como a gente. Dá aula quando o assunto é superação e torna a vida das pessoas mais leve através da música. Boris Brejcha é Vibez!