Curadoria artística em clubes de música eletrônica no Brasil é uma tarefa desafiadora que exige habilidades excepcionais de adaptação e flexibilidade. Encontrar um equilíbrio entre manter a qualidade musical e atender às demandas financeiras é um desafio constante.
O contexto econômico, com a moeda desvalorizada em comparação com o dólar, apresenta dificuldades adicionais para a contratação de artistas internacionais e a compra de equipamentos de alta qualidade. Estar localizado fora dos grandes centros metropolitanos também implica desafios logísticos e financeiros, desde a logística de viagens para artistas até o custo de transporte de equipamentos e cenários.
Além disso, o cenário musical está em constante mudança, com novas tendências e gêneros emergindo regularmente. A capacidade de antecipar e se adaptar a essas mudanças é crucial para manter a relevância e atrair um público diversificado.
A curadoria artística, portanto, requer uma mistura única de visão, criatividade e entendimento das preferências do público, especialmente quando se está distante dos centros de inovação musical. Esses desafios, embora imensos, também oferecem oportunidades para a inovação e a criação de espaços únicos e vibrantes no cenário musical brasileiro.
A evolução incessante da indústria da música eletrônica tem moldado de forma extraordinária a função do diretor artístico em clubes noturnos. Nesse contexto, a trajetória de Lucas Stiw no Bielle (Cascavel, Paraná), um clube com mais de 47 anos de história, oferece uma visão inigualável sobre os desafios e inovações desse cenário dinâmico.
À frente da curadoria artística desde 2012, Stiw tem conduzido o Bielle por transformações significativas, adotando estratégias arrojadas para manter a identidade única do local enquanto atende às demandas de um público diversificado e em constante mudança.
Quais elementos você considera essenciais ao assumir o papel de diretor artístico em um clube, em um cenário de constante evolução na indústria da música eletrônica?
Lucas Stiw: No caso de assumir o papel de diretor artístico em um clube, em um cenário em constante evolução na indústria da música eletrônica, são diversos os elementos essenciais para uma boa gestão e para superar desafios. Em 2012, iniciei minha jornada na curadoria artística do Bielle, um clube localizado fora dos grandes centros, que na época tinha capacidade para mais de 1200 pessoas. Enfrentamos dificuldades de logística, com valores mais altos em nossa cidade e pouca flexibilidade.
Por anos, estivemos fora do radar dos grandes artistas e seus empresários, limitados nos cachês que, nos últimos anos, aumentaram consideravelmente, tornando inviável eventos no clube. Isso impactou a cena clubbing do Brasil, com a diminuição da cultura dos clubes. Além disso, lidar com demandas de produção dentro do clube e as expectativas dos empresários/agências tem sido um desafio. O Bielle, com mais de 47 anos de história, já era consolidado no mercado da música eletrônica antes da minha posição de diretor artístico, pelo trabalho feito ao longo dos anos pelo Marcelo Carlesso – proprietário.
Após a pandemia, optamos por reduzir a capacidade para 500 pessoas e realizar eventos eletrônicos até duas vezes ao mês, anteriormente era semanal. A flexibilidade para abrir nas sextas-feiras facilita a negociação com grandes nomes da cena. Mantive bons relacionamentos ao longo dos anos, permitindo a realização de grandes eventos, desde nomes populares até artistas menos acessíveis. Vintage Culture e Mochakk são exemplos de artistas que apoiam a cena clubbing e se apresentaram em nosso palco.
Fazer leituras frequentes do mercado e do público, além de escutar suas opiniões, são práticas que adotamos. Nem sempre o que é popular em outras regiões é o que nosso público consome. O público de Cascavel é incrível, mas às vezes desafiador de entender. Busco trazer novos talentos para apresentar ao público, mas às vezes é frustrante quando a ideia não é bem recebida. Criar nossas próprias labels parties tem sido uma saída para envolver grupos de pessoas e fomentar a cena.
Outro desafio é encontrar nomes acessíveis no mercado que ainda não estejam com valores inacessíveis para clubes. Separar o gosto pessoal do que funciona é um dilema frequente. Após um 2023 bem-sucedido, agora enfrentamos o desafio de trazer artistas internacionais de volta ao nosso clube.
Quais estratégias ou abordagens você adota para garantir uma experiência memorável para os frequentadores, mantendo a identidade artística do local?
Lucas Stiw: Estratégias para criar uma experiência memorável para os frequentadores, mantendo a identidade artística do local, são fundamentais. Muitos frequentadores buscam grandes festas com os hits do momento. As labels parties se destacam como uma estratégia para oferecer diferentes experiências ao público, com decorações distintas e artistas emergentes, colaborando com parceiros locais para expandir nosso público.
Recentemente, organizamos um evento externo de aniversário do clube para proporcionar uma experiência inesquecível, mantendo nossa identidade clubber. Essa iniciativa foi um sucesso e planejamos repeti-la.
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