Toda vez que Alok se envolve em alguma coisa, a repercussão é macro, as reações são macro, e a análise sóbria fica esquecida. Em Brasília, para meio milhão de pessoas, mais uma vez a música eletrônica foi colocada na vitrine, em uma rua de enorme movimento, com destaque e muitas luzes. Logo nossa música, historicamente marginalizada, esquecida e colocada na sombra dos grandes palcos.
Nossa bolha costuma ser unida, ainda que com suas questões aqui e acolá, mas falamos sobre nossos ídolos e defendemos aquilo que amamos, mas o quão capazes somos de furar esse contexto? Se você perguntar para uma sala de aula de ensino médio sobre a House Music e sobre o Techno de Detroit, quantas mãos vão se levantar sinalizando positivamente a respeito? Poucas, né.
Temos pouquíssimas portas de entrada para novos adeptos. As crianças se desenvolvem ouvindo adultos dizendo que é “só de drogado” ou jargões criminosos repetidos exaustivamente até chegar ao status de verdade. Como colocar no ouvido de uma família um pouco das lindas músicas que nossa galera produz? A resposta é Esplanada dos Ministérios lotada, ao vivo no podcast mais famoso do Brasil, que já foi também exibida em rede nacional pela maior emissora do país.
A posição do trabalho de Alok é de embaixador do futuro. Ele é o amanhã operando no presente para desbravar um caminho que tá resistente em se abrir. Quando a excelência de seus produtos convence alguém a chegar mais perto, nem que seja para ver a impressionante pirâmide de 8 andares, é um coração novo que pode ser impactado pela música que ali será exibida.
Provavelmente, mais da metade desse meio milhão que lá esteve nunca tinha ouvido um BPMs tão rápidos, nem faça a mais remota ideia do que são as novas de Alok, mas certamente ele já ouviu alguns dos vários clássicos atemporais que pincelaram o set, com aparições rápidas e sutis, só pra criar um vínculo e gerar o sentimento de “hm, eu já ouvi isso”.
Depois, os drones vão causar uma grata surpresa, a imponência dos fogos, a interação com um artistas que domina plenamente a árdua tarefa da interação. Quando esse ilustre forasteiro notar, ele vai erguer seu celular com a luz acesa e gritar “Vale, Vale” ao lado dos outros milhares nessa mesma posição. Meia hora depois do show acabar, ele vai abrir o Spotify, ouvir uma ou outra e enfim ser amigo da música eletrônica.
Os que ainda insistem em críticas completamente vazias e vaidosas direcionadas a Alok sofrem de analfabetimos funcional-musical, já que não conseguem escapar por 2 segundos de seu próprio mundinho e notar que ele está dando a chance de mais gente entrar por essa porta que faz feliz a todos que aqui estamos. O desconhecido de hoje é o comprador de ingresso de amanhã. Ganha a indústria, ganha a cena, ganhamos nós, com mais festa, fomento e eventos poderosos.