Foto por Olivetti

Com mudanças estruturais, New Dance Order “estreia” no The Town com mais público e busca justificar sua existência

Se fosse um jogo de futebol, a plaquinha teria subido com a seguinte mensagem: ‘vai mudar!’. A segunda semana de The Town começou com importantes mudanças estruturais no palco New Dance Order, dedicado à música eletrônica. O pit deixou de existir – aquele espaço que fica como um corredor na pista, o que impacta diretamente com uma antiga suposta área VIP, que era uma região bloqueada com barreiras metálicas, mas que tinha acesso liberado.

Agora, a pista está inteiramente aberta, disponível e com visibilidade ao longo de muitos metros de grama sintética, proporcionando um “tapete” para que visitantes pudessem apreciar os shows enquanto descansam, comem ou tem um tempo de relaxamento – sempre importantíssimo em festivais que duram mais de 12 horas. Esse “novo” espaço trouxe fluxo à região isolada do NDO, que enfim deixou de ser só uma ovelha negra na Cidade da Música.

Ainda com poucas pessoas em todo o Autódromo, abrindo os trabalhos, o bom B3B entre Afterclap, Shigara e Xaxim começou a lembrar que o dia seria recheado de figuras tradicionais da música brasileira, não apenas eletrônica. Com bastante energia, cientes do papel que exerciam naquele momento, trouxeram nacionalismo positivos à pista com tons de cultura popular, passando suavemente por várias musicalidades tradicionais do nosso país. 

Já com a pista mais preenchida, o projeto live de Laércio, mais conhecido com L_cio, elevou o caráter artístico do palco. Com parcerias que passam por performances de danças e culminaram em sua mãe tocando piano, o talentoso produtor emocionou através da simplicidade e beleza do que fez. Tocou sua inconfundível flauta, estampou a felicidade nos olhos marejados e conduziu uma gostosa viagem por suas influências sonoras. Um show assistido por um bom público.

Apesar dos incômodos intervalos entre shows, Natasha Diggs encontrou ainda uma boa pista para tocar. De New York trouxe toda bagagem de suas residências e premiações para o palco do The Town e honrou o meme ‘fome de pistinha’. Promoveu um verdadeiro baile – com instrumentos de sopro ao vivo, balé, pirotecnia e muita intensidade. Mesmo concorrendo com The Chainsmokers no horário, conseguiu entreter o público e deixou caminho aberto para a lenda Kerri Chandler.

O que se espera do headliner da noite? É que ele entregou. Momento de maior público no New Dance Order, seu show foi uma volta no tempo, um desfile de clássicos da House Music – pelas mãos de um dos pais da vertente. Sem grandes estripulias visuais, manteve seu nome no telão durante toda a apresentação, pouco mexeu com qualquer outra coisa que não fosse seu teclado e sua controladora. Conectou-se com seus fãs através da única linguagem verdadeiramente universal, que é a música.

Por fim, lidando com os efeitos dos headliners do evento nos palcos principais, que ficam a doze quilômetros do NDO (brincadeira, mas poderia ser mais perto), o duo Shermanology, interessantíssimo com sua ideia de Tech House, raízes afro e muito groove, seguiu com os trabalhos em um show bastante colorido e intenso. Para encerrar a noite do The Town, já quando os demais palcos haviam parado suas atividades, a icônica festa paulista ODD trouxe alguns de seus principais nomes para fazer do The Town uma madrugada comum na maior cidade do país.

O festival não tratou a música eletrônica com o carinho que poderia, longe disso, mas mostrou disposição em diminuir os problemas de uma semana para a outra – é ao menos elogiável a vontade em fazer melhor. O que se viu lá abre precedente para ter fé que a nossa cena possa viver momentos mais iluminados nas próximas edições.