Essa construção sem precedentes e megalomaníaca não foi criada para abrigar nossos DJs preferidos, ao menos não tão cedo. Ela também não foi feita pensando em festivais, que nós tanto gostamos, mas ela foi feita para mudar os rumos do que se compreende como espaço visual para um espetáculo musical ou imagético.
Desde 2018, ergue-se no coração de Las Vegas um monumento completamente inédito, até certo ponto esquisito, e que beira o assustador. Selva de concreto que se resume em uma esfera de 111,557 metros de altura por 157.276 metros de largura, em uma composição de auditório que contraria a lógica de arquitetura, já que o perde-se espaço – mas esse não é um caso regular.
Durante longos e custosos 5 anos, a Populous e a Madison Square Garden Entertainment aplicaram esforços em um projeto que não contava com “jurisprudência artística” e tampouco com exemplos práticos a servirem como base. Essa jornada custou, além de uma coragem comovente, pouco mais de 11 bilhões de reais. Não é um erro de digitação, são bilhões, mesmo, com a letra bê.
O choque visual é brutal. Tive, este que vos escreve, um meet n greet com a jovem esfera brilhante, mas ela ainda era um emaranhado de ferro e cimento. Ainda assim, impressionava ver no meio de uma avenida icônica e colorida, mas com uma arquitetura que mais engraça com o clássico do que com o ultra-moderno. Apesar das luzes, o requinte fica por conta dos espelhos e do cintilante tom greco-romano dos prédios.
Hoje, 3 anos mais tarde, vejo – ainda apenas por vídeos e relatos – que ela é uma aberração luminosa, com tantos nits e pixels que esse texto não está disposto a calcular, um brilhareco fantástico no meio – não tão meio assim – da única rua do mundo que efetivamente desconhece o que é uma noite e o que é um dia. Faz sentido pleno que ela esteja exatamente nesta localização.
A já batizada Sphere at the Venetian Resort tem 164 mil alto-falantes e a maior tela de LED de todos os tempos, com ridículos 48.768 metros quadrados. Sopa de números que vocês podem ver melhor nos textos que gostam de dados. Nós gostamos mais de raciocínios, e de onde os números podem efetivamente nos levar. Você certamente viu imagens do show dos ótimos U2 lá, mas caso tenha sido congelado nos meses passados, fica aqui uma amostra.
O nosso mundinho aqui sabe que Anyma é esse estrondoso sucesso por conta de seus visuais que impactam, que encantam e fascinam, mas é preciso de um super telão para que a mágica se faça. Eric Prydz com Holo reside no mesmo espaço, que eleva o som para o aspecto sensorial, multiplicando seus efeitos e resultados. Quando a música extrapola o auditivo e ataca mais sentidos do corpo humano, ela é recebida de outra forma – reeditando o caminho do sucesso e do consumo.
Transporte, portanto, esses conceitos cada vez mais aplicados, para uma venue de tamanho poder. Projeções, 3D, 4D, conforto, modernidade e gigantismo. Qual é o resultado? Será que apenas nós, os de todos os dias, teríamos vontade de explorar e viver o que as composições digitais oferecem? Ou será que o jogo se altera completamente e coloca a música como passageira de uma viagem futurista?
O jogo está mudando de dentro para fora, das telas pequenas, que foram crescendo, atingindo novos formatos, cada vez maiores, até chegar no unicórnio de ser o espaço todo, uma tela. É a personificação dos filmes, da imersão absoluta, não à toa a Sphere exibe imagens em 16K, sim, 4 vezes mais do que sua televisão, e as cadeira contam com dispositivos de estímulo sensorial, a full version dos xexelentos “conheça o 8D”, que você viu no shopping.
Entendem o ignorante potência disso e de como é uma realidade ainda muito distante e cara, mas que pode mudar completamente o que entendemos como elite do entretenimento? O futuro já existe e está colocado em concreto e luz na Las Vegas Boulevard. Quem primeiro souber como escalar essa realidade de forma sustentável e não-bilionária, vai adquirir o bilhete dourado.