Like Mike, nome artístico de Michael Thivaios, é e sempre será uma das figuras mais reconhecíveis da música eletrônica global dos últimos 15 anos (ou mais). Nascido na Bélgica, filho de pais gregos, construiu ao lado do irmão Dimitri Vegas uma das duplas mais espetaculares, queridas e importantes da história da EDM, combinando big room, energia de estádio e uma relação direta com o público que ajudou a construir o formato de shows em grandes festivais. Like Mike sempre foi o comunicador da dupla: a voz, o carisma e o elemento humano sem controle, que falava o que queria, como achava certo.
No Brasil, essa conexão ganhou contornos históricos. Nos Tomorrowland Brasil de 2015 e 2016, em Itu, Like Mike protagonizou alguns dos momentos mais lembrados (fodas!) do festival ao se dirigir à multidão em português improvisado, eternizando o grito “vai, caraio” diante de dezenas de milhares de pessoas. Aqueles momentos, num ainda empoeirado Parque Maeda, fizeram a relação da dupla com o público brasileiro entrar num patamar bem especial, de intimidade, de afeto e de respeito.
Mas o mundo mudou, a música mudou, e ele também.
Like Mike atravessou diferentes fases junto com a cena. Do big room mais cru do início da década de 2010, passando por influências de electro house, hard dance e colaborações pop, a sonoridade da dupla acompanhou a transformação dos grandes festivais. Com o tempo, porém, tornou-se evidente uma diferença de interesses: enquanto o projeto seguiu atendendo à lógica dos palcos grandalhões, Mike passou a buscar outros caminhos criativos, menos presos à fórmula e mais conectados a processos autorais e experimentais.
Essa mudança também tem raízes pessoais. Ao longo dos anos, Like Mike falou abertamente sobre ter enfrentado um período de excessos e vícios, reflexo direto do ritmo intenso da indústria, das turnês ininterruptas e da pressão constante por performance. A superação desse momento marcou um ponto de virada importante, levando ao repensar da carreira, o modo de viver, de se expor e de se relacionar com a música.
Like Mike não é do hard. A gente nunca teve clareza, mas ele fez questão de desenhar.
Hoje, o ex-porra louca vive um novo capítulo. Mais reservado, menos presente nos palcos e nas redes, ele direciona energia para saúde, bem-estar e longevidade, ao mesmo tempo em que reconecta com o lado criativo de forma profunda, trabalhando em novos álbuns e ideias fora do ciclo do tudo pra ontem. Não é um desaparecimento, afinal, pudemos vê-lo num set solo no próprio Tomorrowland, mas tocando um Tech House discreto, sem estripulias e sem tocar no microfone. Diferente, né?
Eles tem direito de mudar, e de serem versões melhores de si (em suas próprias óticas). Like Mike é uma ótima memória, mas um novo artista.







