O que aconteceu na última noite da Field Club extrapolou o protocolo comum da música eletrônica. Quando FatSync tocou uma faixa do MØK durante seu set, o gesto deixou de ser apenas um suporte para se tornar um marco simbólico. A pista respondeu, os corpos se moveram, mas foi no palco que a cena ganhou densidade emocional. Não havia pose nem encenação. Havia reconhecimento.
Não foi só ouvir nossa música tocando. Foi sentir que alguém que admiramos de verdade acredita no que estamos construindo”, resume o duo.
O vídeo que circula nas redes mostra MØK e FatSync lado a lado, enquanto a track se espalha pelo club. A emoção estampada no rosto não é estética de palco. É o tipo de reação que só acontece quando uma obra atravessa a bolha e encontra validação real na pista. Em um meio onde tudo parece rápido e descartável, aquele momento desacelerou o tempo.
Antes de virar cena de club, a história passou pelo campo mais íntimo. A notícia do suporte chegou fora do palco, e Kesz chorou ao verbalizar algo que raramente se diz em voz alta. Construir uma carreira na música eletrônica é difícil, solitário e cheio de dúvidas. Quando um artista consolidado escolhe tocar sua música, o impacto vai além da visibilidade.
A carreira é difícil. A gente se questiona o tempo todo. Quando um nome grande acredita em uma música autoral, isso pesa. E, ao mesmo tempo, cura por dentro”, disse, emocionada.
No meio da pista, durante a noite, o synth entrou e o reconhecimento foi imediato. “É a nossa.” Não houve anúncio nem explicação. A galera entendeu sozinha. Ali, um ciclo se fechava. O MØK havia aberto o ano como atração da primeira edição da Field Club e encerrava a temporada recebendo esse suporte no último rolê do espaço.
A narrativa ganhou ainda mais força com outro sinal: Lemex, tocou a “Time”, colaboração do MØK com ShalomTeck, em uma apresentação, mostrando que pequenos gestos, somados, constroem trajetórias sólidas.
Por trás do projeto MØK está um duo curitibano formado por Marcelo Junior e Ketlyn Sibert. Um casal unido por coincidências que parecem roteiro. Eles se conheceram no mesmo local onde os pais de Marcelo haviam se conhecido anos antes. A música veio depois, mas o encontro parecia já estar escrito.
A entrada na cena eletrônica nasceu de um momento de dor profunda. Após a perda de um familiar muito próximo, a música se tornou válvula de escape. Foi em um set de Vitor Lou que algo mudou.
Aquele set nos permitiu liberar emoções que estavam presas. Ali começou um processo de cura. Depois disso, entendemos que, se a música conseguiu nos resgatar, talvez pudéssemos fazer o mesmo por outras pessoas.” contam.
Essa visão molda a forma como o MØK se apresenta. Cada set é pensado como uma narrativa emocional, não apenas como sequência de faixas. “Tentamos contar uma história. Escolher músicas que se conectem com o que estamos vivendo e com o que o público pode estar sentindo naquele momento, seja alegria, dor, luto ou euforia.”
Embora o primeiro single independente tenha sido lançado em 2023, a relação com a música vem da infância. Ketlyn cantava na igreja desde pequena. Marcelo tocava baixo. Experiências distintas que hoje se cruzam na pista, transformadas em groove, melodia e intenção.
As influências são amplas e refletem essa diversidade. Jamie Jones, Mochakk, FatSync, a energia de palco de Tita Lau e referências como Special M aparecem como pontos de diálogo, mas não como molde. Atualmente, o duo busca sair da obviedade, misturando minimal bass com elementos de disco music e soul.
Essa pesquisa sonora se materializa em “House Is a Feeling”, faixa ainda não lançada oficialmente nem assinada por nenhuma gravadora, mas já marcada pelo suporte de FatSync. A música mistura minimal e house, com baixo marcado, groove orgânico e vocal expressivo.
A letra reflete exatamente o que queremos trazer com o projeto. House não é só um estilo. É um sentimento, um estado de espírito. Encerrar o ano recebendo esse suporte reforça que o empenho e a dedicação estão começando a gerar frutos.” explicam.
Ao longo da trajetória, alguns momentos se destacam como pilares dessa construção. Apresentações na TNT Open Air, no Park Art, e na Field Club, dividindo line-ups com grandes nomes da cena. O suporte de Lemex em “Time”. Charts no Beatport com faixas como “Kombat Mode” e “Meu Telefone”, esta com participação de MC GW. A final no contest para abertura do show do Alok no projeto Keep Art Human. E agora, o reconhecimento vindo de FatSync, referência direta para a cena do Sul do Brasil.
Os próximos passos já apontam para novos territórios. Em janeiro, o MØK lança seu primeiro single por uma gravadora internacional. “In The Back” sai pela canadense Dopamine Machine, abrindo uma fase que se estende com outros lançamentos programados para 2026.
No fim, o que ficou daquela noite na Field Club não foi apenas um vídeo ou um nome tocando outro nome. Foi a música cumprindo sua função mais essencial. Conectar pessoas, legitimar sonhos e transformar silêncio em emoção compartilhada.







