A trajetória musical pode ser recente, com pouco mais de dois anos separando seus primeiros lançamentos do atual e promissor momento em que se encontra. Mas, não há como negar que Class Sick tem construído seu nome na cena eletrônica nacional, se destacando como um prodígio e conquistando feitos significantes.
Criado a partir da mente criativa do multi-instrumentista e produtor musical, Gabriel Regis, o projeto Class Sick surgiu se pautando nas batidas elegantes (class) e iradas (sick) do Tech House, mas seguindo uma linha diferenciada ao implementar referências do Blues, Funk Soul com toques do Garage e London Tech House.
A partir dessa identidade sonora que transmite sua personalidade e inspirações refinadas, Class Sick rapidamente conquistou labels renomadas do estilo, como CUFF, Rawthentic e TORO, além de grandes nomes que passaram a prestar atenção aos seus passos.
A propósito, essa é uma das pautas desta matéria, já que o brasileiro acaba de lançar a faixa que conquistou Michael Bibi, Mochakk, Dennis Cruz, Marcellus (UK). “Freak Like Me” chegou às plataformas no dia 07 de julho e se apresenta como divisor de águas de suas carreira, já que além de ter recebido suporte desses artistas renomados, também marca a estreia de sua própria label, a Omeric Riddms.
Com tantas movimentações e novidades chegando, não poderíamos deixar de convidá-lo para uma entrevista exclusiva sobre este momento da carreira. Confira o bate-papo:
Olá, Gabriel! Seja bem-vindo à EletroVibez, é um prazer te receber aqui. Para que o nosso público conheça um pouco mais sobre você, conta para a gente como aconteceu esse envolvimento com o universo da música eletrônica? O que te trouxe até aqui?
R: Ei, o prazer é todo meu! Eu sempre estive muito com a música, tocava saxofone na igreja desde os meus 11 anos de idade. Logo fui me aprofundando na musicalidade e aprendendo outros instrumentos, isso me deu uma ótima base na música. Eu sempre gostei de tocar, mas eu era apaixonado por criar arranjos, organizar a banda pra fazer uma nota específica num momento específico, enfim, mexer na música de alguma forma.
Quando comecei a ouvir as primeiras músicas do universo eletrônico, Skrillex, Martin Garrix entre outros, curti muito como a música era feita e comecei em meados de 2013 a tentar fazer algo no Fl studio na época. As músicas são horrorosas, eu fazia só pra passar o tempo, pode se dizer que sempre fui um nerd, acho que uma das melhores junções de um nerd músico é ser DJ (risos).
Depois dessa época de diversão e experimentos, fui buscar fazer uma faculdade. Fui pra Argentina estudar medicina em 2016, e depois voltei, não era aquilo que eu pensava que seria. Então 2 anos depois, em 2018, passei em economia numa universidade federal em Vitória-ES.
Odiei a faculdade, não era aquilo também, mas ao longo do ano fui estudando e me aprofundando na cena como expectador e ao mesmo tempo voltei a produzir. Produzia em um computador, sem fones e sem nada, só ouvindo o auto-falante do PC na época, era o que tinha. Enfim, em 2019 decidi levar a música como profissão e tentar a sorte. Estudei bastante, até que em 2021 eu lancei meu projeto, Class Sick. E começa a partir daí.
Como Class Sick são poucos anos de projeto, mas a gente observa que você vem em uma ascensão surpreendente. Como você analisa esse crescimento exponencial? Você imagina chegar neste momento de assinar com grandes labels, receber suportes de nomes relevantes e até inaugurar o próprio selo tão rápido?
R: Acho que toda experiência que adquiri no caminho até chegar ao “Class Sick” me ajudou muito. Foi um misto de determinação e um pouco de sorte também. Eu não imaginava que a cena ia virar tão forte pro estilo que eu amava produzir, foram questão de 2 anos pra artistas como o Beltran, por exemplo, começarem e hoje estarem tocando mundo afora.
Devo muito disso às pessoas que me acompanharam nesse trajeto. O Class Sick é um time hoje, graças a todas essas pessoas que acreditam em mim e no meu trabalho. Mas minhas ambições são bem maiores e digo no bom sentido, claro. Nosso selo está apenas começando e eu e meu sócio, Sávio (BMAGE), temos grandes planos para o futuro dos nossos projetos.
Agora, focando neste teu atual lançamento. Como foi o processo criativo de “Freak Like Me”? Quais elementos você buscou ressaltar nessa track e qual a proposta que você buscou aplicar neste trabalho?
R: Acho que a Freak Like Me, é uma junção de tudo que eu escuto e produzo. É um projeto totalmente autêntico, pode-se dizer que o elemento principal da faixa é o sintetizador agudo que começa a partir do 1:30. Resolvi fazer algo assim pois na época em que fiz ela estava apaixonado pela track “Azari & III – Hungry For The Power (Jamie Jones Ridge Street Remix)”, daí que vem a inspiração desse timbre, completamente alucinante que chega a incomodar os ouvidos. Se você não estiver preparado na pista pode até ser um pouco “claustrofóbico”, mas se você estiver na vibe isso aí te leva pra outro universo, um universo só seu. A freak like me tem essa mesma proposta! Envolver.
A faixa saiu só agora, mas desde o ano passado vem recebendo suportes significativos. Conta um pouco para a gente como tudo aconteceu…
R: Essa faixa seria mais um dos meus Free Downloads, até que um amigo meu me deu um feedback nela dizendo que ela estava muito boa pra mandar pros big names, pra eu dar uma segurada nela e ver se conseguia uns suportes. Daí finalizei a faixa e enviei para alguns deles, lembro que foi uma quarta a noite, e no outro dia seria a última apresentação do Bibi no final do DC-10 em Ibiza.
Mandei algumas tracks pra ele nessa época, estava até meio desacreditado do meu projeto, mas na manhã seguinte fui surpreendido com várias mensagens no meu instagram, de amigos que tinha enviado a track como promo, mostrando um vídeo do Michael Bibi tocando a faixa.
Fiquei extasiado, parado no corredor da minha casa, por uns 20 minutos. Sempre foi um grande sonho meu ter um dos meus sons tocado pelo Bibi. Em 2020 eu tinha até mandado uma mensagem na DM do instagram dele dizendo “te amo bro, meu sonho é ter um dos meus sons tocados por você, e eu vou fazer isso acontecer”.
Então muito mais do que receber suporte, isso foi uma realização pessoal ímpar pra mim. Logo em seguida vieram cada vez mais suportes, Dennis Cruz, Mochakk, Carlo Lio… ver essas lendas tocando meu som é absurdo pra mim. Não paravam de chegar mensagens perguntando quando a música seria lançada, e vídeo da track sendo tocada mundo afora.
Os suportes já deixam o lançamento dessa faixa bem especial, mas ela também inaugura a sua label, Omeric Riddms. Como surgiu a ideia de criar o seu próprio selo? O que te motiva a investir também em uma gravadora?
R: Acho que surge da necessidade de poder lançar nosso som, sem ter que me enquadrar em uma estética específica e ficar refém de labels. Eu e meus amigos temos músicas excepcionais mas que seriam difíceis de se enquadrar em labels, não pela qualidade e pela ideia, mas por uma questão puramente estética.
Sons mais introspectivos não tem muito espaço nas labels, a maioria delas está visando venda de tracks, e a maioria de DJs não sabe a magia que é ter um momento introspectivo no set, isso conquista a pista de uma forma ímpar.
Acredito que ser DJ não é só fazer a galera pular e entrar em êxtase toda hora, mas proporcionar momentos mais psicodélicos e de mais introspecção. Quem nunca fechou os olhos e entrou em um mundo só seu? Em que você se sente livre, pra dançar como quiser e ter seu momento ali? É mágico! E é isso que eu amo fazer e ver a galera fazendo na pista.
Omeric Riddms é um nome bem diferenciado e também vimos que a identidade visual tá bem interessante. Como você chegou a esse nome e qual conceito você está trazendo? Compartilha um pouco das ideias que serão abraçadas pelo selo, tanto na sonoridade quanto visualmente.
R: Sim, a ideia do nome era exatamente essa, soar quase como um nome próprio. Isso traz identidade para marca e um significado diferente pras palavras que foram empregadas no nosso nome. A primeira palavra, Homérico, foi dita várias vezes quando descrevemos como queríamos que fossem nossas festas e eventos. Essa palavra ficou gravada na minha cabeça na época, e eu percebi que ela havia nos escolhido e não o contrário.
Tinha de ter essa palavra no nome, então apenas traduzimos e adequamos a escrita. Riddims veio logo após, é uma variação da palavra “Rhythm” e também um estilo de música jamaicana, soa quase como um reggae mais rápido eu diria. Dá um complemento pra primeira palavra e traz mais pro nosso meio, “Ritmos Homéricos”, é basicamente isso. Adequamos também e tiramos a letra “i” pra grafia ficar melhor.
A nossa proposta é trazer nossa assinatura à cena. Como eu disse, sinto falta de gravadoras que tem uma boa receptividade pra sons mais introspectivos. Vimos esse buraco na cena, uma escassez de gravadoras e uma vasta gama de ótimos produtores fazendo ótimos sons. A proposta da label é ter nosso time de artistas, em que cada artista mostra sua estética, e automaticamente a da gravadora.
O que podemos esperar da Omeric Riddms? Quais são os planos a curto e longo prazo com a label? Algum spoiler ou novidade que você já pode nos adiantar?
R: Omeric Riddms vai funcionar bem como um núcleo. Queremos atuar em várias frentes, eventos, vestuário e arte, tudo isso visando o universo clubber, o que se conecta muito com nossa identidade sonora. Vamos fazendo as coisas aos poucos, o foco principal agora é consolidar a gravadora e fazer as pessoas entenderem nossa proposta, mas já estamos trabalhando em uma collab com uma marca de roupas pras nossa primeira coleção, que será lançada provavelmente no nosso primeiro showcase.
Queremos fazer nosso primeiro evento ainda esse ano, em um formato um tanto quanto ousado, unindo tudo nesse evento e proporcionando uma experiência diferente.
Fora isso, atuamos também com discos em vinil e trabalharemos com pouquíssimas unidades, visando o mercado de colecionadores e apreciadores da arte. Um dos principais objetivos da nossa nova marca é a integração, queremos ser quase como um clube, de DJs, artistas, stylists e tudo que engloba nosso mundo.
A gente também ficou sabendo que você tem lançamentos agendados com outros labels de peso. O que vem por aí?
R: Após a Freak Like Me virá um EP com duas músicas pra label, “Fresh Baked”. Depois terei alguns releases em labels como: Issues, Nervous, Delicious e Rawthentic. Minha próxima aposta é nesse EP da Rawthentic. Eu o Carlo e o Nathan estamos trabalhando há um tempo nesse release e estou mandando faixas pra curadoria deles desde o ano passado.
A seleção está muito bem feita e uma das tracks considero a minha melhor faixa, sem tirar crédito dos outros lançamentos, claro. Cada um mostra um pedacinho do que é o Class Sick, e um pouco da minha jornada na música.
Para finalizarmos, quais são os seus próximos passos como Class Sick? Muito obrigada pelo papo!
R: Eu que agradeço pelo papo e pelo espaço, o prazer foi todo meu. Pros próximos passos, posso adiantar sobre a minha participação com o BMAGE no Warung Tour, na Chapada dos Guimarães – MT. Fiquem de olho também na Catcity, estamos preparando algo grande pros próximos meses. Enfim, pode-se esperar muito do Class Sick pros próximos meses! Um abraço pra toda equipe da EletroVibez e mais uma vez obrigado!
Acompanhe Class Sick e Omeric Riddms no Instagram.
Por Nicolle Prado