Ele teve um encontro com Deus, que era seu vizinho naquele tempo. Convidou o ilustríssimo para um café, trocou experiências e ainda fez um som. David Bowie para o mundo, mas Deus para o careca de olhos assustados e um brilho discreto. Num confortável apartamento em Manhattan, Moby recebeu uma visita, num dia qualquer. Era Bowie, dizendo que seria seu companheiro de bairro.
O ilustre desconhecido que o condomínio todo olhava com uma natural indiferença, não se abala com os hábitos discretos. Amante da ioga, das corridas e do veganismo, ele não quer acordar depois das 7 da manhã e, tampouco, dormir depois das 10 da noite. Depois de uma vida de filme – de ação e de drama -, Moby quer tocar clássicos do rock, ao lado de amigos, em uma noite fria, na varanda de sua casa.
Nem sempre foi assim.
Moby era figura proeminente dos espaços diminutos e sem tanto holofote. Ele começou a frequentar esses eventos e pegou gosto pelo rock. Não demorou a criar uma banda, com alguns amigos. Tocou o punk, mas foi trash morar num galpão abandonado. Sorte que a música eletrônica entrou em seu caminho e ele soube aproveitar. Aprendeu a tocar, a produzir, e foi, pouco a pouco, unindo suas paixões.
De sua mãe, carregou o espírito hippie, mas, da vida, a ojeriza à embriaguez. Há 20 anos sóbrio, de qualquer tipo de substância, Moby vive uma outra história, muitos BPMs abaixo do que foi outrora. Hoje, ele tem um documentário autobiográfico a ser lançado, além de um álbum de releituras de seus próprios sucessos.
Para efeito de veemência, nas gravações, o DJ entrou em uma loja de bebidas, em Vegas, cercado de câmeras, para comprar água. O vendedor, sem reconhecê-lo, perguntou ‘quem era a pessoa importante ali?’ Do lado de fora, um helicóptero esperava pelo careca de óculos e poucos músculos.
Sou só um careca que usa óculos. O mundo está cheio de caras assim. E todos parecemos iguais.”
Aos 55 anos, esbanjando paz – mas com uma boa dose de dores, sabe que sua vida não foi uma história entediante. Venceu, mas conviveu com uma depressão, sentiu e sofreu o vício em drogas e álcool, pensou em interromper a carreira, e quase interrompeu a vida. Se sente aliviado por ter falhado na missão e ganho de presente a chance de seguir nesse mundo, que ele vê com carinho.
Sabe e confessa o desafio, mas não se sente preparado para partir. Ele prefere celebrar, mesmo depois de acariciar a morte. E, celebrando, ele trabalha. Em 2016, Moby lançou um livro de memórias e memórias que não presenciaram o funeral de sua mãe. Não, ele não foi se despedir do maior amor de sua vida. E justamente por não estar são. Ele vinha dormindo alcoolizado e não esteve em condições de dizer adeus. Não à toa, ele mudou de vida para sempre.
Hoje, Moby é trabalho, como sempre, mas é consciência, calma e ar fresco. O sujeito que medita e caminha todos os dias, que conversa com Pedro Bial, num programa de entrevistas brasileiro e conta sobre seus novos momentos e que protagoniza um documentário, o Moby Doc, e um álbum lindíssimo de releituras… de seus próprios sucessos. Moby é esse tipo de pessoa. Especial por ser incrivelmente normal, comum, dolorido e brilhante.
Ouça abaixo seu mais recente trabalho, o álbum de reprises e releituras de seus próprios hits, feitos em conjunto uma orquestra, lançado em 2021: