Imagine a situação: você, produtor, gasta meses, cria mil opções, constrói, refaz, pensa, desfaz, repensa e desenvolve um imenso trabalho diário para dar vida para um som. Quando tudo se encaixa, surge alguém que grava seu trabalho, a partir de uma live ou um set especial, e divulga para todo mundo antes que o som seja oficialmente lançado com um contrato, com uma gravadora e, naturalmente, com as legalidades burocráticas para que, você, produtor, possa ser recompensado pelo trabalho. É justo que você perca todo o esforço despendido? Não, né?!
Foi essa a situação levantada por Lukas Ruiz, o nosso Vintage Culture, na manhã desta terça (28). Em seu perfil no Instagram, o fenômeno brasileiro trouxe à pauta essa discussão sobre os chamados ‘ripadores’, pessoas que, com intenções duvidosas, gravam e publicam os sons que ainda não foram lançados. Na mensagem, Vintage contou que encontrou no aplicativo Spotify algumas músicas que não foram lançadas.
Indignado, ele atendeu nossa reportagem e, perguntado pelo repórter Leonardo Nascimento, comentou sobre a polêmica das ripagens:
Isso é uma coisa que acontece há muito tempo. Eu já tive vários lançamentos prejudicados. A gente faz a música com todo amor e carinho, quer tocar porque a gente gastou tempo, né? Queremos mostrar, mas pessoas, na boa e na má, ou melhor, na boa não tem como ser, afinal se as pessoas gostam da música, querem ouvir, mas preferem ripar e colocar na internet, é querer se promover com o trabalho do outro. Acontece muito. Gravar para ouvir em casa, ok, mas estragar o lançamento, não. Eu, inclusive, tive dois ou três lançamentos que foram muito prejudicados por causa de ripadores, por isso eu digo: ‘não aos ripadores!”
A fala de Lukas corrobora as imagens por ele trazidas em suas postagens. Um perfil chamado ‘Eletro2k20’ fez upload de músicas não só pertencentes à marca Vintage Culture, como também a outros vários artistas. Para promover a discussão, a reportagem da Eletro Vibez procurou o DJ e produtor Bruno Furlan para debater a questão dos ripadores e o quão esses atos são prejudiciais.
“Existem os pontos positivos e os pontos negativos sobre o ripamento de uma música. O ponto positivo é que o artista passa a ter uma visão ampla, ainda que virtual, sobre o quão promissora pode ser a música que foi vazada, para que depois de liberada em todas as plataformas, seja em uma gravadora ou um lançamento gratuito, já se imagine e prospecte os resultado com base na repercussão que teve e o consequente desejo que causou nas pessoas.
Lado ruim, que, pra mim, é o maior e mais prejudicial, é o fato do artista poder perder o lançamento em uma gravadora, e também contrato, visto que o som, a música, já vazou de alguma forma. Ainda tem o lado da pirataria que não deixa de ser o lado menos importante, porque vai o trabalho do artista, vai tempo de dedicação, vai investimento, todo trabalho de marketing, publicidade, estúdio, masterização, equipamento e tudo acaba perdendo valor.
Inclusive, há todo um trabalho de pós-produção também. Investimento de aftermovie com captação de vídeo, de fotos, de rede social. Tem um investimento grande por trás disso que cada artista se empenha para dar o melhor ao público e para sua carreira, consequentemente para a agência, para o contratante e para a gravadora. Mas o ‘ripar a música’ acaba sendo prejudicial para todos. Seria melhor se pessoas aguardassem o lançamento ou comprassem oficialmente as nossas produções.”
Fato é que uma atitude, talvez, nem tão mal intencionada, quem sabe apaixonada, de gravar uma música que encantou o coração, acaba sendo uma atitude torpe para o artista que cada um de nós mais gosta. O ato impensado pode acarretar em quebra de contrato, em todo o tipo de prejuízo inimaginável.
Há também aqueles que fazem pelo simples fato de autopromoção com o esforço alheio. E cabe a nós, também, não consumir, não ajudar e, sempre que possível, denunciar quando um som foi ripado. Pelo bem dos nossos artistas, pelo bem da nossa comunidade.