Drum and Bossa – O legado do Drum and Bass na cena musical brasileira (parte 2)

Entenda a importância do Drum and Bass para a cena eletrônica brasileira e conheça seus principais produtores e DJs!

O termo “Drum and Bossa” foi muito utilizado para se referir à mistura do Drum and Bass com a MPB, mistura que ajudou a mirar os holofotes do mercado na cena, porém, ele não se limita ao DnB e foi bastante empregado para tanger composições brasileiras que apresentavam algum tipo de característica eletrônica. Marcos Valle, importante artista da MPB, usou o termo Drum and Bossa para dar nome ao estilo de várias de suas canções que não possuíam características de Drum and Bass. 

Por outro lado, Marcos Valle também lançou faixas com a personalidade do gênero, incluindo um álbum de remixes explicativamente intitulado de “Drum and Bass”. Ainda temos como exemplo a cantora Bebei Gilberto, que lançou o disco “Tanto Tempo Remixes”, em 2001, apresentando várias Drum and Bossas. Releituras eletrônicas de “Bananeira”, “Samba da benção” e “Samba de verão”. 

Vemos também em 2000 a cantora, produtora e compositora Fernanda Porto lançando seu primeiro disco, inteiramente baseado no Drum and Bass, sendo que o sucesso das músicas “Sambassim” e a releitura de “Só tinha de ser com você” proporcionou um reconhecimento importante no mercado, diferenciando-a de tudo que tinha sido lançado antes no Brasil.

E se enganam aqueles que pensam que o nosso querido Brazilian Drum and Bass se limita à mistura das batidas quebradas com o MPB, muito pelo contrário, o som que saia daqui era diferente daqueles que saíam da Europa, mesmo sem vincular com músicas brasileiras, o nosso som tinha uma personalidade brasileira. O DJ Andy já afirmava: 

Mesmo sem tocarmos gêneros originalmente Brasileiros como a Bossa Nova, nós temos um swing, que é uma coisa da nossa cultura, e que nos diferencia dos estrangeiros.”

O nosso Drum and Bass havia se consolidado, nacional e internacionalmente, atraindo a atenção do mundo inteiro para que os nossos DJs, vindo em sua grande maioria das periferias de São Paulo, estavam fazendo.

A ATENÇÃO EM DECLÍNIO

Nós vivemos em um cenário musical multifacetado, e quanto mais os anos se passam, mais rápido uma música ou estilo se torna obsoleto. Gêneros musicais como o Techno e Drum and Bass tiveram, durante muito tempo, a atenção da mídia e do público comum, muitas pessoas frequentavam os clubes e escutavam as músicas pois era uma coisa de momento, como disse o operador de xerox Eduardo Veiga, 17, “Antes eu era rapper, mas ser ‘clóber’ é mais da hora” em entrevista para a Folha de São Paulo, em 98. 

Claro que existem aqueles para os quais esse estilo nunca foi “só uma fase”, e foram eles quem deram origem à cena e quem a mantém viva até hoje. Existem aqueles que argumentam que o “Drum and Bass morreu’’ pelo simples fato de não estarem tanto em evidência quanto antigamente, mas eu lhe pergunto, seguindo esse mesmo raciocínio, o Jazz e Música Clássica também morreram? Muito pelo contrário, essas cenas continuam vivas e riquíssimas para quem ama e vai atrás. Por isso que nós sempre frisamos a importância de se sair da sua zona de conforto, ouvir além do que se toca na rádio, procurar entender e conhecer estilos novos. 

O BRAZILIAN DRUM AND BASS NA ATUALIDADE

O Drum and Bass se encontra em um momento fora de evidência na cena brasileira, fato motivado pelas constantes transformações culturais no país, mas isso não significa que a cena não exista e não tenham pessoas batalhando pela difusão do estilo no Brasil e no mundo: 

DJ Andy, já citado anteriormente, foi um dos mais importantes precursores do movimento no país, com quase 30 anos de experiência nas pistas. Ele continua na ativa ministrando o único curso de produção musical voltado para o Drum and Bass no país, formando talentos que irão compor a nova geração das batidas quebradas no Brasil. 

DJ Marky, um dos, senão o maior, responsável pela difusão do estilo no país, foi o primeiro DJ brasileiro a consolidar uma carreira internacional e espalhar um suíngue brasileiro pelo mundo. Apesar de não se apresentar muito no Brasil, o DJ e produtor continua lançando músicas em renomadas gravadoras e acumulando gigs em festivais ao redor do mundo. 

DJ Patife, juntamente com Marky, é um dos padrinhos do Drum and Bass e sem sombra de dúvidas o responsável por um trabalho impecável de desenvolvimento do estilo no Brasil, não só como DJ e produtor, mas também com a promoção de festas e difusão cultural. Assim como Marky, continua com uma carreira sólida no exterior, emplacando grandes lançamentos e shows. 

Urbandawn, artista assinado da Hospital Records, uma das mais renomadas gravadoras com foco em Drum and Bass do mundo, representa muito bem a nova geração do estilo no país. Com grande reconhecimento internacional, conta com colaborações com artistas como Netsky, Zeds Dead, Hybrid Minds, Pierce Fulton, Keeno, entre vários outros. Em conversa com a Eletro Vibez, ele mencionou outros grandes artistas brasileiros que estão levando o Brazilian Drum and Bass ao mundo, entre eles: Alibi, L-Side, SPY, Andrezz e Critycal Dub. 

Quando falamos da importância de se conhecer novos estilos e buscar referências que fogem do óbvio, Lukas Ruiz, nosso querido Vintage Culture, é mestre nisso: durante a Digital Week 27 (28/03/2021) ele e Meca mostraram interesse no estilo ao tocar algumas faixas de Drum and Bass, incluindo a LK, colaboração de DJ Marky, com XRS e Stamina MC, com vocais em português e elementos do MPB. 

Fugindo da esfera da música eletrônica, a cantora e compositora Pabllo Vittar lançou a track ULTRA SOM, produzida pelo grupo BMT, que, indiscutivelmente, é um Drum and Bass, mostrando que não há limites nem fronteiras para a música! 

A IMPORTÂNCIA DO DRUM AND BASS PARA A CENA ELETRÔNICA BRASILEIRA

O Drum and Bass teve um papel crucial para o desenvolvimento da cena eletrônica no Brasil, ele permitiu que o movimento considerado “Underground” pudesse florescer. Em um contexto onde ninguém sabia o que era um DJ e desvalorizavam qualquer coisa que não fosse uma banda, ou uma orquestra visível, surge a orquestra invisível do Seu Oswaldo, que apesar de não tocar Drum and Bass, foi um ponto de partida para que mais pessoas se interessassem pelo trabalho do Disc Jockey. 

O movimento de aceitação dos DJs seguiu um caminho claro, da periferia e dos guetos para os grandes centros urbanos, e muito disso se deve ao trabalho de Marky, Patife, Ramilson Maia, entre outros que viraram referência para velhas e novas gerações. Adolescentes que antes sonhavam em tocar guitarra, passaram a se interessar pelos toca discos, se hoje temos toda uma nova geração de talentosos DJs, isso se deve ao fato de que esses pioneiros seguiram uma longa e tortuosa trilha que permitiu o nascimento de uma cena eletrônica no país. 

Além disso, a partir do movimento do Drum and Bass, as pessoas passaram a frequentar os clubes para ver o trabalho do DJ, e não só ouvir música. Muito disso foi graças ao DJ Marky, que encantou multidões por onde passou com a sua maestria nos toca discos, mudando completamente o contato do DJ com o público, e isso levou os Disc Jockeys para espaços nunca antes imaginados, uma transformação cultural que veio para ficar. 

Modas vêm e vão, mas música boa é pra sempre! As batidas quebradas podem não estar na alta que vimos no final dos anos 90, início dos anos 00, mas com um pouco de curiosidade e pesquisa podemos conhecer esse som que revolucionou a música como um todo e foi responsável pela existência da nossa cultura da música eletrônica!