Originário da cidade de Berlim, na Alemanha, o Trance – termo utilizado pela primeira vez por volta dos anos 80 – surgiu como uma espécie de variante mais melódica e emocional do Techno, adicionando a este, timbres e sonoridades imersivas, capazes de causar uma sensação de “transe” em seus ouvintes.
No início da década de 90, impulsionado pelo desenvolvimento da cultura rave londrina, o estilo expandiu seu alcance, muito em virtude de nomes como, Jam & Spoon, Paul van Dyk, Cosmic Gate, Paul Oakenfold e Sven Väth, e do surgimento dos primeiros clássicos do gênero: “Age of Love” do Age of Love, e “Cafe del Mar” do Energy 52.
Apresentando uma capacidade de constante evolução, variações do tema foram surgindo ao longo do tempo, incorporando características e sonoridades de outros estilos da música eletrônica, originando assim os subgêneros: Progressive Trance, Hard Trance, Uplifting, Psy e Vocal Trance.
Na virada do século XX, nomes como os de, Armin van Buuren, Tiësto, Ferry Corsten, Aly & Fila, Cosmic Gate e Above & Beyond, elevaram o Trance ao patamar de gênero mais popular da Dance Music, enfileirando hits, prêmios e apresentações históricas nos principais festivais da época.
Porém, a partir do nascimento e do crescimento da EDM, o Trance iniciou um processo de declínio, perdendo alguns dos seus principais representantes para a nova vertente, enquanto outros permaneceram fiéis ao estilo, mas sem a mesma força de outrora.
A seguir, vamos abordar a trajetória de quatro representantes da época de ouro do gênero, acompanhando sua evolução sonora ao longo das últimas três décadas, além da influência perante a nova geração de DJs e produtores na música eletrônica.
Cosmic Gate
Os alemães, Claus Terhoeven (Nic Chagall) e Stefan Bossems (Bossi), formaram o Cosmic Gate em 1997, e dois anos mais tarde lançaram seu primeiro single, “The Drums”, faixa esta que apostava no Hard Trance como estilo predominante.
Foi com o lançamento de “Fire Wire” em 2001, que o som da dupla despertou a atenção do público e crítica, conquistando pela primeira vez posições de destaque nos principais charts e clubes do Velho Continente.
Os dois primeiros álbuns, “Rhythm and Drums (2001)” e “No More Sleep (2002)”, ainda mantinham o Hard Trance em evidência, algo que foi gradativamente deixado de lado a partir de “Earth Mover (2006)”, terceiro disco da dupla, o qual traria uma sonoridade mais progressiva, diminuindo consideravelmente os bpm’s e apostando em belos vocais na construção de canções emblemáticas como, “Should’ve Know” e “A Day That Fades”.
Essa fórmula foi aperfeiçoada nos álbuns seguintes, “Sign of the Times (2009)”, “Wake Your Mind (2011)” e “Start to Feel (2014)”, nos quais essa variação de gêneros e estilos, entre o Progressive House, o Trance, e algumas pitadas de Electro e Tech House, resultaram em faixas como, “Not Enough Time”, “Body Of Conflict” e “Drifting Away”.
Como produtores, contribuíram com nomes importantes do cenário da música eletrônica incluindo, Armin van Buuren, Rank 1, Ferry Corsten e Above & Beyond. E foi com um desses remixes, para a faixa “Only Road” da dupla americana Gabriel & Dresden, que o Cosmic Gate fez história ao tornar-se o primeiro artista de Trance a receber uma indicação no Grammy Awards 2018, na categoria “Melhor Gravação Remixada”.
Em 2019, o disco comemorativo, “20 Years Forward Ever Backward Never”, celebrava 20 anos do primeiro single da dupla, incluindo além de remixes de Ilan Bluestone, Greenhaven DJ’s, Andrew Bayer e Grum para faixas lançadas ao longo destas duas décadas de carreira, três músicas inéditas.
Com os álbuns MOSAIIK capítulos 1 e 2, apresentados respectivamente em 2021 e 2023, o Cosmic Gate mergulha profundamente na atmosfera do Techno em sua versão mais melódica e densa, distanciando-se cada vez mais do Hard Trance que marcou o início de suas produções, evoluindo e adaptando sua música as novas tendências e público.
Ferry Corsten
Interessado por música desde muito cedo, o holandês Ferry Corsten, ainda na adolescência, tornou-se DJ e começou a produzir suas próprias músicas. Com alguns amigos formou o Spirit of Adventure, lançando em 1991 um EP com faixas voltadas ao Hardcore e Techno.
Sob o codinome Moonman, um dos seus inúmeros projetos voltados ao Trance, Ferry conseguiu a sua primeira aparição em um chart europeu, alcançando a posição 46 com a faixa “Don’t Be Afraid”, em 1996.
Juntamente com Robert Smit, criou a gravadora Tsunami em 1997, responsável por lançamentos do próprio Ferry e de artistas como, Matt Darey, A.T.B., Ronald van Gelderen e Roger Goode. Mais tarde em 2005, como parte da gigante Armada Music, apresentou o selo Flashover Recordings, visando ampliar o alcance de suas músicas a outros estilos.
Famoso por seus inúmeros projetos com importantes nomes do cenário Trance, lançou faixas que posteriormente tornaram-se verdadeiros clássicos do gênero como, “Out of the Blue” do System F., “Carte Blanche” do Veracocha (com Vincent de Moor), “We Came” do Vimana e “Gouryella” do Gouryella (estes dois últimos, ao lado de Tiësto).
Pela versatilidade demonstrada em não estar preso a rótulos e estilos, Ferry conquistou o título de “rei do crossover”, apelido dado a ele por sua capacidade em enfileirar colaborações e remixes para artistas dos mais diversos gêneros musicais incluindo, Public Enemy, Guru, Moby, Faithless, Howard Jones, entre outros.
O inovador e ousado álbum “Blueprint (2017)”, marcou uma fase de transição na carreira do DJ, ao usar a narrativa cinematográfica para contar através de suas faixas, a história de amor entre uma andróide e um humano.
Inspirado em conceituados autores da ficção científica, como Hugo Gernsback e HG Wells e com a participação de David H. Miller, responsável por roteiros para as séries “House of Cards” e “Rosewood”, o ouvinte embarca em uma aventura cósmica, dublada por Campbell Scott, famoso por sucessos do cinema como “The Amazing Spider-Man”.
No ano seguinte, produziu a trilha sonora para o thriller de suspense psicológico, “Don’t Go”, escrito e dirigido pelo irlandês David Gleeson e estrelado por Stephen Dorff e Melissa George.
Em sua busca constante por explorar novos sons e estilos, apresentou em 2020 o álbum conceitual, “As Above So Below”, sob a alcunha Ferr by Ferry Corsten, no qual somos conduzidos a uma viagem sonora, transitando entre a música clássica moderna e o Ambient tradicional.
Seu último lançamento, o single “Yes Man”, é um retorno ao Trance que o consagrou. Utilizando um vocal masculino, adicionado a uma camada de sintetizadores espaciais pulsando sobre uma base em torno de 134 bpm’s, a track é uma amostra de que o bom e velho Ferry está em plena forma, e ainda tem muito a acrescentar a música eletrônica contemporânea.
Aly & Fila
Amigos desde a infância, a dupla de DJs egípcios, Aly El Sayed e Fadi Wassef, já haviam conquistado o reconhecimento em seu país, quando em 2003, lançaram o single “Eye Of Horus”, abrindo espaço no mercado europeu, ao atingir a quarta posição nas paradas musicais holandesas.
Inspirados em Paul van Dyk e Thrillseekers, receberam o apoio de nomes como, Tiësto e Armin van Buuren, além de convites deste último para apresentações em sua turnê mundial, A State of Trance.
Já consolidados com o sucesso do programa semanal de rádio “Future Sound of Egypt”, em 2009 criaram a gravadora de mesmo nome, apostando em novos talentos de sua terra natal como, Philippe El Sisi e Mohamed Ragab, além do lançamento de releases para Sean Tyas, Roger Shah, Bjorn Akesson e Arctic Moon.
Representantes do Uplifting Trance, uma vertente mais melódica, eufórica e energética do Trance, o duo apresentou em 2010 seu álbum de estréia, “Rising Sun”, com destaque para as faixas, “My Mind Is With You”, “Still” e “I Can Hear You”.
Após uma lesão sofrida no ouvido, que limitava sua exposição a sons mais altos e a possibilidade de tocar ao vivo, fez com que Aly optasse por trabalhar apenas em estúdio, ficando Fadi responsável pelas apresentações em turnês.
Além de produzirem remixes para Gareth Emery, Max Graham, Lange e Armin van Buuren, lançaram cinco álbuns de estúdio, Quiet Storm (2013), The Other Shore (2014), The Chill Out (2015), Beyond The Lights (2017) e It’s All About The Melody (2019), além de coletâneas e DJ mixes alusivos ao programa FSOE.
Recentemente, em colaboração com o produtor alemão Alex M.O.R.P.H., apresentaram “Eye of the Storm”, uma faixa com a marca registrada da dupla egípcia; altos bpms (em torno de 140 batidas por minuto), uma camada de teclados hipnóticos e os vocais cativantes de Cheryl Barnes, resultaram em um dos principais lançamentos do gênero em 2023.
Paul van Dyk
Nascido Matthias Paul, na antiga Berlim Oriental, o DJ Paul van Dyk é um dos nomes mais importantes da história da Trance Music, contribuindo massivamente para a consolidação do gênero ainda na década de 90.
Em um período de Alemanhas divididas, seu primeiro contato com a música ocidental ocorria através de fitas cassete trazidas por amigos e programas de rádio, nos quais podia ter acesso a artistas como The Smiths e New Order.
Com a queda do Muro de Berlim em 1991, as barreiras culturais impostas por essa divisão foram deixadas de lado, abrindo assim uma imensa oportunidade para a descoberta de novas sonoridades como o Techno, que emergia com força em grande parte da Europa.
Porém, em busca de algo diferente e com personalidade própria, Paul abusou da criatividade e técnica para desenvolver um som único, presente já em sua primeira produção, “Perfect Day”, colaboração com o projeto alemão, Cosmic Baby (Harald Blüchel, produtor famoso por fazer parte do Energy 52, responsável pela clássica “Cafe del Mar”).
A partir daí, com o sucesso do remix para “Love Stimulation” do Humate, Van Dyk lança o seu primeiro álbum intitulado, “45RPM”, o qual traria aquela que é considerada uma das tracks mais importantes da história da música eletrônica, “For An Angel”.
Desde então, com a notoriedade alcançada, Paul van Dyk lançou sete álbuns de estúdio, produziu remixes para nomes importantes da música incluindo, U2, Depeche Mode, New Order e Madonna, criou sua própria gravadora, a Vandit Records, além de um aclamado programa de rádio, o VONYC Sessions, transmitido por estações em todo o mundo e acumulando até hoje mais de 600 episódios.
Ao longo de sua carreira, conquistou diversos prêmios como DJ e produtor, incluindo o Ariel de 2003 – considerado o Oscar do cinema mexicano – pela produção da trilha sonora para o filme “Zurdo”, dos cineastas Carlos Salces e Blanca Montoya, e uma indicação ao Grammy Awards de 2005, na categoria “Melhor Álbum Dance/Eletrônico” por seu terceiro disco, “Reflections”.
Neste ano, juntou-se a lenda da Acid House, o americano DJ Pierre, para o lançamento do EP “Acid Traxxx”, uma justa homenagem à história da música eletrônica, unindo o clássico som de Chicago do fim da década de 80, à modernidade e o frescor do Trance produzido pelo DJ alemão.
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