Curol pode ser celebrada por uma série de conquistas, presenças em palcos importantes ou centenas de milhares de cliques, mas trata-se de alguém cuja história é mais importante e representativa do que qualquer outra nomenclatura.
Uma voz negra com trabalho fundamental na cena, trazendo qualidade sonora e com uma bagagem capaz de mudar vidas que sonham em fazer música. Uma de suas próximas paradas é um lugar marcado pela resistência e pelos exemplos de luta premiado com o sucesso – o Rock in Rio.
Não se chega a lugares tão importantes apenas com um som viral ou mesmo uma história de superação, mas com trabalho duro e amor à causa, coisa que ela tem de sobra. Ou você acha que Curol é agora a primeira DJ e produtora brasileira a apresentar um set exclusivo para o programa Soundsystem, da BBC Radio 1, por sorte?
Para contar mais sobre sua trajetória, ela bateu um papo exclusivo com a Eletro Vibez compartilhando detalhes sobre o momento vivido, os sonhos a realizar e os caminhos que a trouxeram, com brilhantismo, até aqui.
Curol, você é um dos principais nomes em ascensão da música eletrônica no país, além de exercer um importante papel na representatividade das mulheres na cena. Sua história com a música começou através da fotografia, como você projetou essa mudança dos bastidores para os palcos? Qual é o seu sonho e objetivo com a música?
Curol: Na verdade, sou envolvida com música desde criança. Aos 13 anos, eu aprendi a tocar violão através de revistas de cifras do Legião Urbana, Charlie Brown Jr. e mais alguns pop rocks da época. Aos 16 anos, eu tocava na igreja, em missas e celebrações, e somente depois dos 21 que comecei a fotografar em festivais de rave (Psy-Trance). Até que recebi um pedido do Alok para que eu fotografasse apenas ele, em um evento no qual ele faria o warm-up para o David Guetta, e foi depois disso que comecei a me ‘especializar’ em fotografias de artistas.
Isso me instigou a trazer minhas ideias para os projetos que eu acompanhava na estrada, mas nunca rolou muita abertura, sabe? E foi aí que eu comecei a estudar produção, misturando instrumentos orgânicos na música eletrônica, até que o Dirtyloud me ensinou a discotecar.
A princípio, a discotecagem era um hobby, mas inevitavelmente eu comecei a receber convites para integrar alguns line-ups, e a cada festa que eu tocava, eu já saia com mais uma contratação! As pessoas gostavam do que ouviam, e como não sei ser meio termo, resolvi estudar ainda mais como seguir carreira na música e tomei a decisão de entregar 100% da minha empresa de fotografia para minha sócia e focar todos os meus esforços na minha carreira de DJ e produtora musical.
O meu objetivo maior com a música é mesclar história e sensibilidade musical trazendo um pouco mais da nossa cultura afro-brasileira, resgatando minha ancestralidade e entregando isso de forma educativa e gostosa de se dançar e divertir, a ponto de fazer com que as pessoas associem o nome Curol ao verem e ouvirem elementos que remetem a isso.
Você vai passar por palcos muito especiais em 2022, como o do Rock In Rio. Como se sente em integrar o line-up ao lado de artistas consagrados da cena? O que o público pode esperar dessas apresentações e de que forma você acredita que isso vai impactar na sua carreira?
Curol: Antes de tudo, eu sinto meus pés no chão e estou com a cabeça focada em fazer shows à altura desses nomes. Ao mesmo tempo, eu me sinto extremamente feliz e completa por ter uma equipe experiente que aceita e desenvolve minhas ideias, e que me orienta em tudo na carreira.
Você foi eleita pela 1001Tracklists como o futuro da Dance Music, ao lado de outros 59 artistas pelo mundo, e ganhou o prêmio de DJ do ano, do WME Awards 2021. De que forma você encara, pensando em representatividade, essas condecorações e como espera que seu exemplo influencie novas mulheres?
Curol: Encaro com responsabilidade, pois sei que cada ação que eu fizer a partir de agora poderá influenciar nessa representatividade, que, por sinal, não são apenas mulheres, mas todos que se inspiram em mim de alguma forma.
É importante que as pessoas saibam que podem e devem sim tomar ações que antes não tomavam por receio ou por talvez não terem uma figura à frente sendo preta e lésbica, por exemplo, e eu percebo que apoiar e incentivar outras mulheres trazendo elas para junto dos meus projetos, foi um dos fatores que fez o WME me condecorar nesta categoria.
Eu carrego isso com seriedade e orgulho, porque recebo diariamente mensagens de pessoas que dizem se inspirarem na minha história de vida e no que tenho feito para trazer um pouco mais da nossa cultura para a música eletrônica. Acho que isso foi um dos reconhecimentos da própria 1001Tracklists, ao me colocar como uma das figuras futuras que “podem moldar a Dance Music”.
Seus fãs te acompanham com fervor e certamente vão ler essa entrevista. Qual mensagem você quer deixar pra eles? Que planos tem para viver ao lado deles durante esse ano?
Curol: Primeiro, eu quero agradecer por estarem abertos para tudo isso que venho construindo. No início, eu ouvi que era algo que não teria espaço aqui no Brasil; e hoje percebo vários lançamentos voltados para a nossa MPB, Bossa Nova, Samba e tudo o que antes era ouvido com ‘pré-conceito’.
Sem qualquer pretensão de ser um interlocutor que fale mais que a protagonista de um texto, entendo que a melhor forma de encerrar essa entrevista seja através de uma fala de Curol, que resume seu sucesso em poucas e certas palavras.
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