Não que eu queira subestimar seu conhecimento, mas talvez não seja do seu dia a dia algum termo específico da televisão, música e teatro. Existe, nessas artes, um conceito bem simples, e que significa muito. Trata-se da quarta parede.
Cês sabem o que é? Caso não, explico: são as luzes voltadas contra quem está no palco, sempre fortes o suficiente para impedirem que as pessoas que lá estão enxerguem aqueles que estão na plateia.
Não à toa, tantos artistas se ressentem da falta de conexão, e são vítimas de outras tantas reclamações, essas do público, sobre haver uma distância emocional e afetiva deles para com seus preferidos.
Aos poucos, a cultura da reaproximação tem dado as caras, ainda tímidas, em situações cá e acolá. Ainda assim, é desafiador remar contra a maré dos grandes palcos, da super tecnologia e a busca incansável pelo novo, pelo que ninguém nunca viu.
É justa e compreensível a busca por tanto conteúdo, por tanta entrega, mas uma quebra de direção é tão desconcertante que beira o brilhante. Quando alguém resolve insurgir contra o óbvio, parece algo tão estrondoso que nós nos assustamos.
E quando essa atitude resolve estilhaçar a quarta parede, o efeito é ainda mais impressionante. Foi assim que Four Tet, Fred again.. e Skrillex causaram um terremoto na cena eletrônica, foi assim que eles estabeleceram uma nova rota, que é absolutamente encantadora.
Se vocês tiverem um minutinho, vejam mais sobre a arte de anúncio do show deste trio, se é que já podemos assim chamar o projeto, para a apresentação no monumental Madison Square Garden – tem nadinha de interessante, são só nomes, um local e um fundo preto. Zero frufru.
Não houve demora para que eles subissem ao palco, no MSG, não houve warm-up, pré, criação de clima, privilégios, nada. Quem chegou às 19h, deu de cara com os três em uma mesa de discotecagem no cantinho da arquibancada e cadeiras, pistas, arquibancadas por todos os lados, bem pertinho, ou bem longe, fazendo um grande círculo sobre eles.
E assim foi por mais de 3 horas, com sorrisos, pulos, zoeiras, abraços, pouquíssimas luzes, zero telão, zero (d)efeito, zero confete. Eram eles, seus remixes, suas artes e seu público, todos num espaço só, todos integrados, em uma alma única que existiu para fazer festa.
Você poderia achar que esse é um episódio esporádico, um momento. Aí eu te encho com outro argumento fortíssimo. Esse mesmo trio esteve no Coachella, no principal espaço do festival, encerrando o último dia, para uma multidão incontável de headbangers.
E não pense que eles ficaram na estrutura imensa do palco, não. Montaram uma pequena estrutura redonda no centro do público, na famosa muvuca, tocando sem luzes, sem telões, só eles e a galera. Foi, sem medo de errar, emocionante.
É lindo assistir à queda brutal da quarta parede por nomes que hoje doutrinam o que a cena deve vir a buscar como ideal. Chegou, enfim, a hora de reduzir a marcha e buscar por menos alegoria e mais verdade? Chegou a hora de pensar menos no visual e mais no sentimento?
Com eles, sim. E eu tô achando uma delícia.