Como entusiasta da club culture e PR de clubes e festivais, listei aqui algumas sugestões de livros de música que gosto muito, a fim de ajudar a você, querido leitor, a aproveitar mais o tempo dentro de casa com conteúdos interessantes. Confira:
Ecstasy, por Irvine Welsh
Compre aqui
Ecstasy, do romancista escocês Irvine Welsh – autor do livro Trainspotting (1993), que deu origem ao filme que mencionamos aqui.
Neste, Welsh aborda com destaque a descoberta da nova droga que chegara aos clubs e raves do Reino Unido, e vai além, construindo e desconstruindo paixões e acontecimentos surpreendentes que se potencializam de forma magnífica.
Techno Rebels, por Dan Sicko
Compre aqui
Dan Sicko é um dos maiores jornalistas e pesquisadores que a club culture já teve. O livro, como muitos outros que retratam a história do Techno, resgata desde os primeiros passos dados em Detroit, com toda história do Belleville Three, até o início dos anos 2000, com um cenário mais parecido com o que temos hoje, ou tínhamos…
Para mim, o ponto alto é a parte que o Techno chega à Inglaterra, em Manchester, 88, e se espalha feito vírus, contagiando a todos pelo país inteiro.
Criava-se então a rave culture, que logo depois ganhava o mundo. Esta 2ª edição – revisada e atualizada – conta ainda com uma introdução do Bill Brewster, autor de Last Night a DJ Saved My Life.
Berghain: Kunst Im Klub
Compre aqui
Uma indicação dupla, porque a história de um está atrelada a do outro e vice e versa – vale ressaltar que o Berghain: Kunst Im Klub foi lançado em versão única em alemão/inglês, e Die Nacht ist Leben está disponível somente em alemão.
Berghain: Kunst Im Klub retrata a história do famoso Berghain, reconhecido como a principal instituição do techno mundial, inaugurado em 2004, em Berlin. O livro conta com uma conversação com o Wolfgang Tillmans – um dos principais fotógrafos alemães a retratar a contra cultura local e de outras cidades com características semelhantes.
Também conta em detalhes como surgiu a ideia de abertura do club e como logo se transformou em um dos principais ditadores de tendências da atualidade dentro deste cenário, com projeto que conta com club, gravadora e agência de DJs. O clube é realmente incrível e de uma atmosfera única, mas definitivamente tenho outros na minha lista de favoritos na cidade, como o Chalet, About Blank, Golden Gate e Kosmonaut.
Die Nacht ist Leben: Autobiographie
Compre aqui
E para complementar, indico também a autobiografia do Sven Marquardt, intitulado como Die Nacht Ist Leben: Autobiographie, conhecido como host do Berghain, mas que no fundo é um dos principais fotógrafos a registrar a cena punk de Berlin dos anos 80. É ele também quem tem a fama de barrar todo mundo na entrada. O que na verdade pode acontecer com qualquer pessoa, independentemente de estar no look (inteiro de preto), ter bom comportamento, estar em grupo ou sozinho ou ser alemão ou não. Mas claro que isso não acontece com todo mundo e nem sempre é assim.
E para completar a trilogia de estudos sobre a club culture, recomendo assistir ao documentário que conta a história do club Tresor, que, na minha opinião, é o principal difusor do Techno alemão para o resto do mundo.
O Tresor abriu logo após a queda do muro de Berlin e marcou pelo momento de libertação que proporcionou. Antes disso, abrira sob o nome de UFO em outro endereço. Os primeiros deejays de Detroit vieram para Berlin pelo Tresor e, com isso, contribuiu imensamente para consolidar o gênero nascido nos Estados Unidos para grande parte da Europa e do mundo. Sem dúvida é o mais importante na história do Techno da capital alemã; mas com a chegada de novos clubes e algumas reciclagens de público com o passar dos anos, o local ficou um pouco de fora das constantes conexões entre os principais artistas do gênero que moram ou passam pela cidade.
Todo DJ Já Sambou, por Claudia Assef
Compre aqui
Essa obra é leitura obrigatória para todos que gostam de música eletrônica, independentemente do estilo ou gênero. “Todo DJ já Sambou” foi escrito por uma jornalista e pesquisadora de mão cheia (e clubber também, é claro), Claudia Assef – que viveu muitos trechos do livro.
As primeiras histórias retratam capítulos muito diferentes dos que conhecemos hoje sobre os profissionais da cabine de som no Brasil.
Teve início nos anos 70 e conta a magnitude das equipes de baile, que entre alguns integrantes, havia um que era responsável por escolher as faixas perfeitas (ou pelo menos perto disso) para aquela ocasião de pista.
Essa pessoa utilizava-se apenas de um toca disco e ficava na maioria das vezes atrás de uma cortina, não sendo visto pelo público. Do Sr. Osvaldo e Sonia Abreu – primeiros DJs homem e mulher do país, com discos raros, até as envolventes histórias e descobertas vivenciadas pelas cenas clubbers – as da zona leste de São Paulo principalmente, com brasileiros reinando na Europa e a utilização do Serato, um dos softwares que revolucionou a maneira de discotecar no mundo.
Esta é a 3ª edição (atualizada). A belíssima foto da capa é do Fabio Mergulhão, um dos principais responsáveis por retratar grande parte desta história através das imagens. O DJ de costas é ninguém menos que o DJ Mau Mau, outro grande responsável pela evolução e disseminação do techno no Brasil e pelo mundo.
Babado Forte, por Erika Palomino
Compre aqui
Escrito por uma clubber/jornalista/fashionista de respeito, Erika Palomino, o livro relembra vários momentos de descobertas que muita gente viveu, inclusive eu, ainda menor de idade na época.
Clubs e acontecimentos que foram vitais para a nossa formação, como Srta. Kravitz, Massivo, Nation e, claro, o saudoso Hell’s Club – inaugurado por Angelo Leuzzi e que acontecia nas manhãs de domingo no Sub Club, o porão do extinto Columbia que funcionou entre 1994 e 1998, em São Paulo.
Também estão no livro histórias e depoimentos que narram os primórdios da era clubber na capital e, consequentemente no Brasil, e outros acontecimentos importantes em diferentes Estados, como as extintas festas Val Demente e X Demente, no Rio de Janeiro, que trazia Felipe Venâncio como residente.
Essa é a leitura que todos que se interessam pela club culture deveriam ler, inclusive os mais novos.
Moby Porcelain: Memórias
Compre aqui
Autobiografia do Moby, músico, e um dos maiores DJs de várias gerações. Muito legal adentrar na Nova York dos anos 80/90 e saber que, em meio a vários perrengues, ele não desistiu e fez virar.
Vindo de uma família muito simples e cheio de problemas familiares, em especial com a mãe, Moby saiu de algum desses condados vizinhos à Nova York para morar na cidade grande conhecida como Big Apple na tentativa de viver de música.
Conseguiu a primeira residência como deejay no club Palladium e toda a noite que ia tocar neste club, tinha que carregar os discos em uma caixa de feira em cima de um skate, onde ia empurrando por uma distância de 2km até chegar ao local.
Naquela época não haviam motoristas dos clubs, tão pouco dinheiro para taxis ou qualquer outras despesas.
Outra história curiosa é que ele, totalmente sem grana, foi morar em um dos squats dos subúrbios da cidade e seus vizinhos sempre o sacaneavam, roubando seus equipamentos de produção, roupas e até a comida. Era difícil disputar o espaço que a House e a Disco haviam criado investindo no Techno, por isso, cada oportunidade que aparecesse tinha que ser certeira. Este livro foi lançado no Brasil em julho de 2016.
Depeche Mode
A seguir duas sugestões que todos os interessados na origem da música eletrônica deveriam ler. Não porque foram os pioneiros – apesar de já fazerem música eletrônica em 1981, mas porque o quarteto de Essex, na Inglaterra levou a música caracterizada por sintetizadores ao topo das paradas de sucesso da Europa e Estados Unidos; além de influenciarem e continuarem influenciando vários dos principais nomes da música eletrônica mundial.
Depeche Mode Documention
Compre aqui
O Depeche Mode Documention foi produzido pelo portal alemão Electronic Beats e viabilizado pela Deutsche Telekom. O material é de 2013 e foi criado para celebrar a Delta Machine Tour, penúltima turnê da banda.
A obra documenta através de fãs, com entrevistas diversas, todo o processo por etapas – do lançamento do álbum (Delta Machine) até o primeiro show.
Desde a press conference, em Paris, em seguida com o show (pocket e para pouquíssimos fãs e imprensa) de estréia do disco no Museum Quarter, em Vienna, passando pela maior exposição sobre a banda idealizada por fãs em Berlin.
E esse livro tem uma história muito especial para mim. Em 2013 estava na loja da Ticketmaster em Berlin com a camiseta da Delta Machine Tour, que estava acontecendo ainda na Europa, e eu tinha acabado de conferir dois dos shows; um em Londres e outro em Colônia, e um dos vendedores veio falar comigo dizendo que já havia assistido 11 shows desta turnê, todos na Alemanha, e me mostrou um anel escrito DM que estava usando no dedo.
No ano seguinte voltei para Berlin e voltei na mesma loja da Ticketmaster para ver se ainda poderia encontrá-lo. Ele estava lá e me reconheceu. Disse para eu aguardar um pouco e quando voltou me trouxe este livro de presente : ))
Depeche Mode Monument
Compre aqui
O Depeche Mode Monument é a verdadeira bíblia do Depeche Mode e foi lançado em 2016.
O material conta a trajetória desde o início da banda; em forma de quarteto e liderado por Vince Clarke, responsável pela formação da banda, até a finalização do último álbum até o então, o Spirit (2017).
O livro conta com depoimentos e fotos exclusivas do Anton Corbjin – fotógrafo e videomaker da banda desde o início e, foi escrito originalmente em alemão por dois dos maiores fãs globais do Depeche Mode, Dennis Burmeister & Sascha Lange – mas essa é a versão em inglês.
O Barulho da Lua / The Noise of the Moon – A História do DJ Anderson Noise
Compre aqui
Mais uma obra literária sobre o universo das discotecagens no Brasil escrito por Claudia Assef, uma das principais jornalistas a retratar este universo.
No livro, Claudia conta em detalhes como tudo começou na vida do DJ, que veio de uma família simples em Belo Horizonte, onde ajudava a mãe a vender coxinhas na porta de uma escola, até começar a trabalhar em uma loja de roupas para conseguir comprar os primeiros discos, e virar os primeiros trabalhos como DJ e então conseguir produzir as primeiras festas, onde tudo começou a fazer mais sentido.
Curioso falar que isso tudo aconteceu ainda nos anos 80, e em BH, onde o acesso aos clubs, discos e equipamentos sempre foi mais difícil que no eixo Rio-São Paulo.
E que mesmo com essa carência, Anderson não esperou as coisas acontecerem na cidade – e começou a produzir as primeiras festas de techno em BH, em meados dos anos 90, envolvendo sua mãe, que era a hostess e seu irmão mais novo, que também se tornou DJ graças ao primogênito.
Claro que ninguém entendia nada, mas logo de cara virou, e eu acredito que tudo isso aconteceu por conta da essência que ele punha nas coisas que fazia e também por conta da originalidade. Isso logo foi compartilhado com o resto do mundo, com convites para apresentações nos principais clubs do Brasil e do mundo, além de formação e participação de projetos importantes, como o grupo Nie Myer, que une o DJ com integrantes da banda mineira Skank, além de ter se apresentado em um concerto de música clássica na Sala São Paulo ao lado do maestro João Carlos Martins. Este livro possui uma única versão em português / inglês.
E aí, já leu alguns desses livros? Quer indicar algum mais? Comente!
Texto e fotos por Rodrigo Cury