Tente imaginar aí: um sujeito coloca um capacete em formato de marshmallow na cabeça, cria músicas completamente não ortodoxas, uns barulhos esquisitos, se apelida como um doce e assume o mais importante palco de festival que o Brasil, um país completamente heterogêneo e pouco familiar à música eletrônica, tem num sábado à noite. Tem chance de dar certo?
Trata-se de um abuso histórico. Uma ousadia memorável, uma quebra de protocolo sem precedentes.
Como poderia alguém assim, com características tão distantes do afã brasileiro, ser uma atração principal nesse evento. Ser transmitido em televisão aberta para 200 milhões de pessoas verem. O que a cena eletrônica viveu em 03/09/2022 já nasceu de forma épica.
Mello não mudou seus costumes, não adaptou seu som, não moveu uma vírgula de seu Future Bass pesado, de suas afeições ao Drum’n Bass e não recuou em um drop que fosse.
Tocou à sua, do jeito que o levou ao coração de milhares de fãs pelo mundo. Com clássicos pop, com sucessos digitais e muito ‘barulho’, ele foi resistência com suas essências e isso foi incrivelmente comovente.
As centenas de milhares de pessoas que lotaram a cidade do Rock acompanharam nosso cabeça de marshmallow, cantaram muito alto as suas mais famosas, dançaram com seus sons esquisitos, acenderam seus celulares, deram de ombro para a chuva que tomou conta do Rio de Janeiro para receberem de braços abertos um novo jeito de fazer música. Ouvidos e coração disponíveis para algo incomum.
Mello é marca de refrigerante, ídolo de crianças, referência para adultos, sucesso de publicidade e um herói pro ‘esquisito’ – aquele sujeito cujos gostos não são comuns, e que se identifica com o que não aparece todo dia na televisão.
Ele é a prova que fazer diferente também funciona, quem também faz sucesso, e que nada resiste à convicção de um bom trabalho.
Enche meus olhos ver que o rapaz do capacete veio pro palco depois de Racionais e foi o mesmo que a gente viu surgir no Joytime 1. Sem fingimento, sem readequação. Com funk brasileiro, sim, mas dentro do seu jeito de fazer. Identitário, forte e corajoso.
Obrigado por carregar o que nossa comunidade sempre escondeu ser, Mello. Você tem heroísmo no som.
O palco do Rock é dos esquisitos!