Na linha do tempo entre edições do Tomorrowland, Alok atinge o ápice com sorriso fácil e biblioteca de sucessos

Para entender o que aconteceu é preciso listar as mais improváveis e difíceis situações que nos levaram até o último show do Tomorrowland Brasil 2023. Ser o nome a encerrar esse reencontro já seria uma posição de enorme responsabilidade, mas era preciso fechar uma edição que quase não aconteceu.

Os sete anos de hiato quase se tornaram oito quando uma chuva sem precedentes destruiu os planos de fãs, organizadores e artistas. Logo na primeira hora de festival, a terra virou lama, as estradas foram bloqueadas por acidentes e a música se tornou passageira de um pesadelo de olhos abertos. 

Depois de um dia cancelado e trabalhos sem pausa para  recuperar a estrutura do festival, o dia 14 de outubro será lembrado por ter sido o momento no qual a música refez a história de um povo que só queria reencontrar um lugar mágico e aproveitar cada minuto. E o ápice da jornada ficou nas mãos do principal DJ do Brasil.

E não há mentira que se sustente por muito tempo. Uma delas é que um brasileiro não poderia ocupar essa função tão nobre no maior festival do mundo. Quando Alok chegou, o MainStage era um infinito de pessoas e celulares atentos a registrar sua primeira aparição. Ciente de onde estava e para quem tocava, abriu seu set com sons acelerados e intensos, dando à pista o que ela buscava. 

Sem esforço e com sorriso no rosto, desfilou sua biblioteca de hits, abrindo mão de um expediente comum para quem toca num palco tão grande – se apoiar apenas em clássicos alheios. Bastou a ele brincar com suas próprias composições, suas letras conhecidíssimas e que foram cantadas com entusiasmo pelos presentes para conduzir os 60 minutos de diversão no MainStage. 

De forma sensível, soube fazer pequenas menções a heróis dessa história e desse evento, mas seus maiores momentos foram quando tocou canções que estavam ao seu lado lá atrás, quando se apresentou nesse mesmo palco e cidade, mas numa posição de pouco destaque e sob olhares desconfiados. Na linha do tempo, Alok venceu através do trabalho e não esqueceu de quem estava ao seu lado no começo, como Bruno Martini e Zeeba.

Se pudesse traçar um túnel entre épocas, sairia de 2016, sob dúvidas e desconfianças, para 2023 com centenas de milhares de pessoas que foram vê-lo, que estavam orgulhosas em recebê-lo como uma estrela mundial da música eletrônica. Muitas vezes, o tribunal da internet escolhe uma narrativa que a realidade não sustenta. 

Enquanto teorias mirabolantes falam sobre um artista que não é bem visto por sua cena, os fatos estampam na testa um brasileiro que conduziu com maestria uma função que pouquíssimos poderiam exercer. Pergunte a quem viveu, Alok fez o brasileiro se encher de orgulho de ver e ouvir um filho da nossa terra ser capaz de um momento assim. 

Esse fã e jornalista que aqui escreve, é alguém bastante sentimental e que não esconde. Testemunha da história, relato com enorme satisfação o que vi, vivi, ouvi e dancei com amigos enquanto Alok construía os melhores 60 minutos de sua carreira. Não há mais o que se dizer sobre um artista assim, que zerou o jogo e superou o último chefão. 

Se sua adolescência foi pautada nos videogames, seu presente é feito de sucesso. Seu caminho teve de ser mais longo e tortuoso, mas a resiliência e o talento são insuperáveis. Que bom que chegamos neste momento, ao lado do Tomorrowland no nosso país, com um célebre criado aqui, com nosso povo feliz. A música é feita disso, afinal.

Redator-Chefe