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“Naquela noite, o Swedish House Mafia estava de volta”

Texto com informações via Billboard

Lembro quando cheguei lá, vocês (Ingrosso e Axwell) já estavam lá e a garota que conheço, que trabalha na recepção de Lydmar, perdeu o controle. Ela estava tipo: ‘O que diabos está acontecendo?’”

O que acontecia naquele hotel sueco, numa noite de 2017, era o primeiro encontro entre Steve Angello e os antigos parceiros, Sebastian Ingrosso e Axwell. 

Acho que talvez tenha sido um pouco emocional ter visto o Angello novamente, sabe? É estranho quando você sai com alguém todos os dias, como fizemos nos últimos meses da turnê, e então (…) puf, desaparece.” Foi Thomson, manager do antigo trio, que havia armado esse momento de nostalgia para eles, mas havia naquele jantar intenções maiores.

Conta Ingrosso que:

(…) começamos a rir. Uma memória após a outra, e então vinho, e então carne, e então cigarros, e então mais vinho. Acho que chegamos em casa às duas da manhã.” O after daquela noite nem precisaria ser gravado ou ter platéia. A manager, quem sabia cada metro de cada um deles, fechou a porta de sua suíte, despedindo-se de todos, com uma certeza: “Quando os caras foram embora naquela noite, o Swedish House Mafia estava de volta”.

Esse talvez tenha sido o trecho mais emocionante das quase doze páginas contadas pela revista Rolling Stones, que entrevistou Axwell, Angello e Ingrosso, em um jantar no Djusholm Country Club, em Estocolmo. Neste dia, eles já como um trio novamente formado e prestes a lançar um novo som depois de 8 anos de hiato, separação e centenas de circunstâncias, falaram sobre quase tudo o que aconteceu na vida do Swedish House Mafia e a gente convida você a saber um pouquinho dessa jornada. 

O jantar aconteceu em um condomínio de luxo que já foi até a casa do Papa João Paulo II e que hoje abriga o dono do Spotify, Daniel EK e o lendário Bjorn Ulvaeus, do grupo ABBA. Lá, dois jornalistas falavam com o sociável Axwell, perfil mais brincalhão e amante de uma boa cerveja. De canto, Angello, com um suco e feição séria, além de suas muitas tatuagens, assistia ao também parceiro Sebastian Ingrosso, trajado como um rockstar, falando sobre suas histórias e um riso alto. O assunto era o SHM.

E que trio, que história, que potência. Em 2010, mal surgidos para a cena, já tinham esgotado os lugares do Madison Square Garden em apenas 9 minutos. Não demorou para serem os game changers da música eletrônica, como contou Pete Tong, nome histórico da BBC Radio 1:

O que eles faziam era uma experiência ao vivo com ainda mais arrogância, mais foco e mais produção. Os suecos realmente se alinharam com o surgimento e explosão da EDM na América. Eles foram os principais protagonistas do que se tornou a próxima grande onda global em termos de impacto dos DJs e o que eles poderiam alcançar. Eles mudaram tudo o que se conhecia”.

E tudo isso aconteceu de maneira improvável, quase errática. Eles tinham um álbum de seis faixas e eram as maiores estrelas que uma geração observava acontecer. Não à toa, ‘Dont Worry Child’ esteve por absurdas três semanas liderando o top 100 da Billboard. Eles doutrinaram o mundo, mas o dia seguinte foi de 100 a 0 em segundos. Em 2013, o Swedish House Mafia, abandonando uma carreira meteórica, comunica que deixaria de existir.

Não pense você que eles saíram por debaixo dos panos. Fizeram uma turnê bilionária, com mais de 50 datas, arrecadaram e gastaram centenas de milhares de dólares e ainda deixaram um documentário, o ‘Leave the World Behind’ como legado póstumo.

Steve Angello, Axwell e Ingrosso seguiram caminhos distantes. O primeiro, mudou-se de país, procurando caminhos para seguir carreira solo, concentrado em se reinventar e achar paz junto aos seus momentos como um artista de produção individual, descolado de todo o marco que havia sido o Swedish House Mafia. Axwell e Ingrosso optaram por seguir como um duo, simplificando a missão de recomeçar, carregando alguns conceitos do que eram como grupo. Eles deixaram o legado e deram o primeiro novo passo.

Um longo tempo se passou desde então. Angello lançou álbum em seu projeto solo, Axwell e Ingrosso, como duo, lançaram sucessos globais. Eles seguiram rodando o mundo com o trabalho lendário que sempre fizeram. Ainda assim, os fãs nunca se conformaram com essa mudança. No Tomorrowland Brasil, os três vieram para cá, se apresentaram com músicas do Swedish House Mafia, mas não se juntaram no palco. E isso foi se tornando um hábito. E uma saudade.

Até que uma pessoa alterou os rumos dessa prosa. Adam Rustoff, poderoso chefão do Ultra Music Festival, queria um show de retorno do trio durante o especial Ultra Miami de 20 anos, em 2017. Apresentou a ideia para Angello, que não se posicionou imediatamente. Depois, para Axwell e Ingrosso, que também preferiram esperar. Com alguns dias de papo, eles fecharam o histórico evento pela bagatela de 1 milhão de dólares por 60 minutos de show. E o acordo de manter o retorno em sigilo.

Foram três meses de preparação, de cálculos, ideias e estudos. E muito silêncio, uma missão quase secreta. Uma semana de ensaios em um armazém discreto de Miami enquanto o planeta cogitava que o show surpresa seria com o trio aposentado. Eles armaram um esquema de guerra. E eles falaram, um a um, sobre o que foi aquele momento tão especial.

Estávamos hospedados em hotéis diferentes porque realmente pensávamos que estávamos sendo inteligentes”, disse Axwell.

Eu sabia que seria muito emocionante. Só precisamos chegar ao palco o mais rápido possível”, completou Angello, ainda antes do rompante emocionado de Axwell, que interpelou o parceiro para lembrar: 

Apesar dos erros, de tudo, quando saímos do palco e vimos DJs, managers, funcionários e fãs chorando, entendemos o porque daquele momento”. 

Aí você se pergunta: porque, então, eles não voltaram ‘oficialmente’ depois daquele show? Reuniões aos montes, inclusive em Malibu, trouxeram acordos e desacordos com gravadoras que se recusaram a aportar milhões de dólares em um trio que não tinha qualquer música nova – ainda que tivesse ideia. A Columbia chegou a topar, investiu 5 milhões de dólares, mas a pandemia desacelerou o processo criativo. Eles queriam tempo. A Columbia, resultado. Se separaram.

Ingrosso ficou por mais de 100 dias acometido pela Covid-19. Nesse meio tempo, o SHM devolveu o investimento aportado no grupo e quis recomeçar, mas, dessa vez, com essência, com calma, com retomada de sentimento ao trabalharem como um trio, como uma família.

Quando voltamos a trabalhar juntos, foi como se tivéssemos que redescobrir o que era isso. Todos nós temos gostos diferentes, obviamente, mas quando Seb(astian Ingrosso) ou Ax(well) me mostram algo que nunca vi ou ouvi, volto a sentir aquela magia que tínhamos quando éramos jovens”, contou Angello. “Foi como: O que diabos nós fazemos? Como voltamos? Era nojento voltar sem nada novo”, ponderou Ingrosso, sobre a retomada nada eficaz.

Enfim, o Swedish House Mafia é um grupo, de novo, mas: novo, enfim. Dessa vez, eles assumiram viver um novo momento. De manager novo, gravadora nova, material para ‘mais de dois álbuns’, lançamentos semanais, uma agenda global a ser cumprida e uma vida toda pela frente. Às vezes, da crise se faz o futuro, como eles fizeram. Passaram pelos piores momentos, as piores dúvidas e questões, mas acharam a melhor versão de si.

Que bom ter vocês de volta, Swedish House Mafia.