A música eletrônica tem um poder raro: o de transformar encontros, noites e até vidas inteiras. Para os produtores brasileiros Doh!, Gabss e Bonfim, essa transformação começou de maneiras diferentes, mas os levou a unir forças na criação da No Disco, nova gravadora nacional que estreia com identidade própria, visão artística apurada e uma proposta criativa ousada para o Indie Dance e suas vertentes.

O início de Gabss e Doh!, label owners e dupla que assina o primeiro EP da label

Para Doh!, tudo começou em 2018, ao pisar pela primeira vez em uma pista de música eletrônica. “Aquilo me marcou de um jeito que eu nunca tinha sentido antes”, relembra. Fascinado pela figura do DJ, pelas luzes e por tudo que envolvia aquela experiência sensorial, ele percebeu que seu lugar não era apenas na pista, mas também por trás dos decks. Aquele momento acendeu uma faísca e o desejo de criar experiências como aquela virou missão.

Já Gabss se apaixonou pela música de forma quase orgânica. “Foi tudo pela música”, conta. Em 2012, ele começou a produzir batidas de rap em uma velha garagem, cercado por caixas de som improvisadas e um entusiasmo que nenhum equipamento de ponta poderia substituir. “Um soundsystem duvidoso”, brinca, mas que abrigava o início de um caminho criativo que só cresceria dali pra frente.

Conexão sonora e referências globais

Apesar das histórias diferentes, ambos os artistas compartilham uma mesma admiração por nomes como Adam Ten e Mita Gami, pilares da cena alternativa do Indie Dance. Essa vertente, com pegada intensa, groove envolvente e atmosfera emocional, serve de bússola para o trabalho dos dois, que também não hesitam em flertar com outras nuances eletrônicas — do techno ao house, passando por texturas inesperadas que ampliam sua paleta sonora.

Eu gosto de misturar elementos, explorar texturas diferentes”, explica Doh!. Gabss complementa: “Sempre gostei de testar coisas novas — plugins, efeitos, samples… Isso acaba se refletindo muito na minha identidade sonora.”

O resultado dessa união de referências é um EP de estreia que chega marcante: melódico, mas agressivo. Moderno, mas cheio de personalidade. As faixas carregam uma energia crua e, ao mesmo tempo, refinada, em parte graças ao uso de um synth “rasgado” que se torna protagonista da narrativa musical. 

Esse synth está presente nas duas faixas e é um dos nossos elementos favoritos”, revelam.

Outros detalhes também se destacam, como a escolha por percussões diferentes do comum — rim shot e snare no lugar do clássico clap — que criam um impacto seco, direto, quase como uma assinatura sonora.

A estreia da No Disco: mais que uma gravadora, um manifesto criativo
Esse EP não marca apenas um lançamento colaborativo. Marca o nascimento da No Disco, nova gravadora fundada por Gabss, Doh! e Bonfim. E a proposta vai muito além de uma label convencional. 

A No Disco nasce com a missão de ser uma plataforma para sons autorais, ousados e verdadeiros, com foco no Indie Dance, mas com liberdade para explorar suas ramificações mais inovadoras.

“A No Disco nasce com uma curadoria voltada para o Indie Dance, mas acima disso, queremos valorizar a música autoral, inovadora, que carrega verdade”, explicam os fundadores.

A estreia oficial do showcase da gravadora já tem data marcada: 11 de julho, em Curitiba, um dos pólos da música eletrônica no Brasil. 

A expectativa para esse primeiro evento é grande, assim como para os próximos lançamentos que já estão sendo preparados, e que prometem trazer nomes de peso da cena mundial para dentro do catálogo da No Disco.

O futuro que pulsa
O momento é de virada de página para os artistas e para a cena eletrônica nacional. “Estamos trabalhando em lançamentos com grandes artistas do cenário internacional e showcases em diferentes estados do Brasil”, adianta Gabss. A sensação é de que algo grande está começando — e que há um plano muito claro por trás disso tudo: dar voz a uma nova geração de produtores que não têm medo de experimentar, ousar e sair da curva.

Se o EP é a faísca, a No Disco é o combustível. Juntos, Gabss, Bonfim e Doh! não estão apenas lançando músicas. Estão pavimentando um caminho próprio, onde o som é mais do que entretenimento: é um manifesto estético, emocional e coletivo. É só o começo. E o beat ainda vai longe.

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