Eventos em massa? Necessidade de faturamento a qualquer custo? O que nos espera depois do Coronavírus? São essas algumas das questões que atormentam a cena da música eletrônica – e não somente ela. A indústria do entretenimento passa por aquela que tem potencial de ser a maior e mais complexa crise já vista. Impedidos por tempo indeterminado de promover eventos, empresas e artistas não tem muitas formas de faturamento e (sobre)vivem sem a previsão clara sobre quando poderão tê-las novamente.
As ações por live stream tem prazo de validade e não há nisso um modelo comercial. O apelo pelas doações é algo que também não durará, afinal, as pessoas terão problemas financeiros com os quais lidarem. Chega-se, então, a um ponto de temor. E também de muitas incertezas.
Precisando recuperar o tempo perdido e o dinheiro não ganho, como serão reorganizadas as agendas culturais? As produtoras poderão arcar com os custos de eventos imponentes sob o risco de baixa demanda? Ou as pessoas se farão presentes em massa diante da abstinência, mas a onda será passageira?
A equação não é complexa. Se a demanda for enorme, e tem a possibilidade clara de ser, os eventos se multiplicarão e nenhum deles terá grande venda. É preciso agir com equilíbrio em meio ao caos. A indústria, como sabemos, não é comandada por muitos, ainda que os poucos promovam vários rolês. Talvez seja a hora de a quantidade ser menor para que a eficiência seja grande e aconteça nisso uma reconstrução sólida do mercado, dos artistas e de quem paga para a roda girar.
Os grandes e médios festivais retornarão, mas com qual cara? Nacionalizados diante da ultrajante desvalorização da moeda brasileira, acreditamos. Pagar em dólar e euro para atrações poderosas se tornará uma operação quase 007. Sob a pena de ter ingressos caros –e pouco consumidos- a opção de pagar em real é a menos arriscada. Sendo assim, dá pra crer em um perfil renovado e em verde-amarelo.
O comércio das viagens pela música se desaquecerá, também. O valor do real causará estragos em todo esse cenário. Seria o momento das marcas internacionais, tendo ciência de seu poder de compra sobre o Brasil, virem aqui e causarem comoção com ofertas que o mercado nacional não poderá ter? É uma possibilidade plausível e que recupera aquilo que o país assistiu no início da última década, mas sob a dependência de uma estabilidade político-financeira que não há, hoje, no nosso quintal.
A parcimônia será companheira dos precavidos nessa tarefa duríssima de reconstruir uma indústria extremamente afetada. Aos novos, paciência, vai demorar, mas as oportunidades surgirão. Aos experientes e reconhecidos, força. A cena precisa de vocês como nunca antes. A saudade e a vontade do público, tenham certeza, é a maior que já existiu, mas as condições tendem a ser as piores. A conta não vai fechar fácil, mas sempre tem um jeito. E tudo passa pela música.