Nos últimos 2 anos, uma nova subvertente, que chama atenção por onde passa, e cujas principais características fazem com que seja impossível não ser reconhecida, está dominando as paradas de forma incessante. Estamos falando do Slap House.
É inevitável que, ao se falar sobre os hits do momento, “Slap House”, em algum momento, se torne o assunto principal. É simplesmente um fenômeno explosivo, e que indiscutivelmente tomou o mundo.
Com uma sonoridade cativante e universal, atrai os ouvidos até mesmo daqueles que não se consideram natos ouvintes de música eletrônica, mas se deixam levar pela vibe da vertente. Isso se deve a um conjunto de fatores, desde seu arranjo e dinâmica, que fazem deste estilo capaz de transitar entre o mundo da música eletrônica e do pop, com uma sonoridade muito reconhecível.
Como identificar um Slap House?
É uma subvertente de marca forte, com uma fórmula que se repete através dos hits, se reafirmando e consequentemente se fortalecendo a cada lançamento. Ao falar sobre esta estética, estamos nos referindo a vocais graves e beirando o robótico, percussões fortes e dançantes, sendo guiados por um arranjo pop. Mas a grande estrela que torna esse estilo tão marcante, e que o dá nome, é seu bass.
Isso porque “Slap” é o nome dado a uma técnica muito difundida de se tocar, principalmente nos baixos e contrabaixos, em que, de maneira agressiva, se reproduzem sons percussivos no instrumento, batendo precisa e fortemente em suas cordas. E o elemento principal do Slap House é seu bass forte, cheio de “punch” e personalidade, conferindo às músicas do estilo, grooves únicos.
Mas e o Brazilian Bass?
Mas, espere aí… Isso te traz alguma memória? Se sim, é porque o Slap House é recorrentemente associado ao clássico Brazilian Bass, estilo criado e consolidado no Brasil em meados de 2016, e que conquistou diversos e fervorosos fãs. Disseminada, principalmente, por nomes como Alok e Liu, a sonoridade ganhou palcos, rádios e a atenção do mundo todo.
As semelhanças entre os dois estilo não é coincidência, o Slap House é fruto de um processo pelo qual o Brazilian Bass passou ao longo dos anos, a partir de quando começou a ser aderido por DJs internacionais e, consequentemente, passou a ter novas referências musicais internacionais que, com o tempo, convergiram no Slap House, que hoje tem características muito particulares que o diferenciam do Brazilian Bass.
Quando pensamos sobre a “transição” entre esses estilos, um dos artistas que podemos considerar peça chave nessa história toda é o americano Kevin Brauer, ou, como é mais conhecido, Sevenn, isso porque ele teve o Brazilian Bass, de Alok, como inspiração para criação do projeto Sevenn, e trouxe em sua musicalidade diversas referências do estilo.
Pouco tempo depois, em 2016, emplacou junto de Alok uma nova versão de “Byob”, da banda “System Of A Down”, uma música que, se lançada atualmente, seria, sem dúvidas, considerada um Slap House, uma sonoridade moderna e requisitada por muitas gravadoras.
Em 2017, Sevenn lançou a track “Boom”, colaboração com Tiësto, uma música que se tornou hit, com o baixo marcante do Brazilian Bass como elemento principal. Além disso, Tiësto vinha trazendo algumas tracks de Brazilian Bass para seus sets, o que já indicava seu interesse pela sonoridade. Era o início da interação responsável por dar início à uma exportação definitiva do Brazilian Bass para o mundo.
A coroação do Slap House
Anos mais tarde, surge, de maneira definitiva, o Slap House que, para muitos brasileiros, é indiscutivelmente uma versão repaginada do Brazilian Bass, com um novo ar e novas características próprias, mas agora se tornando febre em terras europeias. Foi, então, no fim de 2019, que tivemos um hit responsável por trazer a tona a potência do Slap House, o remix da música Roses, do rapper SAINt JHN, pelas mãos do produtor Imanbek, que teve como propulsor o início do absurdo crescimento do TikTok.
Logo o estilo foi reconhecido por grandes gravadoras, como a Spinnin’ Records, e começou a se consolidar como tendência, sendo uma sonoridade cada vez mais buscada pelas labels, servindo de inspiração para diversos artistas, fatores estes responsáveis por elevar o Slap House a níveis globais.
Alok, que anos antes foi responsável por dar nome e cara ao Brazilian Bass, apostou sua sonoridade ao máximo sobre a nova estética fazendo grandes lançamentos no estilo, como seu remix de “Piece Of Your Heart”, do Meduza, “On & On”, seu cover remix de “Hear Me Tonight”, “Love Again”, entre muitos outros lançamentos, ao ponto de se tornar influente na sonoridade do Slap House tanto quanto um dia foi no Brazilian Bass.
Em 2020, mais um dos hits de Slap House foi lançado, o remix de Goosebumps, de Travis Scott, feito por HVME. A música original, apesar de ter bombado, foi lançada em 2017, e em meados de 2020 já não era mais novidade. Porém este remix, de maneira impressionante, trouxe a track “Goosebumps” de volta às paradas, acumulando um total de quase 200 milhões de visualizações no YouTube.
Também em 2020, foi lançada a track “The Business”, de Tiësto, provando que o Slap House ainda está longe de esfriar, sendo que, uma faixa produzida com uma fórmula e características comuns da subvertente (e executada com muita qualidade) bombou e atingiu a marca de mais de 300 milhões de streams, só no Spotify.
Com a chegada de 2021, nada mudou. Dentre muitas vertentes que se desenvolveram ganhando seu espaço, e muitos outros que passaram a ser considerados fora de moda, o Slap House continuou sendo recorrente entre as tracks mais famosas do mundo. Este estilo, que poderia ter sido apenas mais uma entre várias rápidas febres virais, conquistou seu lugar na cena e vem se provando duradouro e estável.
Essa jornada fez do Slap House um estilo próprio, desprendido e independente do Brazilian Bass. Seu ritmo, seus vocais manipulados, suas atmosferas melódicas e seu arranjo pop, garantem sua personalidade forte, conjunto de fatores que o diferenciam de seu antecessor brasileiro, ainda sem excluir o fato de que é um produto direto deste, que se tornou uma manifestação única dentro da música eletrônica, sendo um estilo influente e importante na atualidade da cena.