discotecagem

Técnica ou vibez, o que vale mais na hora de discotecar?

Ser feliz ou ter razão? O dilema da discotecagem! É claro que essa metáfora do Iluminismo tem uma aplicação muito particular na música eletrônica e é dela que vamos falar. 

Ao subir em um palco, o que o DJ precisa ter como prioridade: ser perfeito em sua técnica ou acertar na emoção? Se permitir falhar em nome da boa energia e repertório ou despender de todo foco e atenção para que a precisão seja inquestionável? Um dilema que norteia várias rodas de discussões acerca da cena e que será o assunto desse “Vibez em Pauta”. 

Os perfeccionistas têm os ouvidos treinados para notar que uma transição foi perfeita ou foi equivocada. Se a mixagem tem a técnica adequada ou se soou amador. Se o DJ está acontecendo no palco ou se o pen drive é a estrela do dia. Outros, se deixam comandar pelas sensações. 

Se a música mexe com suas emoções, os erros importam pouco ou quase nada. Se o repertório agrada, a festa está garantida e as vibez, ainda mais. Quem tem razão nessa dividida? Há ainda DJs que nunca se ouvem por medo de notar algo que fizeram “errado”, mas será que esse erro importa?

Lembremos aqui de alguns momentos. Teu colega metido à discotecagem, em uma dessas festas de amigos, sem qualquer pretensão, vai selecionando músicas que agradam teu ouvido, e, sem muito cuidado, as sequência em uma controladora.  Com certa brutalidade, elas vão se sobrepondo e fazendo uma espécie de set. A playlist tem escolhas extremamente felizes e que incendeiam a pista. A festa toma uma proporção de êxtase e ninguém que curtia se deu conta de que não haviam lá sequências e transições precisas, cuidadosas e discretas. O que foi perdido por isso?

Lembre-se aí também daquele festival no qual um DJ que você ainda não conhecia, num dia improvável, executou duas horas de músicas levemente distantes das suas prediletas, mas com uma precisão, com uma qualidade, com absoluta correção técnica que saltou teus olhos para algo que, certamente, num primeiro momento, não seria digno da tua disposição. 

Você sabe que já viveu esse momento e depois, discretamente, foi atrás para saber quem ele era. O processo limpo te ganhou para além de alguns minutos esparsos de um rolê. 

DJs, acostumados ao julgamento, relatam também que já deixaram de ouvir ou rever suas apresentações  para que não se cobrassem pelos erros técnicos que poderiam ter cometido, mesmo que, no geral, pista, contratantes e staff tenham sentido e curtido o set. 

Será que vale a pena? Qual o maior motivo para a música, os produtores e a própria discotecagem existirem? Um tanto quanto retórica, a pergunta só pode ter um tipo de resposta: pela alegria. Pelas vibez. 

Se você chegou até aqui e ainda procura por uma resposta objetiva para a pergunta que este artigo deixou, saiba, você não a verá. Um set precisa ser perfeito? A perfeição é inatingível. Um set deve ter transições limpas e agradáveis? Sim, um hábito comum entre os melhores. Algo que os diferencia, mas o conceito ainda é superestimado. 

O que fecha a equação é o quanto de felicidade aquele momento proporcionou. Se mais correto ou mais vívido, se mais forte ou mais frio, são as mais diversas variáveis. A constante é apenas o sentimento.