The Blessed Madonna: Música eletrônica com diversas bandeiras

Mas agora eu ouço alto e claro. Meu nome de artista tem sido um ponto de controvérsia, confusão, dor e frustração que distrai coisas que são mil vezes mais importantes do que qualquer palavra única nesse nome. 

Estamos vivendo tempos extraordinários e essa é uma parte muito pequena de uma conversa muito maior, mas todos temos a responsabilidade de tentar afetar as mudanças positivas da maneira que pudermos. Quero que você se sinta confiante na pessoa que sou e no que represento.” 

Essas são as falas de Marea Stomper num post em seu perfil no Instagram, onde anunciava um dos mais marcantes – e delicados – momentos de sua carreira: a troca de seu nome artístico após controvérsias. Mas este não foi o fim, muito menos o início de sua carreira.

Marea viu nascer a cena da música eletrônica como conhecemos hoje e há muitos anos ganha as pistas como The Blessed Madonna ou The Black Madonna – seu primeiro nome artístico. 

Movimentando pistas ao redor do mundo através de sua mistura de Disco e Techno com o típico Chicago House, conscientiza a cena a respeito do espaço de minorias sociais na música eletrônica e, sem dúvidas, representa o que é ser uma artista fora da curva. 

Se você é um bom amante do House e Disco, curtindo tracks que, na mesma medida, são super melódicas e cheias de groove, mas acha que existem assuntos que precisam ser mais debatidos na música eletrônica e ainda não conhece a The Blessed Madonna, você precisa conhecer!

O que definiu a carreira de TBM teve início muito antes de este ser seu nome artístico. Aos 14 anos, Marea Stomper foi à sua primeira rave e, pegando gosto pelas festas, não parou mais. 

Sua carreira na indústria da música começou quando passou a vender camisetas, pirulitos e, principalmente, mixtapes em raves ilegais, época que pegava, junto de seus amigos, horas de estrada de um evento a outro. A partir disso, viu o crescimento da cena da música eletrônica nos Estados Unidos de perto, tendo feito parte das primeiras raves americanas. 

Não apenas sua carreira, mas seu pensamento político também começou a se desenvolver nessas raves. Marea vinha de uma cultura muito tradicional do interior rural do Kentucky e, tendo sido considerada uma jovem fora dos padrões da sociedade por possuir uma “não conformidade de gênero”, sofria muito bullying.

O percurso único que Marea fez através do mundo da música eletrônica em sua juventude, bem como o fato de ser considerada estranha no interior do Kentucky por ouvir música eletrônica, a inspiraram a trilhar o caminho de seus artistas favoritos, como Paul Johnson, Boo Williams, Terry Mullan e, ao seguir seus heróis, ela não poderia parar em outro lugar que não fosse Chicago, para onde se mudou e onde se consolidou. 

Já em Chicago, em 2012, Marea foi chamada para trabalhar no Smart Bar, um dos mais antigos e tradicionais clubes noturnos americanos, onde teve uma forte influência do House e do Techno Norte-Americano, pois foi responsável por alterar a maneira como a música eletrônica era tocada no ambiente.

Ela, com essa postura, foi contra o que considerava o status quo imposto na música eletrônica, ao dar prioridade de residência para artistas locais e minorias sociais, levantando a bandeira de que EDM é para todos. 

Marea, na época ainda sendo reconhecida pelo pseudônimo “The Black Madonna”, lançou a primeira track responsável por projetá-la na cena, a “We Do Not Need No Music (Thank you Rahaan)”. No ano seguinte, em 2013, fez mais um reconhecido trabalho, o EP “Lady Of Sorrows”, a partir de quando passou a ter eventuais lançamentos ao longo dos anos. Sua carreira foi ascendente desde então!

Em 2020, Marea Stomper mudou seu nome artístico de “The Black Madonna” para “The Blessed Madonna”, devido petição online que a acusava de uso inapropriado do termo:

… a Madona Negra tem significado para católicos em todo o mundo, mas especialmente para católicos negros nos EUA, Caribe e América Latina. Além disso, o Santuário da Madona Negra de Detroit tem sido uma figura cultural importante para muitos interessados ​​na ideia de feminismo negro e autodeterminação nos últimos 50 anos. À parte as conotações religiosas, deve ficar claro que em 2020 uma mulher branca que se diz negra, é altamente problemático”.

Neste mesmo ano, produziu o álbum de remixes de “Future Nostalgia” da estrela mundial Dua Lipa, o “Club Future Nostalgia”, mostrando a que veio, com o poder do House clássico e todas suas referências musicais. 

Em 2021, a artista participou no vocal de uma das tracks mais aclamadas do ano, “Marea (We’ve Lost Dancing)”, do artista “Fred again..”.  O DJ usou como vocal principal da track uma frase de Marea gravada durante uma chamada de vídeo dos dois, na qual ela falou sobre as perdas da pandemia.

A música conta com quase 100 milhões de streams só no Spotify. Uma artista versátil, de posicionamento e muita criatividade. Um marco para a cena.