O retorno de Tiko’s Groove ao centro da conversa chega em um momento em que a House Music volta a ocupar espaço de destaque nas discussões globais. No ADE deste ano, o assunto foi unanimidade: o piano está de volta, os vocais melódicos recuperam força, e a cena busca produtores capazes de equilibrar técnica, identidade e funcionalidade de pista.
Dentro desse contexto, “Don’t You Know”, novo lançamento do artista ao lado de Gosha, surge como um movimento preciso para recolocar Tiko no radar de quem acompanha a evolução estética do gênero.
Diferente do período em que seus hits explodiram nas rádios e nas pistas ao redor do mundo, Tiko aparece agora com uma leitura mais refinada do mercado. “Esse é o som que me representa hoje: moderno, melódico e cheio de energia”, ele comenta enquanto apresenta a faixa, construída sobre seu clássico piano melódico e guiada pela personalidade vocal de Gosha.
O resultado não tenta emular tendências; ele se encaixa naturalmente no momento da cena, que vive uma fase de transição entre o emocional e o funcional, entre o club e o mainstream.
O processo criativo também diz muito sobre essa reinserção. A música nasceu rapidamente, em um período de mudanças pessoais importantes, e Gosha trouxe para o vocal a camada emocional que costura a narrativa de forma orgânica. Em uma semana, a faixa estava praticamente pronta; um reflexo de quando técnica, intenção e história se encontram. “Expliquei tudo para o Gosha e foi mágico”, conta Tiko ao revisitar o início da colaboração.
“Don’t You Know” marca um reposicionamento que não depende da nostalgia. Tiko não tenta revisitar a sonoridade que o colocou no mapa; ele a redesenha. Isso se torna ainda mais relevante em um mercado que, apesar da avalanche de lançamentos semanais, nem sempre entrega faixas pensadas para funcionar de verdade na pista.
Tiko percebe essa lacuna com a naturalidade de quem sempre criou música com essa finalidade. Para ele, a cena vive um momento em que a tecnologia acelerou processos, mas a lógica do baile, de criar algo que realmente faça as pessoas reagirem, acabou ficando em segundo plano.
“Hoje falta música que faça as pessoas dançarem e cantarem”, resume o artista. E é justamente essa vivência de pista que seu novo trabalho traz de volta; não como manifesto, mas como competência.
Disponível em todas as plataformas de streaming, o lançamento também amplia o diálogo com a nova geração de produtores e público. Ao apostar em uma House Music moderna e emocional, Tiko sinaliza que sua experiência não o distancia do agora; pelo contrário, o torna ainda mais relevante dentro de uma discussão que estava restrita a nichos.
O artista não surge apenas com um single: ele reaparece com uma perspectiva. E isso transforma a narrativa de “um nome histórico volta a lançar” em algo muito mais interessante: um artista com trajetória sólida voltando a influenciar a conversa atual da cena eletrônica.
Com “Don’t You Know”, Tiko estabelece o ponto de partida para o que pretende construir daqui para frente. A próxima faixa com Gosha, já finalizada, reforça que essa não é uma ação isolada, e sim o início de uma sequência de lançamentos que pretende reposicioná-lo definitivamente dentro da House Music contemporânea.
No fim das contas, o que esta fase representa é simples: um artista que fez parte da formação de uma geração de ravers e clubbers brasileiros está novamente criando música que dialoga com o presente, e que pode, mais uma vez, influenciar o futuro do mercado.
