O ano era 1992; a cidade, Londres. Foi no sul da capital do Reino Unido, em Croyden, que surgiu a pedra fundamental de um movimento que carregaria milhões de sonhos e de pessoas. A Big Apple Records do apaixonado e esforçado John Kennedy era um expoente de tudo o que se fazia no Progressive House e no Techno, mas os anos foram passando e a loja ganhou concorrência. Eles precisavam de algo novo para retomar o sucesso.
Ao lado de um grande amigo chamado Arthur, de codinome Artwork, Kennedy dividiu os andares de seu espaço e começou a ceder lugar para as GIGs acontecerem por lá. O efeito foi quase imediato, e a Big Apple explodiu. Para dar conta da demanda, o britânico contratou o jovem Hatcha, DJ em começo de carreira, para tocar ao seu lado. Trazendo novos sons e clientes, a combinação deu certo e eles fizeram daquele ambiente musical um verdadeiro sucesso.
Ao longo do tempo, a loja criou proximidade com uma sonoridade mais profunda e ligada ao UK Garage, típica do Reino Unido, que, naturalmente, ajudou a fundar o que se conhece hoje como Dubstep. Artistas como Sounds of the Future, Zed Bias, Wookie, Oris Jay e EI-B foram influências para os pequenos que frequentavam aquele ambiente e tudo o que se fazia ao longo do final da década de 90. Entre eles, Benga e Skream se tornariam dois dos mais importantes nomes da vertente.
À época, no entanto, ser parte da indústria era tarefa hercúlea. Sem os softwares de edição e construção que existem à palma das mãos, a produção acontecia em hardware e estúdios extremamente caros e raros. Foi só no final da década que surgiram opções populares que catalisaram toda a expansão da cena. O Fruity Loops, em 1997, e o Reason, em 2000, popularizaram o mundo dos beats digitais que tinha um histórico engessado e ligado ao universo dos milhares de euros.
Como te contamos por aqui, dois meninos foram protagonistas nessa mudança de cenário que tinha a Big Apple como figura central. Produzindo no FL, Benga e Skream, inspirados em Hatcha e no universo da loja de Kennedy, começaram o movimento que se tornaria um absoluto fenômeno. Não à toa, Benga lançou sua primeira música pelo selo aos 15 anos, ainda no início dos anos 2000, que, apesar de progressistas, colocariam ponto final em que foi a pedra fundamental para o princípio do ideal.
Já no novo século, o termo Dubstep foi finalmente cunhado. Pelas mãos de Neil Jolliffe, fundador da label Tampa, a vertente recebeu sua “oficialização”. Não demorou para que os artistas passassem a levar seus trabalhos para a casa mais nova. E, devido à repressão dos conservadores da música eletrônica tradicional e à expansão do mercado digital e da internet, a Big Apple não resistiu. Em 2004, John Kennedy encerrou as atividades comerciais dessa que foi uma meca da cena.
A história foi tomando forma, desde então, de maneira muito menos ordenada do que em sua fundação. Um marco definitivo foi a criação do fórum “The Dubstep” que, ano a ano, na primeira década dos anos 2000, teve papel preponderante na expansão do que era essa sonoridade, nas suas bases e no que propunham como movimento. Ao lado do programa ‘“Dubstep Warz” de Mary Anne Hobbs na BBC, mantiveram acesa a esperança através da qual o dubstep foi concebido e produzido.
Nessa fase, já mais conceituado e fortalecido, o Dubstep passou a lançar sucessos. O maior deles, na opinião deste amante da vertente, foi a track “Night”, produzida pelo ainda jovem Benga em 2008. Ao lado de “Midnight Request Life”, foi responsável pela primeira grande onda que se viu. O resultado dessa onda foi o efeito cascata que induziu a popularização da sonoridade até que ela chegasse, por mãos especiais, ao mainstream da música eletrônica. Começava, no início da nova década, o fenômeno Skrillex.
Norte-americano, Sonny John Moore, o aclamado Skrillex, mudou todos os patamares do que se conhecia e ouvia de Dubstep. Catalisador definitivo do movimento, o produtor mostrou ao mundo sua masterpiece, o EP “Scary Monsters and Nice Sprites”, com nove faixas que, juntas, somam mais de dois milhões de cópias vendidas ao redor do mundo, motivo para fazer do EP merecedor de dois reconhecimentos de platina.
Dono de sucessos estrondosos como “Bangarang” e “Reptile”, ele também já foi indicado a cinco categorias diferentes no Grammy Awards, além de ter vivido uma parceria com o DJ e produtor Diplo, mais conhecida como “Jack U”. O americano é um dos fundadores de uma das mais consolidadas gravadoras da cena, a OWSLA. O notável baixinho alterou o universo essencialmente underground do Dubstep para algo que pairou sobre o mainstream e que nunca mais passou desapercebido.
Um pouquinho de memória para quem quer aprender viver mais desse mundo fantástico passa por ouvir alguns dos mixtapes mais representativos da história. Em 2004, o “Dubstep AllStars”, do Hatcha; em 2008, o especial de Benga para a BBC; em 2007, Skream tocando para a BBC Radio 1; em 2009, Caspa e seu “Essential”, além de Rusko com sua produção exclusivamente concebida para o BBC Essential Mix.
Listas costumam ser unanimidades pouco inteligentes e propícias a orgulhos feridos, mas a modernidade mostra que Zomboy, Excision, Datsik, Knife Party, Borgore, Zeds Dead e Flux Pavilion, entre tantos outros, foram nomes que permearam o Dubstep e deixaram suas marcas para a história da vertente, que segue em franca mutação e reconstrução, em um processo quase infindável e que nunca se bastará com seu próprio retrospecto e seus nomes em evidência momentânea.
O Dubstep se alterou ao longo de seus mais de 30 anos. Há quem seja saudosista do aspecto mais melódico que marcou os primeiros momentos e há quem celebre o estilo mais rápido e intenso que é a letra da modernidade. Há quem tenha ídolos do passado e os que reverenciam os mais recentes. O que fica é a linda, intensa e representativa trajetória de uma vertente que nasceu de uma porta e ganhou o mundo.
O gênero tem características únicas e fortes que facilitam muito a sua identificação, pois normalmente carrega linhas de baixo muito fortes, padrões de baterias reverberantes, samples cortadas e vocais ocasionais. Costuma se manter na faixa de 138-142 bpm e apresentar um clap ou snare inseridos na terceira batida. A vertente ainda conta com subvertentes, sendo elas Brostep e Wobble-bass.
Zomboy
Joshua Mellody a.k.a. Zomboy é um dos produtores que você precisa acrescentar à sua playlist! O inglês também é um dos responsáveis por expandir a cena do Dubstep mundialmente e já deixou claro ser um fã árduo do Skrillex, que o inspirou a produzir no gênero. Confira abaixo um dos maiores sucessos do Zomboy:
Excision
O monstro do Dubstep Excision é conhecido por seus sons com muito bass e é considerado como um dos principais artistas independentes em cena. Ao longo dos anos, o canadense vem desempenhando um papel essencial na evolução de projetos visuais através de suas criações insanas, que incluem o revolucionário show X Vision como parte do X Tour em 2012, além do Paradox, uma experiência audiovisual gigantesca que levou a produção de palco para o próximo nível.
NERO
NERO é um trio britânico composto por Dan Stephens, Joe Ray e Alana Watson, a vocalista do grupo. Em 2011, eles lançaram seu primeiro álbum de estúdio, Welcome Reality, e explodiram nas paradas graças às combinações entre Bass e High BPM. Vencedor de um Grammy e indicado a muitos prêmios no Beatport, o trio se consagrou como referência em Dubstep e aqui selecionamos algumas das suas principais tracks:
Knife Party, Boys Noize, Slander, Kill The Noise, Krewella, Loefah, Borgore e Jauz são outros nomes que também passeiam pelo Dubstep em suas produções, e que você pode adicionar à sua lista de DJs a serem ouvidos caso curta essa vertente! Quer indicar outro nome? Comente!
Revisão por Hector Lopez