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“A música me salvou, e continua salvando”: DJ Anne Louise fala sobre missão e representatividade

Reconhecida internacionalmente como uma das grandes representantes do Tribal House, a DJ Anne Louise, nascida e criada em Salvador (BA), construiu uma carreira de alcance global após deixar o Direito para viver da música.

Com apresentações em mais de 30 países e passagens por festivais como Winter Party (Miami), White Party (Bangkok) e Xlsior (Mykonos), Anne se consolida como referência na cena eletrônica e também como voz atuante da comunidade LGBTQIA+.

A minha conexão com a música veio desde muito nova”, afirma.

Aos 5 anos, iniciou seus estudos em música, e aos 7 já se dedicava ao piano clássico. Apesar da formação tradicional, cresceu ouvindo de tudo, do rock progressivo ao axé music.

Esse conhecimento técnico e eclético me permitiu desenvolver uma identidade energética e, ao mesmo tempo, melódica.”

Seu processo criativo parte da observação constante.

Sou aquariana, então adoro clássicos, mas estou sempre conectada ao novo. Me desafio a pensar o que vem depois.”

Essa sensibilidade se conecta com suas raízes.

Salvador talvez não tenha tradição na música eletrônica, mas entende de energia. Meu contato com artistas do axé me ensinou muito sobre condução de pista.”

Ela revela que o apelido “Missionária da Felicidade” nasceu durante uma crise pessoal. 

Estava sozinha em um voo, cansada, decepcionando minha família, e me perguntei: por que ser DJ? Uma luz me respondeu: é a sua missão. Postei no Instagram a hashtag #missionaryofhappiness e percebi que ninguém nunca tinha usado. Ela era minha.” 

DJ Anne tem no currículo apresentações emblemáticas, do Paquistão a estádios no Brasil.

Tocar para 12 mil pessoas no Fabrik, em Madri, ou para 10 mil na White Party em Bangkok são momentos que me lembram de onde vim. Sou mulher, lésbica e nordestina, e isso ainda me emociona.”

Com o crescente interesse internacional pela música brasileira, a artista vê uma oportunidade.

Hoje é ‘cool’ tocar vocais brasileiros. Me orgulho de estar entre os nomes que impulsionam essa tendência. Se fizermos certo, o Brasil pode ocupar esse espaço por muito tempo.”

Fora das pistas, ela também é empreendedora. Criadora da UNIK Academy, escola de DJs com unidades em Salvador e São Paulo, Anne Louise propõe uma formação completa.

O Brasil ainda foca demais na técnica. Na UNIK, abordamos também contratos, branding, imagem e projeção de carreira. É isso que faz um DJ completo.” 

Atuante em eventos LGBTQIA+ no mundo todo, ela reconhece o peso da representatividade.

Cada vez que subo ao palco, digo: nós existimos, resistimos e brilhamos. A minha vivência é o que torna minha arte política, não por militância, mas por existência.”

Apesar dos avanços, ela ainda enxerga barreiras.

Existe um teto de vidro. Estamos nas line-ups, mas quantas mulheres e LGBTQIA+ tocam em horário nobre? Precisamos nos provar o tempo todo. E cansa…”

A artista está atualmente produzindo um novo álbum. A rotina intensa da DJ internacional, segundo ela, está longe do glamour.

É um trabalho muito pessoal, que fala de solidão, timidez, amor e superação. Vai ser emocionalmente intenso. É muito aeroporto, hotel e solidão. Já perdi malas, tive roupas rasgadas, problemas com alimentação. Tudo isso sozinha.”

Mesmo assim, nunca perdeu o foco.

Já pensei em desistir, mas lembro da menina que tocava piano sozinha em Salvador. Lembro das mensagens que recebo, isso me mantém. A música me salvou, e continua salvando.”

Para lidar com a pressão e as expectativas, ela aposta no equilíbrio.

Nem todo elogio me eleva e nem toda crítica me destrói. Tenho uma base sólida, minha parceira, amigos, minha equipe. E dançar. Quando danço, volto pra mim.”