No set de Vintage Culture no palco principal da STB SP, uma introdução dizia a seguinte frase: “Viver a liberdade é uma experiência transformadora”. E nessa frase reside uma verdade que permeia muito do que foi esse retorno triunfal de uma festa que já é grande demais para caber na sua antiga casa. O mundo mudou muito desde quando a pandemia, ou a falta dela, permitiu o último encontro.
Vintage já era um nome mundial, a Só Track Boa tinha uma família para chamar de sua, mas coloque doses exponenciais de crescimento nesses tópicos para que se chegue a um panorama mais claro do que é 2022.
Durante o isolamento, as portas se fecharam e os encontros foram através de lives de horas ou mesmo dias, sempre das casas dos nossos DJs preferidos. Lukas e Meca com o Bailão Elétrico são o melhor exemplo que posso usar para lembrar vocês do que vivemos.
O Canindé era grande – um estádio, ora bolas, mas Interlagos é uma cidade. Capaz de abrigar um Lollapalooza, para efeito de (uma puta) comparação. Abusada, a Só Track Boa trouxe até um palco coberto para sua edição paulista. Além do sempre impactante palco principal, com o visual característico de containers empilhados, que compõem uma ótima imagem para quem se espalhou ao longo das centenas de metros disponíveis para que todos se divertissem.
Lá no título, disse a vocês que se tratava de um festival anacrônico e aqui cabe outro disclaimer sobre o termo: algo que não segue uma linha temporal padrão. Vintage é o nome de maior apelo, e ele toca logo de cara, abrindo caminho para o resto do time de DJs que, inclusive, foi para bem além das fronteiras do Brasil, mas ele também volta para fechar, quando o dia já virou noite e passa a ser manhã. É nítido e claro que na STB o relógio fica pro lado de fora, e isso é uma qualidade raríssima.
E pra quem lá esteve, a sensação de Terra Prometida para ser generalizada e irresistível. Me fica a impressão que a falta, a saudade que é sentimento e também bordão, norteou o espaço. Das roupas bem pensadas ao visual cuidados, passando pelo carinho com os espaços instragramáveis, ou mesmo pelas opções de refeição e uma relaxadinha, mas a Só Track Boa optou por uma edição de redenção, oferecendo o melhor que poderia, e um pouquinho mais. Não à toa, o crème de la crème da cena nacional se fez presente, também figuras internacionais, como James Hype, Eli Brown, Korolova, Kasablanca, entre outros talentos.
Apresentações do duo Kasablanca podem ser contadas nos dedos de uma mão. Korolova fez sua carreira explodir durante a pandemia. Hype, como prevê seu nome, é filho das lives, bem como quase todo esse novo ambiente da Só Track Boa.
Trata-se de um novo momento, que agora tem um toque a mais de carinho, de abertura para quem está chegando, para quem não conhecia, mas que decidiu passar umas horas na companhia da música que até ontem era consumida na sombra.
Não pense você que uma edição histórica tem ares de endshow. Muito pelo contrário. A jornada da STB pelo Brasil, e por São Paulo, parece uma grande overture de nova década. Lukas prometeu, e em sua voz era visível a selvagem vontade por mais, que coisas enormes e novas estão por vir. Seria uma loucura duvidar do que ele(s) são capazes de fazer. O retorno após uma pausa tão prejudicial em inúmeros motivos já foi megalomaníaca – no melhor sentido do termo.
Não posso prever o que diria no review de 2023, mas ele será muito melhor do que esse foi. A grande missão que os fenômenos, pessoas ou eventos, têm, é não aceitar o sucesso e buscar por uma versão ainda melhor de si. A nota 10 eles já tem, mas a busca pelo 11 parece em franco processo. Ficamos daqui, prontos para o reencontro. Foi um prazer ter te vivido, Só Track Boa São Paulo.