Há nomes que marcam a história da música eletrônica, e há outros que a moldam. A CircoLoco pertence à segunda categoria. O que começou como um after-hours improvisado em uma antiga casa rural ao lado do aeroporto de Ibiza, em 1999, tornou-se uma das marcas mais influentes do mundo da música, transformando o conceito de festa em uma filosofia global de liberdade, arte e pertencimento.
No final dos anos 1990, dois jovens italianos, Antonio Carbonaro e Andrea Pelino, queriam criar um espaço que refletisse o verdadeiro espírito das Ilhas Baleares: livre, intenso, sem regras. A proposta era simples: abrir as portas do DC10 às seis da manhã de segunda-feira, logo após o encerramento das longas festas do club Space. O público? Todos aqueles que ainda não queriam voltar para casa.
O que parecia apenas um after informal logo se tornou um ritual semanal. A energia era crua, o som era puro e a sensação de coletividade, quase espiritual. Sem campanhas de marketing ou grandes investimentos, a CircoLoco cresceu pelo boca a boca, transformando segundas-feiras em dias sagrados para os devotos da música eletrônica.
Com o tempo, o que era uma festa underground passou a simbolizar um movimento cultural. Carbonaro define a essência do projeto como “a liberdade que vem da música e da conexão humana”.
Essa liberdade fez da CircoLoco um espaço onde artistas e público se reconhecem como parte de uma mesma tribo. Foi nesse cenário que DJs como Luciano, Black Coffee, Seth Troxler, The Martinez Brothers, Peggy Gou e Tale of Us consolidaram carreiras e se tornaram embaixadores do som das pistas de Ibiza para o mundo.
Da ilha para o planeta
Mais de duas décadas depois, a CircoLoco se expandiu para todos os continentes. O evento se tornou uma referência em cidades como Nova York, Los Angeles, Tóquio, Miami, São Paulo e Londres, sem nunca perder seu DNA underground.
Em parceria com a produtora norte-americana Teksupport, a marca transformou espaços industriais como o Brooklyn Navy Yard em verdadeiros templos da música, onde o concreto, as luzes vermelhas e os graves profundos criam experiências sensoriais únicas.
CircoLoco é uma celebração do caos controlado. Cada edição é diferente, mas a energia é sempre a mesma: uma fusão de arte, performance e música que transcende o entretenimento.” resume Rob Toma, fundador da Teksupport.
Essa expansão também permitiu que a CircoLoco se tornasse um símbolo de inclusão e descoberta artística, reconhecida por abrir espaço para mulheres e novos talentos em uma cena historicamente dominada por homens. A curadoria de Carbonaro é intuitiva, quase artesanal.
Escolher um line-up é uma arte. Não seguimos números, seguimos sensações”, afirma o fundador.
Da pista às passarelas e além
A influência da CircoLoco ultrapassou os limites das cabines de DJ. Seu estilo visual e atitude rebelde chamaram a atenção do mundo da moda e das artes. Ícones como Virgil Abloh e Riccardo Tisci criaram colaborações inspiradas no universo da marca, traduzindo sua estética clubber em roupas, instalações e experiências híbridas.
A marca também deu origem ao projeto No Soul For Sale, um laboratório criativo para parcerias com outras grifes e artistas, refletindo a filosofia que a guia desde o início: a arte como bem coletivo, nunca como produto à venda.
Em 2021, no auge da pandemia, quando o mundo das festas parou, Carbonaro decidiu recriar a CircoLoco fora das pistas. Em parceria com a Rockstar Games, nasceu o selo CircoLoco Records, que lançou o álbum “Monday Dreamin’”.
A coletânea reuniu lendas como Carl Craig, Dixon, Moodymann e Kerri Chandler, conectando o passado e o futuro da dance music em uma só narrativa. O projeto ainda ganhou vida dentro de Grand Theft Auto Online, levando o som do DC10 para o universo dos games, uma fusão inédita entre cultura digital e club culture.
Um culto moderno
O sucesso da CircoLoco não se explica apenas por sua música, mas pelo sentimento que desperta.
As pessoas se reconhecem aqui. Não é sobre status, é sobre vibração. É uma religião moderna — e a pista é o templo.” diz Carbonaro
Com mais de 25 anos de história, a CircoLoco continua sendo uma força viva, desafiando fronteiras e redefinindo o que significa viver a música eletrônica. Do amanhecer em Ibiza aos galpões de Nova York, a marca permanece fiel à sua essência: celebrar a liberdade e o pertencimento através do som.







