Em uma cena cada vez mais aberta a experiências sensoriais e espirituais, a DJ e produtora AYA apresenta um projeto que reposiciona o papel da música na relação entre corpo, território e ancestralidade. Batizado de Ritual Dance, o evento transforma o ato de dançar em uma ferramenta de cura coletiva, unindo beats contemporâneos, cerimônia de cacau e o conhecimento milenar dos povos Tupi-Guarani.
A primeira edição, batizada de “Ritual Dance Trip”, acontece nos dias 13 e 14 de dezembro na Aldeia Tapirema, localizada na praia de Peruíbe, em território sagrado do povo Tupi-Guarani. O local não é apenas cenário: é parte ativa da experiência. A floresta, o mar, o fogo, os cantos e a presença dos povos originários criam um campo energético vivo, que sustenta toda a proposta.
A música eletrônica como trilha do rito
Para AYA, a proposta não é criar mais uma festa, e sim abrir um espaço onde música eletrônica e espiritualidade indígena dialogam de maneira consciente e respeitosa.
O Ritual Dance não é apenas um show – é um chamado. É como abrir um portal onde música, propósito e ancestralidade se encontram. Quando eu entro nesse espaço ritual, sinto que não estou ali para entreter, mas para guiar uma viagem interior, onde cada batida, cada rezo e cada medicina da floresta ajudam a lembrar quem somos”, explica a artista.
Criadora do termo “Amazonic House”, linguagem musical que combina música eletrônica contemporânea, percussões orgânicas, rezos indígenas e paisagens sonoras da floresta, AYA transforma sua performance em um rito coletivo. A dança, nesse contexto, deixa de ser apenas expressão corporal e passa a ser compreendida como tecnologia ancestral de cura – um saber utilizado há milênios pelos povos originários para celebrar, rezar, liberar emoções e alinhar corpo, mente e espírito.
O movimento trazido pela música, a vibração das frequências, o corpo respondendo às ondas sonoras… Tudo isso é cura também. A dança libera, reorganiza, purifica e abre caminhos internos que muitas vezes não conseguimos acessar pela mente”, continua.
O papel do cacau como portal emocional
Um dos pilares do Ritual Dance é a cerimônia do cacau, guiada por Melina Dau, terapeuta ayurveda e facilitadora da medicina do cacau. Realizada antes do DJ set de AYA, ela prepara o estado emocional e energético dos participantes, criando um campo de escuta interna e abertura sensível.
Enquanto na maior parte das festas a energia é construída pelo consumo de álcool, aqui o caminho é oposto: o cacau é utilizado como expansor emocional, criando um estado de presença e sensibilidade que transforma a relação com a música.
No Ritual Dance, o cacau não é apenas servido – é honrado como um aliado espiritual. Ele nos coloca em um estado de conexão profunda, em que a música entra de outro jeito e a dança vira oração”, explica.
Cultura indígena no centro
O que diferencia o Ritual Dance de outras experiências é que a cultura indígena não é estética: é estrutura. Cocriado com a Aldeia Tapirema e estruturado de forma a honrar o território Tupi-Guarani, o evento é pensado para quem busca experiências conscientes, reconexão e presença plena.
Durante os dois dias de imersão, os participantes vivenciam práticas conduzidas pela própria comunidade indígena, como:
- Cantos e danças tradicionais Tupi-Guarani
- Rodas de conversa com saberes ancestrais;
- Trilha guiada para reconhecimento de ervas;
- Vivência de grafismo indígena;
- Preparação coletiva de garrafada medicinal;
- Fogueira com cantos sagrados;
- Feirinha de artesanato, alimentação típica e camping na aldeia
- Palestra sobre plantas medicinais da floresta;
- Roda de rapé e banho de ervas;
- Tour guiado pela aldeia e por espaços sagrados;
- Café da manhã comunitário
A presença dos líderes, das famílias, das crianças e da paisagem sagrada faz com que o território seja um agente ativo da experiência.
“Cantos Sagrados da Beira do Mar”
Outro momento simbólico da imersão é o lançamento do álbum “Cantos Sagrados da Beira do Mar”, do povo Tupi-Guarani da Terra Indígena Piaçaguera, reunindo rezos, borais e cantos ancestrais. Ao lado da Comitiva Tupi-Guarani Yramoî Djawe, AYA reforça seu compromisso com a valorização das culturas indígenas a partir da escuta, do respeito e da cocriação. Ouça aqui.
Estrutura em harmonia com a floresta
Todo o desenho do Ritual Dance nasce para coexistir com o espaço natural: o palco é integrado ao ambiente, o soundsystem privilegia profundidade ao invés de volume, e a ambientação utiliza grafismos Tupi-Guarani, tecidos orgânicos, luzes quentes e o fogo como elemento central.
AYA salienta que não se trata de levar um club à natureza, mas de permitir que a música se integre à aldeia.
Não quero transportar as pessoas para um club na natureza. Quero que elas estejam conscientes de que estão em uma aldeia indígena, em território sagrado ancestral. Um espaço-tempo onde a cultura indígena, a música eletrônica e o sagrado se encontram para lembrar que a vida é ritual, a dança é medicina e estar em comunidade é cura”, segue a idealizadora do evento.
Assim, o Ritual Dance nasce como uma label imersiva que transforma a forma como a música eletrônica pode ocupar territórios e significados. Ao reunir ritual, arte, natureza e comunidade, AYA propõe outra maneira de pensar o que é festa, o que é cura e qual é o papel da música na vida contemporânea.
Serviço – Ritual Dance Trip
Local: Aldeia Tapirema – Praia de Peruíbe – São Paulo, SP
Data: 13 e 14 de dezembro (sábado e domingo)
Horário: A partir das 16h
Atrações: AYA e Comitiva Tupi-Guarani Yramoî Djawe
Ingressos: R$ 895,00 à vista ou até 10x de R$ 99,00 via Jaguar Trips







