Como Tiësto conta a história da música eletrônica de forma genial através de sua trajetória

O holândes Tijs Michiel Verwest ganhou o mundo há mais de 20 anos como Tiësto, e desde então não saiu do topo da cena da música eletrônica. O artista tem um impacto imensurável na cena e, ao ver sua trajetória, enxergamos não só sua história, mas também a da música eletrônica.

Dentre diversos feitos de sua carreira, dois dos mais difíceis foram se consolidar como o maior do mundo em seu ramo artístico, e o segundo e tão difícil quanto, foi se manter no topo como um dos maiores, após sua consolidação. O nome do artista continua sendo um dos mais influentes do mundo mesmo tantos anos após seu apogeu. 

Além de seu som atemporal, existe também outro fator nessa equação: a versatilidade de Tiësto e, para isso, ele teve de se tornar um camaleão da música eletrônica, o que fez de forma genial. Sua carreira começou em 1985, quando tinha apenas 16 anos, tocando em festas escolares até se consolidar em grandes clubes da região, ainda nos anos 90.

Nessa época, Tijs começou suas produções com as alcunhas “Da Joker” e “DJ Limited” quando tinha uma sonoridade de Hardcore e Techno nichada na Holanda, mas logo percebeu que este estilo, que bombava em sua região da Europa, poderia vir a se extinguir – e de fato veio.

Outra sonoridade que vinha se desenvolvendo na Alemanha e Grã-Bretanha, e que começava a se espalhar pela europa e posteriormente Estados Unidos, chamou sua atenção: o Trance.

Tijs adotou um apelido de infância como nome artístico e começou a lançar faixas do estilo e assim sua carreira como Tiësto, que viria a se consagrar como expoente do Trance e um dos maiores DJs do mundo, começava.

Nesta época Tiësto ainda trazia resquícios do Hardcore, que incorporava em suas produções de Trance, como no exemplo de sua música “The Tube”, que traz agressividade e é mais rápida. 

The Tube – 1996

Em 1997, Tiësto lançou a primeira faixa de “The Magik”, uma compilação de lançamentos que viria a ser a mais vendida da história da música eletrônica. O holandês estava se aproximando ainda mais da sonoridade que iria lhe consolidar mundialmente, diminuindo o ritmo das músicas e adicionando mais elementos melódicos e atmosféricos. 

Theme From Norefjell – 1998

Seu principal destaque, porém, até aquele momento, foi um remix para a track “Silence”, de Delirium, com vocais de Sarah McLachlan. A faixa foi responsável por colocar Tiësto no radar dos ouvintes americanos, e ajudou a projetar o artista mundialmente.

Delerium ft. Sarah McLachlan – “Silence” (Tiësto’s In Search of Sunrise Remix)

No entanto, logo o épico Trance que se disseminava pelas pistas de diferentes continentes foi para um lado mais leve e formatado, com vocais repetitivos e cada vez mais parecidos. Foi quando Tiësto percebeu que deveria mudar um pouco de sua sonoridade e o fez no momento certo, trazendo novamente agressividade para suas produções.

Flight 643 – 2001

Em uma das grandes obras de Tiësto, ele encontrou uma medida entre as sonoridades de Trance com as quais ele já havia trabalhado. Resgatando uma melodia clássica do compositor Samuel Barber, “Adagio For Strings” consegue trazer a recente agressividade com que vinha trabalhando às melodias atmosféricas as quais já tinha trazido anteriormente.

Adagio For Strings – 2004

Entre 2006 e 2010 a cena da música eletrônica estava se aproximando muito do Pop e Indie, o que estava desconcertando DJs, produtores e fãs da cena, principalmente se levar em consideração a dificuldade que mudanças em estilos musicais por vezes geram, por questão de purismo ou saudosismo, mas não para o Tiësto.

O artista se distanciou de suas raízes e num movimento brusco se aproximou do Electro Pop, que vinha ganhando cada vez mais destaque na cena, e que nos anos seguintes abrangeria alguns entre os maiores hits de Pop e EDM. 

Um exemplo disso é sua faixa “Escape”, com CC Sheffield, que foi capaz de abranger um público muito mais novo, inclusive infantil, além de públicos acostumados com outras vertentes musicais.

Escape Me – 2009

Tiësto fez outro grande movimento quando foi para um Electro House mais pesado, e um bom exemplo disso é a faixa “C’mon (Catch ‘Em By Surprise)”, com Diplo e Busta Rhymes. A faixa mistura essa sonoridade emergente de Electro House, com algumas clássicas referências de Trance e linhas de vocal de Rap que deixaram a faixa muito mais comercial.

A partir dela, Tiësto começou a fazer parte de uma revolução que estava mudando a Dance Music como a conhecíamos até então.

C’mon (Catch ‘Em By Surprise) – 2010

Nos anos seguintes o artista que um dia fora um dos nomes mais influentes da música eletrônica underground através do Trance, agora estava se tornando uma estrela do Pop, enquanto embarcava na nova grande tendência da música eletrônica: o Big Room.

Com “Red Lights” Tiësto estava agora par-a-par com outros grandes artistas do Big Room Pop como David Guetta, Calvin Harris, Martin Garrix, Avicii, dentre outras super-estrelas,

Enquanto isso, milhões de seus fãs o conheceram nesta época, e esse é o Tiësto que grande parte de seu público conhece.

Red Lights – 2014

Em poucos anos porém a sonoridade em alta estava mudando, e este EDM do início dos anos de 2010 estava começando a dar espaço para novas sonoridades mais lentas, relaxantes e dançantes, como o Deep House por exemplo.

E adivinha quem estava lá? É isso mesmo.

“Summer Nights” lançada por Tiësto em 2016, com vocais de John Legend, é uma faixa de Dance Pop que tinha elementos dos quais ele vinha trazendo em suas músicas de EDM, mas estava num período de transição e também trazia uma sonoridade de Clube, que se assemelhava muito ao que vinha sendo lançado, como o Deep House por exemplo.

Porém, sem perder tempo Tiësto remixou a própria faixa, no estilo Deep House, e fez questão de colocar isto no título do remix.

“Summer Nights”  (Tiësto Deep House Remix) – 2016

Em 2017 Tiësto lançou uma colaboração com Sevenn, a faixa “Boom”, que trazia referências do Brazilian House que recém havia começado a se desenvolver. 

O estilo basicamente traz uma infusão de Deep House com Bass House, em faixas mais lentas e dançantes, porém ainda sim altamente enérgicas, caracterizado basicamente por linhas de baixo super destacadas e marcantes. 

Neste mesmo ano inclusive ele fundou a gravadora “AFTR:HRS” focada em Deep House, que surgiu como uma sub-gravadora da Spinnin Records.

BOOM – 2017

O artista continuou lançando faixas de Pop, que fizeram com que ele não tivesse deixado de sair das paradas em nenhum momento, como “Jackie Chan”, com Post Malone e Preme, e “Ritual”, com Rita Ora.

Em 2020 lançou a faixa “The Business”, numa pegada de Deep House, que trouxe também referências da nova moda do momento, o Slap House, que tinha chegado como uma repaginação do Brazilian Bass.

The Business – 2020

Porém, em 2020 Tiësto surpreendeu um público com lançamentos como VER:WEST, codinome inspirado em seu sobrenome, que utilizou para lançar faixas de Melodic Techno, com uma sonoridade mais underground, num estilo que tem se consolidado na música eletrônica, mas que é totalmente diferente do trabalho comercial que ele havia feito nos últimos anos.

Além disso, conseguiu aproveitar estes lançamentos para resgatar um pouco de sua saudosa sonoridade de Trance.

Seus lançamentos como VER:WEST foram inclusive lançados através de sua gravadora AFTR:HRS, que passou a focar mais em lançamentos de Melodic Techno.

Elements Of A New Life – 2021

Deste modo Tiësto conseguiu se reaproximar do underground, resgatando suas raízes, sem se afastar do estilo comercial ao qual ele vem desenvolvendo nos últimos anos. 

Inclusive, em 2022 bombou com um hit super comercial com a cantora Ava Max, onde trouxe a mesma fórmula de “The Business”.

The Motto – 2022

Os fãs que o artista conquista já não tem mais nada a ver com aqueles dos quais ele tinha no começo de sua carreira. E isso pode ser bom. 

Parte da nova geração que o acompanha por vezes se interessa por suas sonoridades antigas e passa a entender do Trance, ou conhece o Melodic Techno através de seu projeto.

Em contrapartida os fãs que conseguirem se despir um pouco do saudosismo e purismo, talvez passem a gostar do mundo mais comercial pelo qual Tiësto transita, enquanto abrangem seu leque.

O que a gente consegue perceber é que onde tem Tiësto tem tendência. Sua visão faz com que ele se antecipe diante das novidades do mercado, e assim ele consegue ser um dos nomes mais importantes e falados da música eletrônica durante décadas. 

Porém muito mais que isso, Tiësto conta a história da música eletrônica no mundo. Ajudou a popularizar-lá, e a partir de agora continua contando essa história, sempre acompanhando as tendências. Tiësto é vibez!

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