Após uma recente temporada causando por pistas em território norte-americano, DJ Glen já se prepara para retornar aos Estados Unidos, dessa vez para subir ao palco de um festival que como já bem sabemos, tem seu coração.
O artista integra pela quarta vez o line-up do Dirtybird Campout, que esta edição acontece entre o dia 07 e 10 de outubro e conta com nomes como Justin Jay, VNSSA, Walker & Royce, Of The Trees, Rebūke, EPROM e, é claro, a mente criativa por trás de tudo, Claude VonStroke.
Àqueles ainda não apresentados, o festival respira a essência da gravadora criada em 2003 pelo americano de Detroit, com objetivo de incentivar ouvintes e artistas a expressarem suas verdades, abraçarem suas paixões e, principalmente, estimularem pensamentos criativos de forma aberta e irreverente.
Dessa forma, além de música, o evento conta com diversas atividades paralelas, dos mais distintos vieses. Neste ano, por exemplo, DJ Glen além de fazer parte do line-up, também terá a oportunidade de reunir duas paixões antigas. O brasileiro foi convidado para ser o anfitrião da corrida de bike oficial do festival, relembrando seu antigo hobby sobre as rodas da BMX, da melhor maneira possível.
Isso tudo é fruto de uma relação prolífica entre Glen e VonStroke, iniciada há mais de uma década: “Foi em meados de 2005 que descobri a gravadora, um pouco antes do grande sucesso “Who’s Afraid of Detroit”, uma track que na época dizia todo o conceito da gravadora e do Vonstroke incrivelmente apenas com seu título, reforçando aqui a ideia da importância do título de uma obra.
Vale lembrar que por volta da mesma época, o hit do Fedde Le Grand viria começar a desbravar os solos férteis porém rasos do EDM com “Put Your Hands Up 4 Detroit”, com um estilo grotesco que talvez os newcomers nem se liguem mas, “Who’s Afraid of Detroit” caminhava numa paralela dizendo o contrário, que Detroit era a terra do Techno sombrio e pouco aberta a inovações, apesar de ter sido o berço de uma das maiores inovações da história da música.
Como gosto de viajar nessas paradas de história, já logo achei maneiro a gravadora de um cara que fugiu de Detroit por não conseguir fazer rolar um som mais colorido lá, e foi pra San Francisco, a capital hippie e gay dos EUA, com a alma de um cara da Techno City.
O que poucos sabem é que quando Vonstroke foi para San Fran, ele começou a trabalhar com Justin Martin, um dos DJs mais talentosos que vi na vida e foi só em 2012 que finalmente conheci ele, em um festival no México, quando o convidei para vir para o Brasil e fiquei no pé do festival Kaballah para fazer a tour, o que acabou dando certo, tão certo que no ano seguinte ele veio com toda a gravadora e o Big Boss.
A minha insistência em trazer a gravadora para cá foi justamente por acreditar que a personalidade deles faria sentido para a melhoria de um underground tão careta como o do Brasil, a gente precisava de uns caras que entendiam de Detroit pra falar para as pessoas aqui que underground não é galho seco e roupa preta, e sim o espírito de inovação e autenticidade, que podemos nos divertir sem ser góticos e ouvindo sons horríveis, mas também sem ser EDM tosco”.
O festival busca refletir o conceito americano de acampamento de verão e celebra, através de um espaço divertido, colorido e repleto de atividades, a união que a música proporciona, formando uma comunidade unida e realmente conectada a um sentimento familiar. Sobre o Campout Glen fala:
“É apenas um dos muitos eventos que a gravadora faz ou já fez, o extinto DB BBQ por exemplo era espetacular, mas infelizmente se encerrou quando o idealizador Grillson faleceu, em 2018, ele era meu fã e foi um dos que mais apoiaram os convites que tive para tocar lá.
A partir deste assunto delicado falo do principal, que é o espírito de família, algo que sinto similar aqui no Brasil com o Universo Paralello, por exemplo.
É extremamente cansativo, complexo e arriscado fazer um festival de muitos dias, com o line up de inúmeros artistas que estão lá apenas pelo som e não por mercado e venda de convites.
Desde o começo senti que o público médio de 5 mil pessoas deste festival poderia ser muito maior, mas quando questionei sobre isso a resposta já veio instantânea e óbvia, ‘se crescer muito a gente vai perder a nossa essência, não queremos fazer dinheiro com o festival e sim fazer algo único e bom’.
Se o dinheiro não é o que move um festival, então logo é a paixão dos envolvidos e a diversão de simplesmente fazer acontecer.
Então é meio que isso, os artistas gostam de estar lá e ficam acampados, é normal você ver todos eles passeando, comendo, se divertindo, participando das brincadeiras e isso sim é especial. Lembro de um dia ter acordado com a vocalista do Crazy P fazendo um dueto com o cara do Pillowtalk na frente da minha barraca, só porque eles acordaram na vibe, e depois ter dado dicas a ele como era ser pai e DJ e etc, depois de uns meses ficar sabendo que ele engravidou a esposa e se mudou pro Brasil! Oi? ahhahah.
Ou fazer amizade com o pai, a mãe e a irmã do Vonstroke, pedir um secador de cabelo pro Marshall Jefferson (o cara que deu o nome House ao House). Jogar futebol com o Ardalan e uns anos depois ele ser meu amigo e frequentar a minha casa aqui no Brasa, e por aí vai, uau atrás de eita, pra quem é fã deste tipo de música.
Ahhh, outras coisas que lembro que me chamaram a atenção foi ver os próprios donos do festival fazendo serviços não muito prazerosos mas que precisam ser feitos, como levar o lixo pra fora, pendurar decoração, montar barracas, dirigir carro com artistas, dar assistência de todos os tipos e claro que isso pode ser delegado para outra pessoa, mas eles fazem questão de atuar em tudo, eu acho isso phoda e as pessoas no festival ao verem este tipo de atitude acabam valorizando muito mais tudo e por final se esforçam para se divertirem ainda mais e manter tudo em ordem, como uma sociedade deveria ser, seguindo o pensamento do próprio Burning Man que faz uma influência bastante positiva em todos os festivais ao redor e consequentemente na vida das pessoas.
E a cereja do bolo ainda está por vir, este ano mesmo, em maio, coincidiu de eu estar em Los Angeles bem no dia de uma festa do Vonstroke, acabei aparecendo de surpresa e a recepção foi fantástica, ele me convidou para conhecer a casa dele durante a semana, fazer um som no estúdio, churrasco e essas coisas, foi um dos momentos mais recompensadores da vida, não consigo nem explicar tudo que senti e quão especial foi.
Depois deste dia ele me colocou novamente no line up do festival, que ouvi dizer que talvez seja o último”.
Para saber o que vai rolar por lá, acompanhe DJ Glen e o Dirtybird Campout pelo Instagram.
Por Louise Lamin