dj Gabriel Evoke entrevista
Na foto: Gabriel Evoke via divulgação

Do Tech House ao Minimal: Gabriel Evoke fala sobre a construção de sua identidade sonora

Não existe fórmula para o sucesso, muito menos um ingrediente milagroso que fará sua receita dar certo. Todos que sonham em se tornar um nome conhecido no cenário musical precisam somar diferentes atributos e um deles sem dúvidas é a identidade musical consolidada, afinal, é através dela que as pessoas reconhecerão seu som. Este é um processo que pode demorar meses ou anos, na verdade o tempo é relativo nesta equação e diferente para cada um.

No “estudo de caso” de hoje falaremos sobre Gabriel Evoke, DJ, produtor e proprietário do EVK Studio, onde dá aulas de discotecagem e consultoria para produtores. Inserido no mercado há mais de 15 anos e criando suas próprias músicas há 10, Evoke presenciou diferentes fases do mercado, mas sua conexão com a música vem de muito mais cedo.

Desde criança sou apaixonado por música, todo dinheiro que ganhava dos meus pais eu juntava e comprava CDs. Provavelmente as primeiras músicas eletrônicas que ouvi vieram dos famosos discos da Jovem Pan [risos]”, lembra em tom humorado.

Gabriel Evoke no início da carreira, foto por Caue Diniz

Ele começou a frequentar clubs desde muito cedo, antes mesmo da maioridade, sempre dando um jeitinho de entrar nas baladas.

Eu peguei uma fase bem legal dos Eurodance, Italo e House Music dos anos 2000, com Gigi D’Agostino, Lasgo, Alice Deejay, Gala, Bob Sinclair e Edward Maia. Era bem divertido”, conta Evoke. Nomes como os citados talvez tenham sido um gatilho para que a carreira de músico tomasse forma.

Em 2004, frequentando muitas raves e apaixonado pelo lifestyle clubber, começou a construir seu background curtindo festas diferentes e conhecendo pessoas, artistas e outras sonoridades. Passou uma temporada em Londres, na Inglaterra, e caiu de cabeça nas famosas squats parties, festas ilegais que rolavam na cidade, “foi uma ‘pós graduação’ nesse mundo”, disse ele, metaforicamente.

Em julho de 2005, já no Brasil, deu início a discotecagem e, por curiosidade, começou tocando Psytrance. “Gostava muito de artistas como Sesto Sento, Astrix, GMS, Tristan e Wrecked Machines”. Em 2008, insatisfeito com algumas coisas, trancou sua faculdade de Propaganda e Marketing e se mudou para Barcelona, onde deu início a um curso de Produção de Música Eletrônica com o espanhol Raul Mezcolanza.

Nesse mesmo ano fiquei sabendo que existia, no Brasil, um curso de graduação de Produção Fonográfica. Como sempre quis ter um diploma universitário, gostei bastante da ideia. Em 2009, fiz a transferência de escolas e dei início a profissionalização da minha carreira. Esse foi o ano em que tudo deixou de ser apenas um hobby para se tornar a minha profissão”.

Até aí, percebe-se que diferentes peças da música eletrônica foram sendo encaixadas por Gabriel Evoke em seu perfil, tendo nestes 15 anos a oportunidade de testar e experimentar muita coisa, como ele mesmo conta:

Passei por diversos gêneros, produzi do Deep ao Progressive House e confesso que foi muito enriquecedor para me descobrir como artista. Acredito que a mistura e a soma de tudo isso me desenvolveu e fez evoluir. Tenho minhas características, mas sou aberto a testar novas sonoridades. Sou apaixonado por música underground de pista e apenas deixo meu coração me guiar”.

Evoke deixa claro também que suas raízes sempre vieram da House Music e que por muito tempo apostou no Tech House, mas que ultimamente tem visto no Minimal características que lhe agradam mais.

Nos últimos anos, o Tech House foi levado por uma onda mainstream que não me identifico. Outros artistas estavam também descontentes e começaram a desenvolver novas ideias e uma cena foi se desenvolvendo. Como disse, sou super aberto a experimentar coisas novas e tenho descoberto um som que me agrada muito, paralelo ao meu Tech House. Se você perceber eu mantenho minha identidade enquanto artista, mas me adapto a novas sonoridades. O mais legal é isso, não se prender, buscar se reinventar e evoluir”, disse ele.

Neste processo de evolução, é comum que cada artista tenha contato com diferentes estilos, sua identidade sonora então começará a se solidificar a partir da união de características em comum desses sons.

É algo que você desenvolve com o tempo, enquanto testa, pesquisa e experimenta. Mesmo que um artista transite de um gênero para outro, você vai perceber certas características que o definem. Na medida em que você vai entregando material para o mercado e se apresentando, essa identidade vai ficando mais nítida. É o que vai te fazer único”, explica com sua própria visão.

Vale destacar que apesar de um estilo ou característica preencher uma parte maior da identidade, o processo de pesquisa de sons fora da “zona de conforto” deve ser constante, pois é se mantendo atualizado e se reinventando que os artistas conseguem entregar algo único ao público e, de certa forma, “educá-los” com o que cada um acredita.

Tenho me mantido em movimento. Estudado novas sonoridades, técnicas e, principalmente, testando-as. Sempre mantive um ritmo constante de produção, o que tem me permitido colocar bons lançamentos no mercado. Tenho assinado com ótimas gravadoras e o resultado tá vindo na mesma proporção, com a maioria das minhas músicas entrando para os charts do Beatport. Minhas produções são sinceras e mostram quem eu realmente sou”, finaliza.

Um dos lançamentos mais recentes de Gabriel Evoke você pode ouvir logo abaixo, o single “Ginga” pela Transa Records. Aproveite para acompanhar o artista no Facebook e no Instagram, pois ele está frequentemente compartilhando conteúdos relevantes aos profissionais da área.

Por Marllon Gauche