A imunidade ao tempo é o tipo de superpoder que a Marvel incluiria em qualquer herói de seu casting – Capitão América que o diga. Ainda assim, não é algo que temos disponível no mercado para pessoas regulares, mesmo que seja altamente desejado.
O quão bom pode ser alguém perpassar épocas, tendências, mudanças, novidades, desuso, esquecimento e seguir relevante, querido e exaltado? Essa resposta só Tiësto pode oferecer.
Aos 54 anos de idade, com ao menos 35 dedicados à música eletrônica, Tiësto deu aos fãs uma extensa lista de composições, compilações, singles e álbuns. “Drive” marca seu retorno aos lançamentos de álbuns, o sétimo de sua carreira entre aqueles produzidos em estúdio.
Com uma compilação de sucessos já globais e conhecidos, novos singles e colaborações surpreendentes, o material é uma grande noite de balada. As 12 faixas promovem uma gostosa mistura de ritmos que, em sequência, mostram sentido e uma linha rítmica evidente.
“Lay Low” é o mais recente single, uma música empolgante, forte e impactante, com os vocais de um coral de igreja, uma marca forte da cultura americana, que é a casa de Tiësto em suas residências de Vegas e onde estão os grandes portais de venda para música.
“The Motto”, com Ava Max, dispensa grandes introduções, já que, ao lado de “10:35”, com Tate McRae, mistura a batida e a voz de maneira semelhante, sem soar cópia. Elas são hits radiofônicos que abrem caminho para que o DJ holandês possa ser visto e ouvido por parcelas extra-muros do ambiente eletrônico.
“All Nighter” é um bom Electro Pop com um drop forte e seco, lembrando referências do Techno que não é exatamente da velha guarda, nem da nova onda do Slap House.
“Chills (LA Hills)” com A Boogie Wit Da Hoddie é uma música intrigante, que chega a incomodar por conta de ser inesperada. Ela oferece um bom ritmo passando numa linha fina entre o bom e velho Big Room e a roupagem do Trap. “Back Around”, com AR/CO, é uma baladinha leve, quase romântica, que nos convida a dançar.
Freya Ridings, dona de uma voz incrível, é quem traz brilho para a agitada “Bet My Dollar”. A canção tem um apelo para a epicidade, mas que conduz até um drop super brilhante e agitado. Faz sentir vontade de ir até a pista mais próxima.
Existe em “Drive” uma track que faz os olhos se encherem de nostalgia, que é o remix de Black Eyed Peas, em “Pump It Louder”. Um clássico do Pop, uma música que faz parte da vida de uma geração e que foi elegante e sutilmente rearranjada para uma ideia mais balada, mais acelerada, mas com o coração original ainda pulsante.
“The Business” é uma bomba histórica. Talvez seja aquela canção que tenha estampado o nome de Tiësto como o padrinho desse momento de uma música eletrônica dançante, radiofônica, TikToker e Instagramável, capaz de ser reproduzida aos milhões. Mesmo caso de “Don’t Be Shy, com Karol G”. São tracks globais, completamente absurdas em audiência e alcance.
“Learn 2 love” é um diamante do álbum, track mais rebelde e marcante, na visão deste articulista. Ela é abusada, tem um ritmo mais intenso, um vocal robótico que empolga e diversas quebras de ritmo, causando curiosidade e um certo alerta. Por fim, “Hot in It”, com Charlie XCX, é um fenômeno de audiência. Voltem aqui em 6 meses e me contem.
Um fato: Tiësto é um acontecimento. Lenda do Trance, expoente do “EDM”, preponderante no BigRoom, vanguarda no Slap House e dono de uma categoria de música só sua, agora. Um artista que fez sua obra ser quase maior do que a cena na qual está inserida. As pessoas ouvem Tiësto, mas nem sempre ouvem música eletrônica.
É preciso ser uma imensidão de talento, oportunismo e habilidade para ser relevante em tantas épocas, em tantas tendências e com tantas mudanças de cenários. “Drive” é só mais um exemplo. 12 canções feitas em laboratório para que se tornem hits, e isso naturalmente vai acontecer.
Estamos na presença de uma obra imune ao tempo, bem como seu produtor, que estará no Brasil em outubro, no Tomorrowland Brasil 2023.