Antes de começar a discorrer sobre seu tema dessa matéria, iniciaremos esse texto para falar sobre uma temática interessante e igualmente reflexiva que se conecta diretamente ao que virá a seguir: o pioneirismo.
Essa é uma das características humanas mais admiráveis, já que é através dela que movimentos progressivos acontecem. Pessoas pioneiras somam dentro de si inteligência, determinação, obstinação e equalizam razão e intuição para “furar a bolha”.
Há também um quê de coragem envolvido. Fazer diferente, pensar fora do quadrado, ousar, desbravar. Pioneiros são aqueles que se antecipam diante das possibilidades e da maneira que podem vão abrindo espaços até então inexistentes
E um segmento que atua de forma louvável é o pioneirismo feminino, que normalmente esteve/está envolvido aos universos masculinizados. E aí que essa equação fica bem mais complexa. Mulheres ainda precisam desprender uma energia muito maior para poder receber o devido respeito, mas não só conseguem como contribuem em moldar o comportamento social e servem de inspiração para as gerações subsequentes.
Quando pensando no universo da música eletrônica — por muito tempo com características majoritariamente masculinas — furar essa bolha definitivamente não foi algo fácil. Hoje, não só temos DJs e produtoras mulheres, mas também label heads fazendo um trabalho exemplar. Hoje, temos até mulheres trazendo temáticas de suma importância atreladas à música e abrindo espaço para reflexão por um viés diferenciado.
Ella De Vuono é um forte exemplo, tanto que lançou, no início desse ano, a faixa “Assédio”, falando sobre um tema até então pouco discutido dentro do cenário. E é por isso que, para endossar essa reflexão, a artista foi convidada para indicar cinco gravadoras lideradas por mulheres. E se você não entendeu a relação do texto acima com o que vem a seguir, olhe outra vez!
Baphyphyna
Label da produtora e DJ fluminense, Erica Alves. Sou fã do trabalho dela, a curadoria do selo é muito mais pela alma da música do que pelas questões técnicas. Quantas vezes eu já ouvi “pra entrar em tal label a master precisa ser impecável”, mas e o sentimento que cada música causa?! Além disso, a Erica se preocupa bastante com a diversidade sonora e artística, apresentando também podcasts deliciosos também.
Mamba Rec
Não tem como não citar a label responsável por todos os lançamentos do Teto Preto, projeto incomparável e sem igual de música eletrônica, sou super fã! O selo faz parte do grupo Mamba Negra de festas independentes de São Paulo, tendo à frente a produtora Laura Diaz e a DJ Cashu. Todos os lançamentos possuem uma identidade muito forte, são tracks que você só encontra lá.
Sous Music
Novo selo da DJ e produtora Anja Schneider. Ela fundou e manteve a Mobilee por 12 anos, mas recentemente saiu de lá e começou este novo projeto. Gosto muito da identidade raiz das tracks lançadas pela Sous, seja House ou Techno, todas têm elementos das décadas de 80 e 90 muito presentes.
BPitch
Indiscutível quando se trata de Techno raw. BPMs elevadíssimos, com bastante Hard Techno também, a label da Ellen Allien é uma das minhas preferidas do gênero. Quando estou afim de encontrar novidades do estilo, ela é a top of mind.
Metalheadz
Posso gerar uma certa estranheza quando cito aqui a label do Goldie, pioneira e se mantendo entre as mais relevantes na cena Drum N Bass há mais de 25 anos. Mas ele fundou essa label junto com um duo de DJs e produtoras chamado Storm & Kemistry, e muito dessa história, elas são as responsáveis. A Metalheadz é a típica label que, quando você quer apresentar o estilo para alguém, você mostra músicas dela. Não tem como falar de Drum ‘n Bass sem citar esse selo e é lindo saber que essa história começou a ser construída por duas mulheres também.
Gostaria de aproveitar o espaço e a deixa para falar em primeira mão que surgirá em breve mais uma label comandada por mulheres. Juntamente com a Maíra Gracini, executiva de marketing do mercado de T.I. — apaixonada por música assim como eu — vamos lançar nossa label.
Ainda não posso revelar o nome, pois estamos registrando a marca, mas com certeza, assim como tudo que faço, todas as tracks lançadas serão escolhidas pelo sentimento que elas causam e não por seguirem um padrão. A ideia não é limitar e sim expandir!
Por Maria Angélica Parmigiani
