Organizar eventos é algo promissor e desafiador, especialmente quando se trata de música eletrônica em locais fora do Brasil. Para os amantes da cena eletrônica brasileira, explorar os bastidores da organização de eventos internacionais pode ser uma experiência fascinante, repleta de curiosidades, diferenças culturais e desafios únicos.
Desde lidar com regulamentações locais até compreender as preferências do público estrangeiro, há uma infinidade de aspectos a serem considerados ao levar a vibração da música eletrônica além das fronteiras brasileiras.
À medida que nos aprofundamos no mundo da organização de eventos de música eletrônica fora do Brasil, deparamo-nos com uma série de diferenças culturais e logísticas que moldam cada experiência de maneira única. Desde a escolha dos locais e horários até a interação com fornecedores e autoridades locais, cada aspecto do processo de organização pode apresentar desafios inesperados.
Além disso, compreender as preferências musicais e as expectativas do público estrangeiro é essencial para criar uma experiência memorável e alinhada com os padrões internacionais da cena eletrônica. Nesse cenário dinâmico, a capacidade de adaptação e a habilidade de pensar de forma criativa tornam-se fundamentais para o sucesso do evento.
Para aprofundar ainda mais nosso entendimento sobre a organização de eventos de música eletrônica fora do Brasil, teremos a oportunidade de ouvir Julia Moreno, uma especialista experiente que reside na Irlanda.
Julia não apenas organiza eventos regularmente em solo irlandês, mas também tem sido uma ponte importante para artistas brasileiros que desejam se apresentar internacionalmente. Sua expertise e experiência serão valiosas para nos ajudar a entender os desafios, as nuances culturais e as melhores práticas envolvidas na produção de eventos de música eletrônica em terras estrangeiras.
Como você percebe as diferenças entre organizar eventos de música eletrônica na Irlanda em comparação com o Brasil?
Julia Moreno: Eu sou formada em marketing e no Brasil trabalhava num shopping center então a minha experiência em organizar eventos começou muito cedo, logo quando entrei nesse emprego com 20 anos. Tive uma grande oportunidade de trabalhar com pessoas incríveis e criativas e isso me deu a chance de aprimorar o meu conhecimento.
Os eventos que organizamos eram das mais diferentes áreas e maneiras, pois precisávamos seguir o calendários do mercado de varejo com as clássicas datas comemorativas como dia das mães, dia dos pais, dias das crianças e etc. Eu participei da organização desde eventos de corrida a desfiles de moda então isso foi muito positivo pra minha experiência profissional pois eu tive como experimentar um pouquinho de cada coisa. Porém a cada vez mais eu tinha a certeza que gostaria de organizar eventos de música, pois a música sempre foi algo muito presente na minha vida e sempre mexeu muito comigo então eu lá no fundo sabia que eu iria mais cedo um mais tarde me enveredar por esse caminho.
Porém enquanto morava no Brasil eu nunca cheguei a organizar festas como eu faço aqui na Irlanda haha, então quando eu decidi que faria o intercâmbio eu ainda do Brasil comecei a pesquisar quais eram os melhores clubes e festas daqui e comecei a contactar essas pessoas pedindo uma oportunidade pra quando eu chegasse. Obviamente ninguém nunca me respondeu pois naquela época meu inglês não era grandes coisas e também porque quem em sã consciência daria a oportunidade pra uma menina que nem no país está?! Enfim eu só precisava de uma única oportunidade e eu consegui essa oportunidade quando cheguei com um produtor local e daí pra frente o resto foi história.
Então eu não tenho um parâmetro de comparação em como eram organizar esses tipos de eventos no Brasil porque eu simplesmente nunca cheguei a trabalhar com música eletrônica no Brasil, tudo começou aqui na Irlanda em Dublin. E uma curiosidade sobre esse assunto é que quando Lorena e eu criamos a Eletro Vibez, em menos de 30 dias eu me mudei para cá, então tudo ainda era muito novo pra nós duas e a gente ainda tava tentando descobrir o que dava certo então eu vim na cara e na coragem haha, graças a Deus o início de um sonho que tem dado certo.
Quais são os principais desafios que você enfrenta ao trazer artistas brasileiros para se apresentarem na Irlanda e como você os supera?
Julia Moreno: Quando as pessoas pensam em Europa ainda existe aquele glamour aquela coisa de que aqui tudo é muito melhor e mais caro e mais chic haha mas não é bem assim. Hoje vivendo aqui na Irlanda por quase 7 anos eu vejo claramente como o acesso que nós temos a todo e qualquer tipo de material de produção, decoração e mão de obra no Brasil é mil vezes mais extenso do aqui na Irlanda.
No Brasil encontramos de tudo então a nossa liberdade criativa é muito maior, além de termos leis mais flexíveis para empresas do setor de entretenimento, então se uma casa quer funcionar 24h ela pode, se uma festa quer durar 48h ela pode. Aqui na Irlanda o horário máximo permitido pra tudo terminar é às 3h da manhã e as leis são muito rígidas com os clubes e promoters, então nossos eventos geralmente começam às 22h e terminam às 3h, e a galera brasileira tá acostumada a festas que duram mais tempo, a line ups com vários DJs aonde é possível se construir uma narrativa musical mais elaborada mas aqui tudo tem que ser feito com muito mais cuidado.
A Irlanda, mais precisamente na capital Dublin tem muito brasileiro então todo artista que a gente traz pira na vibe da pista porque é uma galera que conecta e que curte muito aquelas 4h horas de rolê haha. Hoje como já temos alguns anos de experiência nós tentamos investir em decoração no eventos então oferecemos uma festa mais completa, assim como também em todas as festas damos oportunidades para DJs locais se apresentarem no warm up e temos uma equipe que trabalha conosco e nos dá suporte que é incrível e muito parceira, então nossos eventos parecem mais como uma super festa de um grupo de amigos.
Você poderia compartilhar conosco uma experiência memorável ou um aprendizado importante que teve ao organizar um evento na Irlanda?
Julia Moreno: Olha eu nunca vou esquecer do dia que eu estava produzindo um evento de St Patrick’s (que é a data comemorativa mais famosa daqui) em 2018 e pra essa ocasião nós tínhamos convidado os DJs do Chemical Surf. A festa estava acontecendo num espaço na frente de um rio, lindo, porém não ideal pra aquele tipo de evento afinal ali era uma clube de remo que tinha uma estrutura bem básica e a gente teve que montar tudo do zero, do bar a estrutura pra os DJs tocarem.
O evento começou cedo e bombou demais, e era num espaço aberto então as pessoas que passeavam no parque que ficava do outro lado do rio passavam e não entendiam nada haha. Long story short, o Chemical terminou de tocar as 20h e em menos de 10 min após a polícia apareceu no local e acabou com a festa haha demos sorte que foi após o show principal e só teríamos um último dj fechando a festa porém foi um grande susto e um aprendizado logo no início da minha carreira pra eu já ficar ligada que aqui nao da pra dar jeitinho e improvisar porque estamos num país diferente numa cultura diferente então precisamos seguir as regras daqui inevitavelmente.
Como você vê o futuro dos eventos de música eletrônica em um contexto global e quais são as tendências que você acredita que moldarão a indústria?
Julia Moreno: Eu vejo hoje a música eletrônica saindo de um status de música pra “drogado” apenas e atingindo outros níveis jamais imaginados, com certeza o estilo furou a bolha do underground e hoje devemos isso a artistas como Alok por exemplo que quebra essas barreiras de formas muito democráticas.
Eventos como o Afterlife estão também mudando o ritmo da cena para frequentadores e produtores de eventos então vemos pessoas que não conhecem tanto assim de música eletrônica mas estão frequentando os eventos atraídos pelo espetáculo e promessa de um show completo e não somente um dj tocando num palco escuro.
Eu vejo a cena indo muito pra esse caminho onde você vai precisar ser 8 ou 80, ou seja, eventos de nicho que acontecem pra grupos de até 300/500 pessoas que conseguirem definir muito bem seu público e estilo vai se conectar com essa galera de uma forma muito intensa e ter uma legião fiel de seguidores e também vejo as festas gigantes como Afterlife se tornado cada vez mais comuns e atraindo uma galera completamente de fora da bolha para sentir a vibe da música eletrônica.
A música eletrônica precisa ser sempre lembrada como uma estilo musical que abraça todas as tribos, crenças, culturas e não faz distinção de nada, só pede respeito e que você não seja um(a) babaca na pista então precisamos lembrar do nosso dever como produtores de eventos de criarmos um ambiente seguro para todos e eu tento cada vez mais me aproximar desse valores quando faço as festas aqui e me sinto muito feliz de poder ser responsável por criar tantos momentos bons na vida das pessoas, por ter ajudado a criar tantos novos relacionamentos, amizades e histórias memoráveis de vida. É isso, muito obrigada e bora fazer vibez!
Gostaria de agradecer a Julia Moreno por compartilhar sua expertise e insights conosco. Suas experiências enriquecedoras e perspectivas valiosas oferecem uma visão fascinante sobre os desafios e oportunidades enfrentados por organizadores de eventos internacionais. Que possamos continuar explorando e aprendendo com os diversos aspectos desse emocionante universo da música eletrônica ao redor do mundo. Obrigado, Julia, por inspirar e enriquecer nossa compreensão deste tema tão vibrante e dinâmico.
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