Esqueça o papo de que vertente acabou. Sequer esteve próximo desse fim. Em certo momento, viveu o auge e cada um aqui, escrevendo e lendo, sabe o quanto esse som embalou grandes momentos que se eternizaram.
Não morreu
Nas mãos de Hardwell, Nicky Romero, Martin Garrix, Tiësto, e uma lista imensa de nomes, o mundo foi descobrindo do que se tratavam aqueles beats altíssimos e um clima digno de endshow. Havia uma novidade, uma sonoridade super especial e que foi sucesso nos grandes festivais. Era um fenômeno sem precedentes e sem data para acabar.
Como toda grande tendência, o ‘Big Room’ também presenciou uma superlotação de conteúdo. A produção mundial para esse subgênero foi absurdamente grande. Ao ponto de, em certa data da história, os grandes eventos se dedicarem quase em carga total para essa sonoridade.
Além do saudável
Era o caminho para a saturação. E assim se deu. Sem ter para onde ir, em busca de novidades, a cena precisou mudar. Revisitar outras vertentes e deixar ‘em um potinho’ aquilo tudo que havia se criado, propagado e vendido.
Era um fôlego para o mercado e para os fãs. E todo hiato traz consigo um bem inestimável: a saudade. Tornar nostálgico ao público que consome aquele produto, é uma tática quase infalível. Naturalmente que o Big Room não desapareceu como um passe de mágica, mas ele diminuiu a escala, reduziu a milhagem. E um dia, em especial, soou como mudança de Era, a passagem de bastão – a aposentadoria de Hardwell, o maior e mais ouvido expoente dessa sonoridade.
Inimigos do fim
Desde então, os fãs perderam a resistência, perderam quem nunca deixou de lado seu estilo. Abriria nisso o caminho para que aparecessem novidades, nomes, possibilidades. Quem pôde, seguiu com a bandeira, mas faltavam companhias, uma nova geração aparecer para remarcar a produção do que, hoje, já está quase uma década para trás.
Mudança de rotas
Martin Garrix é o nome mais famoso e representativo daquilo que foi a segunda geração do Big Room pelo mundo. Mas já consagrado e ainda jovem, o holandês já parece abrir horizontes e buscar sonoridades diferentes. Dimitri Vegas & Like Mike, os caras cujo sobrenome deveria ser ‘Big Room’, ainda que mantenham drops reconhecidíssimos em seus sets, atualmente produzem conteúdos ligados à música mais dançante ou com levada de hardstyle. Expandiram seu estilo para além do que (re)conhecíamos.
Espaço para mais BPM
Esse lapso temporal trouxe consigo o surgimento de algo que era escamoteado pela cena: o hardstyle. Uma outra dimensão sonora, que deixou de ser fonte de preconceito, para habitar frequentemente todo fim de set ou momento de ‘animar’ o público, ocupando, de certa forma, o que um dia foi terreno exclusivo do Big Room. Ainda assim, com bons olhos, era notável que os dois lados poderiam conviver harmonicamente e em acréscimo um ao outro.
La Resistencia
Durante o período de baixa, alguns expoentes não deixaram a bandeira cair. Os duos W&W, Bassjackers, VINAI, seguidos de Jay Hardway, Dannic, e os mais representativos KSHMR, Nicky Romero e Steve Aoki continuaram tocando adiante o que um dia foi o som do mundo.
E, apesar da necessidade comercial de apostarem em sonoridades que tomavam a moda pra si, eles nunca deixaram completamente de produzir o que os fez notáveis no início da carreira.
O novo mundo
A música eletrônica dessa década parece dominada pelo Techno e pelos sons com menos BPM e mais melodia, uma proposta completamente diferente do que se viu no passado. E que bom! Não há o porquê de não oferecer novidade para indústria.
A questão que cabe discutir e elaborar é sobre ”para onde vai” e “por quais mãos passará” o que já fez tanto sucesso, e que naturalmente voltará ao mainstream da cena. Impossível que algo ou alguém seja eternamente esquecido.
Quem será o responsável
Serão, no plural. Há uma geração que parece ter o Big Room cravado no coração e indisposto a mudar de caminho. O mais novo deles, Maurice West. Nascido na Holanda, o jovem de 23 anos parece ser uma alma antiga no mundo da música.
Ganhou fama por um remix de ‘Rhythm of The Night’, sucesso Disco de 1993. Recém-chegado aos maiores festivais, West é o autêntico produtor de Big Room. Sucesso como ‘Ressurection’ e ‘Matrix’ são alguns exemplos representativos. Impossível imaginar que a nova ascensão do Big Room não passe diretamente por ele.
Ainda que não seja a criança de outrora, KAAZE parece ter encontrado o caminho depois dos 30. Apadrinhado por Tiësto, o Sueco peregrinou com protagonismo por algum tempo, mas 2020 trouxe a ele uma imensa visibilidade com a track ‘I Should Have Walked Away’ e, naturalmente, relevância para outras tracks importantes como ‘Devil Inside Me’ e a colaboração com Hardwell para ‘This is Love’. Com dois álbuns lançados, e de caráter super autoral, ele reúne todas as credenciais para tocar o novo Big Room adiante. Marquem esse nome.
No Brasil
Não há por aqui uma grande produção de Big Room. Há momentos específicos de projetos como Marcelo CIC, FTampa, Repow e Sightseer, em que as produções voltaram-se a essa sonoridade. No mais, os maiores expoentes nacionais estão ligados ao House abrasileirado, as batidas características do nosso país. Seria muito importante que surgissem mais projetos nacionais dedicados ao Big Room.
Preparados?
Há uma nova era em curso. Ela contemplará a resistência das lendas e abraçará os projetos em ascensão. E o cume dessa evolução acontecerá quando a saudade estiver enorme. E não acreditamos que isso esteja longe de acontecer. Os hits do Big Room fazem parte da memória afetiva de cada um que compõe o mundo da música eletrônica. Ora mais, ora menos, seja agora ou uma outra época, essa sonoridade estará tão ou ainda mais forte do que já foi um dia.