Nos anos 60, a música brasileira chamou a atenção do mundo. A bossa nova de Tom Jobim e João Gilberto ganhou tamanha projeção no exterior que, até hoje, “Garota de Ipanema” ostenta o posto de segunda canção mais executada no planeta, atrás apenas de “Yesterday”, dos Beatles. Agora, em um movimento paralelo, os estrangeiros começam a descobrir que no Brasil também há música eletrônica bem feita e de qualidade.
Hoje em dia é impossível não pensar em Vintage Culture quando o assunto é música eletrônica no país. Será que um menino nascido no interior do Mato Grosso do Sul e que largou a faculdade na metade do curso de direito para se dedicar à música, imaginou que poderia atingir este patamar? Sem dinheiro para investir em equipamentos de produção e escondido dos pais, Lukas Ruiz – assim assinava suas produções no começo – passou três anos trancado e focado em suas produções.
Depois de perceber que seria relacionado sempre com Victor Ruiz, figura importante do techno no Brasil, Lukas sentiu a necessidade de criar uma nova identidade para seu projeto e de cara surgiu o insight do nome Vintage, muito por conta da sua paixão por músicas antigas e pela influência dos anos 80. Logo depois, ganhou um complemento e transformou-se em Vintage Culture.
Lukas Ruiz é um autodidata e não surgiu dentro dos principais cursos de produção que o Brasil oferece. Segundo ele mesmo, foram necessários alguns anos para encontrar a linha de som que atualmente representa a marca Vintage Culture.
Em um período onde a EDM dava sinais de queda com o público, buscando ouvir algo mais calmo, “conceitual” e com vocais conhecidos, surgiu o nascimento e a fortificação de Vintage Culture em conjunto ao Soundcloud – na época, era um ambiente muito mais povoado e independente. Nesse cenário, eram comuns os famosos bootlegs, edits e remixes não autorizados. Assim, Vintage conseguiu grande visibilidade remixando nomes como Cazuza, Pink Floyd, The XX e Phil Collins. São faixas que, se somadas, passam facilmente dos 20 milhões de plays no Soundcloud e YouTube.
Outro fator decisivo para o surgimento de Vintage Culture em um segmento nacional, foi o “apadrinhamento” de Luiz Sala – o DJ Feio – veterano no mercado brasileiro que, com sua experiência e prestígio, garantiu boas influências ao garoto. A primeira agência profissional a assessorar Vintage foi a Groove Agency, que na época já trabalhava com nomes como The Cool Cats e DeMarzo. Após a primeira apresentação do DJ na Green Valley, Guga Trevisani, um dos sócios da Entourage Conteúdo Artístico, entrou em contato por telefone e fez o convite para que ele entrasse para o casting da agência. Entretanto, Vintage alegou que não estava pronto o suficiente e achava que não receberia a devida atenção naquele momento.
2014
Em fevereiro de 2014, enfim Vintage Culture entrou para o casting da Entourage, que nesse período já era uma das maiores e mais profissionais agências do país. A partir daí, um grande trabalho de imagem foi feito em cima da marca do artista. Um novo press kit (currículo que precisa ser formatado de uma forma diferente, com um conteúdo que apresente o lado artístico) e uma verdadeira equipe de profissionais dedicada a trabalhar dia e noite para o crescimento do DJ e produtor contribuíram muito para que os números – que já eram grandes – aumentassem de forma exponencial.
2015
Com o apoio de toda equipe e seus empresários, Marcelo Arditti e Guga Trevisani, 2015 foi um ano de conquistas para Vintage Culture. Começando por sua apresentação no Palco Perry do Lollapalooza Brasil e a gravação do seu primeiro clipe internacional, “Slowing Down”, em Nova Iorque. Em maio, se apresentou no palco Smash the House, no Tomorrowland Brasil, e no mês seguinte realizou sua primeira turnê internacional, passando por países como Egito, Emirados Árabes, Turquia, Irlanda, Espanha e Bélgica. Em setembro, foi a vez de desbravar a África do Sul e voltar para o Brasil para sua primeira apresentação no Rock in Rio. Por fim, se apresentou no ADE na noite da Loulou Records e no Live in Amsterdam, com Goldfish e Bakermat. Além de ter feito uma residência no Green Valley.
2016
No ano de 2016, Vintage Culture reuniu sua equipe novamente para mais uma gravação de clipe internacional, desta vez em “Hollywood”. Mesmo sem ter participado da 18ª edição do Ultra Music Festival em Miami, por conta de um problema de saúde, Vintage fechou contrato com a Spin Agency – mesmo casting de Armin van Buuren e do saudoso Avicii – e com a gigante holandesa Spinnin’ Records.
2017
Depois de ter sido escolhido o número 31 “Top Dj” da DJ Mag, o ano de 2017 fez com que o mundo da música eletrônica o enxergasse com outros olhos. Abertura do show do Martin Garrix no Hï e no Ushuaïa (dois clubes de Ibiza), encerramento do Rock in Rio e participação no Lollapolooza fizeram com que Vintage decolasse na carreira, em conjunto com o crescimento da música eletrônica no país. Fora o fortalecimento da franquia Só Track Boa. “É simplesmente incrível e eu não posso ser grato o suficiente”, disse ele à revista DJ Mag, sobre o festival e sua rápida ascensão na carreira.
2018
A consolidação chegou em 2018 e como prova disso foi eleito um dos 20 melhores DJs do mundo pela DJ Mag, ficando na 19º colocação. Rock In Rio Lisboa (Portugal), Ushuaia (Ibiza), Mysteryland Festival (Amsterdã), EDC (Orlando), Lollapalooza (São Paulo) e, por fim, a turnê pelo Brasil em conjunto com o atual melhor DJ do mundo, Martin Garrix. Tudo isso em apenas um ano. Sem contar o ápice da Só Track Boa, com a qual realizou eventos em arenas da Copa do Mundo, alcançando até 20.000 participantes em alguns.
Como toda marca, Vintage Culture passou pelo “ciclo de vida” e agora colhe frutos. “Pour Over”, “I will find” e, por fim, “Save Me” foram algumas de suas grandes produções emplacadas durante o ano. É certo dizer que ele está entre os melhores do mundo. No entanto, como é um marco do povo brasileiro, Vintage ainda é subestimado pelo “complexo de vira-lata” (expressão que define a falta de autoestima perante aos outros países). Com mais shows por seu país natal – como fez nesse ano, é provável que isso dará um basta na falta de autoestima dos brasileiros.
Em qualquer debate que seja, mesmo sem entrar na discussão sobre quem é o melhor DJ da atualidade no Brasil (acho até insignificante), o projeto e agora realidade, Vintage Culture, tem que estar presente. Talvez quando começar a produzir música com artistas mais famosos terá o devido reconhecimento do seu trabalho. Ainda assim, acho que ele não precisa se submeter a necessidade de agradar todos os estilos musicais inclusos no cenário. A trajetória de sucesso do produtor Lukas Ruiz é mais do que a “pessoa certa na hora certa” e quiçá seja o primeiro case de planejamento para grande massa na música eletrônica nacional.
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