Uma festa que está no seio da música eletrônica do estado do Rio Grande do Sul é a Colours. Fundada por Fran Bortolossi em 2009, na Serra Gaúcha, ela inicialmente surgiu como um espaço para Fran apresentar seu som, devido a falta de lugares para discotecar no estado.
Com uma proposta de narrativa sonora conceitual, a primeira edição atraiu o público sulista quase vendendo todos os ingressos disponíveis.
Fran lembra que, quando a Colours começava, o estado passava por uma entressafra de anos, era carente de festas, com exceção de Passo Fundo, onde já havia a Beehive.
Eu lembro que a região da serra naquele momento estava sem clubs e festas expressivas, Porto Alegre vivia uma situação parecida com alguns DJs legais nas quintas-feiras do República de Madras, mas logo em seguida parou de rolar também. Com essa análise, vi uma boa oportunidade de criar uma festa bacana, focada 100% no House & Techno, além de proporcionar um espaço do jeito que eu imaginava para eu e meus amigos discotecar, com line ups coerentes”, conta.
E apesar da primeira festa com Alec Araújo ter sido um sucesso, os eventos seguintes foram bastante sofridos:
Era uma luta para virar qualquer evento. Quando tínhamos 300 pessoas ficávamos muito felizes e, se me recordo bem, no primeiro ano fizemos umas 6 ou 7 edições. Voltamos a bombar e esgotar todos ingressos só com o Fabrício Peçanha, no aniversário de 1 ano. Fizemos um trabalho de formiguinha que funcionou no decorrer do tempo e abriu um espaço bacana para muita gente. Hoje em dia sinto que temos muitos aliados que colaboram tanto ou mais que a gente, e isso é muito gratificante”.
O projeto teve um papel crucial no desenvolvimento da música eletrônica no sul, com uma curadoria precisa e eclética, ele inaugurou de forma inédita grandes ícones do House e Techno nacional e internacional nas terras gaúchas.
Dubfire, Renato Cohen, Giorgia Angiuli, ANNA, Joris Voorn, Phonique, Gui Boratto, Octave One e Chris Liebing são alguns dos nomes que passaram por suas cabines, uma curadoria feita diretamente por Fran Bortolossi.
O segredo, para ele, é ficar sempre atento escutando a vários artistas, ouvir a opinião dos promoters, da equipe e dos amigos, além de um olhar atendo para nomes que são novidades e que marcam presença em lineups de outras festas.
Fran se considera eclético, não segue muito o hype e até comenta:
Sei que às vezes apostamos em artistas que são da nossa preferência musical e não são tão conhecidos pelo grande público, mas acho que isso de certa forma nos torna únicos e também pode surpreender o público positivamente”.
Fran também procura sempre viajar para festivais e eventos para ouvir de perto outros DJs e fazer essa pesquisa de campo, como o ADE (Amsterdam Dance Event), onde tem a oportunidade de ver vários DJs num espaço curto de tempo.
Sobre o direcionamento e montagem do line up, o pensamento é sempre no modelo com início, meio e fim.
Nossa festa tem 12 horas de duração em Caxias, o que possibilita termos vários estilos na mesma noite. Acho que isso deixa a música e a festa mais interessante”, complementa.
Nesses 13 anos atuando como núcleo de vanguarda, o evento busca evoluir a cada edição, encoraja a criação e crescimento de outros projetos e sempre tenta entregar um bom atendimento.
Por isso concentra em si um público fiel que engloba indivíduos que estiveram presentes desde a primeira edição, em Farroupilha.
Nesse tempo, com suas práticas e diretrizes, o dono e sua equipe educam o público local com festas de qualidade e line-ups marcantes, elevando o nível da cena regional. Mas o trabalho não é fácil e Fran compartilha alguns desafios.
O maior é estar de certa forma longe de um grande centro, quase que no extremo sul do hemisfério sul, e ter um público ainda limitado na questão de quantidade (acho que dificilmente uma festa de house ou techno no RS passe de 3500 pessoas). Isso sem falar na questão da nossa moeda desvalorizada que torna tudo mais difícil. Esse negócio do hype também me incomoda um pouco. Com a visão que tenho de muitos anos, consigo ver e enxergar que a música é cíclica. Que muita coisa vai e vem, porém o que sempre tá aí e nunca sai de moda, é o House e o Techno de verdade. As vezes é legal valorizarmos as histórias dos artistas e eu, no meu papel de contratante, acho muito importante levar tudo isso em consideração. Valorizar os pioneiros do Brasil, valorizar quem deu a cara a tapa antes e também oportunizar nossos talentos locais. Obviamente que precisamos estar atentos às novidades, mas como diria o ditado, nem tudo que reluz é ouro. Mas para termos uma cultura de fato, é importante sempre ressaltar e valorizar os que começaram antes. É tipo aquela história de panela velha (risos). Vide Sven Vath, Carl Cox, Laurent Garnier, Sasha… para citar alguns exemplos em diferentes vertentes”.
Detendo o título de uma das maiores festas de música eletrônica do Sul, ela soma mais de 100 edições nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Também conta com uma política de marketing que tem dado resultados. A equipe já fez de tudo um pouco, podcasts, programas de rádio, brindes, camisetas, toucas, adesivos, sempre buscando difundir a cultura em que acreditam.
Hoje em dia focamos bastante nesse lado de programas de rádio e podcasts porque ainda acho que a rádio é o meio de comunicação mais democrático que existe. Qualquer pessoa pode ter um FM. E eu como sou um bom discípulo da saudosa Ipanema FM 94.9, de Porto Alegre, onde aprendi e muito a ouvir música com os radialistas e DJs de lá, tenho uma paixão eterna pelo rádio em si, e mesmo dando bastante trabalho, mantemos nossos programas ativos”.
A Colours acabou de realizar algumas datas bem importantes recentemente. No dia 30 de julho teve a Colours Tour, em Frederico Westphalen, no Berlin Club, e no último sábado (06) trouxeram novamente Kolombo, artista que “comemorou” seu aniversário de 10 anos desde sua primeira performance na festa.
O próximo compromisso agendado é dia 9 de setembro, com a estreia do famoso duo suiço Adriatique em Caxias do Sul, no Jockey Clube, “casa” da festa.