Existem características que são tão, tão fortes, que nos fazem ligar um breve imagem a um conceito todo. Chegando à gigante ARCA, ainda nas catracas – que funcionam bem e procedem como rapidez – vi de longe o palco escuro, sem telão, sem grandes destaques. Era um ambiente discreto, em uma lenta jornada até a ebulição. Perfeita imagem de Eric Prydz, uma estrela silenciosa.
Aos poucos, as pessoas foram chegando e fazendo das 8 mil vagas disponíveis pra noite um quadro substancialmente heterogêneo. Dos menos novos, com barba esbranquiçada no rosto, aos que ainda aguardam para ter um bigodinho. Começava ali uma celebração de “finalmente”. Toda aquela gente esperou por muito tempo para viver Prydz ao vivo e em nítidas cores.
Rodinhas empolgadas para fotos, curiosos (eu) tentando entender aquela estrutura toda especial de palco, descaracterizando o padrão ARCA, outros tantos aproveitando do brilhante warm up proporcionado pelo bom e surpreendente Jackson, e pelo já reconhecido Cristoph, que deixou as coisas muito bem temperadas – não que fosse preciso – para que Prydz chegasse.
15 minutos para os ajustes finais do palco, cumprindo londrinamente o set time divulgado pela ARCA. Neste meio tempo, aquela calmaria do começo ferveu, efetivamente. As pessoas checavam seus celulares de 5 em 5 segundos, tentando empurrar o relógio adiante, e no toque de 3 horas da manhã, ergueu-se um mar de câmeras, flash, apupos, gritos e o delicioso sentimento de conquista: finalmente veríamos Eric Prydz ao vivo.
— Eletro Vibez (@eletro_vibez) October 8, 2022
O HOLO é o gol do nosso time na final do nosso campeonato dos sonhos. É o último filme da Marvel que faz chorar o cinema inteiro. É um filme que toma conta do Oscar. As reações dos presentes explicam muito sobre isso. De início, foi surpresa pela magnitude, pela grandiosidade, pela tecnologia emprega e pela satisfação em viver aquilo tudo.
Depois, foi euforia. Ninguém arredava pé. Bares esvaziados, banheiros ainda mais. A pista foi tomada em sua totalidade. De todos os cantos, buscou-se o melhor ângulo para o vídeo perfeito, para a foto do feed, para o registro decisivo do evento. Intenso e frenético, Prydz não deixou o ritmo baixar nem mesmo um breve segundo, esgotando pernas e pés de quem acompanhava seu progressive com o corpo ébrio de empolgação.
Menção muito honrosa aqui sobre o show de lasers proporcionados a nós. Nunca havia, admito, visto aquela quantidade de luzes circundando toda uma imensa casa de shows. Foi fascinante e gerou excelentes fotos.
Ainda assim, o maior envolvimento ali entre artista e público foi emocional. Essa relação se estreitou decisivamente quando Prydz homenageou Lilo. Nem todo mundo sabia da história – um fã australiano que, em estado terminal, pediu por um show. Avesso aos aviões, Eric aceitou fazer o evento, mas Lilo perdeu sua luta antes disso. O show aconteceu, a renda foi dedicada à cura do câncer, e a família deu ao DJ cinzas de seu maior fã. 6 anos depois, ele segue sendo homenageado. E a ARCA sentiu essa emoção.
Previsto para acabar 5am, o show foi se encaminhando para o fim e ficou uma questão pairando: “Opus? NOPUS? E a projeção do DNA? Do astronauta?” Pois bem. Faltando 5 minutos, o paraíso baixou na Vila Leopoldina para todos os amantes de Sir Eric Prydz. Confesso a vocês que não sei se ele esticou o show por 10, 20 ou 30 minutos, mas todos os clássicos foram enfileirados, as projeções vieram, a gente foi visitar Nárnia e só faltava AQUELE grande finale.
Quando o DNA saiu da tela de projeção, uns sutis acordes da maior obra da vida do DJ sueco trouxeram à ARCA seu maior frisson. As pessoas cantavam (berravam, festejavam, gritavam, se abraçavam) enlouquecidas por reconhecerem o começo de Opus – que você certamente ouviu e ama. Este jornalista não viu mais as reações ou o design do palco deste momento em diante, porque seus olhos estavam precisando botar pra fora a alegria por estar ali. E não fui o único. Mar de lágrimas.
E assim a noite acabou. Com abraços, sorrisos, e muita emoção. Recompondo-me, ainda vi Prydz, de reações sempre discretas e silenciosas, bater no peito, cerrar os punhos e emular a comemoração de um gol. No controle do evento, os realizadores tinham o maior sorriso do Brasil, entre abraços e festejos. Todo mundo entendeu que a história foi escrita bem debaixo dos nossos olhos e que havia acabado o tabu.
HOLO, Prydz, venue lotada, altíssimo nível: na nossa casa. Aconteceu! 15 anos depois, mas aconteceu. E não poderia ser melhor.
Parágrafo extra: A ARCA veio para fazer a diferença na cena
Registro importantíssimo: banheiros limpíssimos, organizados, e de verdade. Nada de químico. Espaço especial pra cadeirante, deficientes, e demais casos de necessidade, além de um respeito enorme de funcionários para com clientes. Uma aula.