Cláudio da Rocha Miranda Filho trabalhou durante muitos anos com eventos de música eletrônica no Rio de Janeiro — desde o tempo das grandes raves no início dos anos 2000, como a XXXPerience, e Tribe, criou o Chemical Music Festival (2005-2014) e, em 2009, o Rio Music Conference – hoje Brazil Music Conference e Rio Music Carnival.
Formado em Gestão Pública, fez Economia e Marketing, com uma pós em Administração, sempre por acreditar na gestão de processos, na organização, na capacidade relacional e de articulação como atributos importantes para somar com o olhar artístico e musical, e aqui falou sobre sua atuação na curadoria do palco de música eletrônica do Rock in Rio, o New Dance Order.
Primeiramente é um prazer estar falando com vocês da Eletro Vibez, tenho acompanhado a trajetória de vocês e reconheço o veículo como de grande importância para o ambiente cultural da música eletrônica brasileira.
O que sempre me encantou muito neste ambiente foi a proposta de evolução cultural, social e expansão de visões de mundo e, particularmente, a perspectiva antropológica-comportamental. O reflexo de muitos aspectos da sociedade e do jovem como impulsionador das mudanças passam antes pelas cenas artísticas e musicais. É como um espelho para perceber e antever os movimentos sociais e culturais.”
Como se dá o processo de escolha, quais critérios são levados em consideração, ao montar um line-up? O apelo do público tem peso nas escolhas?
Cláudio: Falando de Rock in Rio, certamente a popularidade dos artistas também têm peso nas escolhas. Mas é apenas um dos fatores que levamos em consideração.
O critério de escolha passa por um equilíbrio entre apostas de novos artistas; aceno para cenas locais e regionais do Brasil; artistas internacionais & nacionais, e aqui o budget e o câmbio entram no jogo); um pouco de educação no sentido de apresentar “o novo” e mostrar que às vezes o público quer ver o que nem sabe que quer ver.
Mas não só, também há um olhar interno, no sentido de observar os demais palcos e um pouco do mood do dia em questão — não que isto seja uma regra pois às vezes propor algo bem diferente do que esteja rolando no Palco Mundo e no Sunset, por exemplo, pode ser uma ótima pedida, dada também a imensidão de 100 mil pessoas por dia no festival.
No fim, a curadoria é uma proposta, que também precisa levar em conta todos os aspectos técnicos e de viabilidade daquelas escolhas.
Como conciliar um line-up mainstream e dar abertura para outros gêneros? Um palco tem o poder de ditar tendências sonoras. Olhando de fora, quais são as suas apostas para os próximos meses ou ano?
Cláudio: Acredito que pra um festival do tamanho do Rock in Rio, que é agregador, diverso, e o maior festival de música e entretenimento do mundo, cabe muito bem misturar o mainstream com o avant-garde, dando abertura para outros gêneros mais alternativos.
Em termos de tendências da música eletrônica, vejo um espaço para um novo boom do mainstream, seja aqui no Brasil e globalmente — acredito que isso vá acontecer em breve. Passamos por um momento sem precedentes de pandemia onde os sons de pista foram repelidos em detrimento de sons mais melódicos e progressivos.
Por outro lado, a cena underground anda com muita força, selos, festas e artistas novos, há um o novo Techno que muito se assemelha ao Trance do passado e BPMs altos de 140 em diante, como o do psytrance, que vejo estarem super em alta e de certa forma ocupando o espaço da “energia” de pista que o mainstream proporciona.
O Tech House mais comercial também está muito forte em cenas mais mainstreams e convergente também com outras, mais particulares do Brasil, como o ‘Desande’ e os desdobramentos do BR Bass.
Como foi o processo de criação do “New Dance Order”? Quais foram os pontos que vocês viram que o Rock in Rio precisava para ter um palco exclusivo de música eletrônica?
Cláudio: Em 2019, nasceu o New Dance Order, propondo uma grande transformação. O novo palco inovou em tecnologia, com uma estrutura de 65 metros de extensão, 24 metros de altura, 560 metros quadrados de LED, além de stage shows pirotécnicos e lasers de última geração.
O New Dance Order conta com uma programação com 12 horas de música por dia, sem intervalos, das 16h até às 4h — o palco tem o maior período de atrações entre todos os demais espaços do Rock in Rio.
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