Fernanda Almeida, ou Fernanda Witis, como também é conhecida, é DJ, tem formação em Produção Fonográfica e atua como A&R da Som Livre em gestão de projetos e desenvolvimento de produtos artísticos.
Na gravadora, já trabalhou com nomes como: Samhara, Alok, Bhaskar, Pontifexx, Ruxell, Mojjo e Ralk, além de nomes da música popular brasileira como Wesley Safadão, Michel Teló, Sorriso Maroto, Kevin O Chris, Xand Avião, Mano, Walter, João Neto & Frederico e muitos outros.
Fernanda, pra quem não sabe, o que é um A&R?
Fernanda: A&R é a abreviação de Artístico & Repertório.
Como foi pra começar a trabalhar na profissão?
Fernanda: Quando eu entrei na faculdade de produção fonográfica, o meu objetivo era a capacitação e o desenvolvimento da minha carreira como DJ. Depois de alguns períodos estudando sobre as possibilidades de atuação no mercado e entendendo como cada uma delas funcionava, minha visão de música e de onde eu poderia me encaixar se expandiu para um universo além da vida de DJ.
Algum tempo depois, fui selecionada para o estágio da Som Livre. Minha principal função era atualizar os repertórios das playlists dos perfis da Som Livre, o que foi fundamental para desenvolver ainda mais meu conhecimento sobre determinados gêneros e aumentar significativamente minha bagagem musical. Um ano e meio depois, comecei a atuar no planejamento geral dos artistas. De lá pra cá, já são 4 anos e meio atuando nessa posição, lançando inúmeras músicas e encontrando diversos artistas.
Qual a função de um A&R dentro de uma gravadora?
Fernanda: O A&R ou Artístico & Repertório, é o ponto de partida da vida do artista dentro da estrutura da gravadora. É quem está tocando diariamente com os próprios artistas e escritórios, seja para gerenciamento de produtos e projetos, seja para planejamento de lançamento, ou ainda organização de cronogramas, busca de repertório, possibilidades de feats, oportunidades e etc.
São os A&Rs que passam horas em estúdios com artistas, produtores e compositores escolhendo as melhores faixas e discutindo sobre sonoridade e referências. Tudo isso alinhado ao momento do artista, para quem passamos dias analisando métricas de consumo e estando em shows para entender a resposta do público. O A&R também exerce a função de olheiro, pois é quem vai à rua atrás das oportunidades. Hoje em dia, as plataformas de análises fornecem muitas informações valiosas sobre novos artistas e tendências e, a partir disso, vamos atrás das contratações, indo a seus shows, abordando empresários, estudando e entendendo o artista, bem como fortalecendo parcerias até a aprovação da proposta.
Como você identifica tendências e como sabe se as mesmas tendências lá fora vão ter um impacto significativo no mercado Brasileiro?
Fernanda: Eu acompanho muitos os charts dos streamings e os sites de notícias, e também uso muitas ferramentas de analytics para ver a evolução do mercado. Além disso, por ser DJ, no meu ambiente pessoal, acabo ouvindo muito o que as pessoas pedem e vou entendendo para onde estamos caminhando. Acredito que o nosso mercado tende a se adequar às novas tendências do mercado exterior pelo fato de o Brasil ser um país multicultural. Existe uma vontade muito grande dos maiores players mundiais de atuar e crescer no Brasil, pois há espaço para isso.
O que acontece é que alguns gêneros caminham em velocidades diferentes de outros e isso passa por diversas questões, como: engajamento das pessoas com o gênero, média de idade do público consumidor, quantidade de dinheiro investido e seu local de atuação. Todos os pontos acima indicam quais gêneros musicais irão se adequar às novas tendências primeiro. Um bom exemplo para isso é ver quanto o crescimento do TikTok vem influenciando as formas de promoção musical e os charts das principais plataformas de streaming. Principalmente para o Funk e o Rap: ambos os gêneros são altamente consumidos por um público mais jovem, que é usuário da plataforma.
Para um artista chamar a sua atenção, qual a primeira coisa que você considera?
Fernanda: A identidade daquele artista como um todo é o principal ponto que me chama atenção. Preciso saber qual o diferencial dele e alguns artistas mostram esse diferencial no primeiro contato. Além disso, avalio muito a qualidade das produções musicais, dos conteúdos audiovisuais e de sua performance de show. Em alguns casos, o artista ainda não tem nenhum hit na carreira, mas cativa o público de um jeito tão surpreendente e diferenciado, que o enxergamos como um diamante a ser lapidado.
Qual as maiores mudanças que você notou no seu trabalho do início da pandemia até aqui?
Fernanda: Os processos internos não mudaram tanto, mas as atividades externas foram totalmente paralisadas. Então posso dizer que estou sentindo muita falta de acompanhar os artistas nos shows e participar dos processos criativos em estúdio.
E qual conselho você dá pra quem quer ser um A&R?
Fernanda: Ouvir de tudo e estar sempre atento às novidades do mundo da música. No A&R, não podemos privilegiar nossos gêneros favoritos. Temos que estar com os ouvidos sempre abertos a todos os gêneros, entendendo a peculiaridade de cada um. Também é importante ter conhecimento sobre qualidade de áudio para identificar possíveis falhas. Você não precisa saber tocar um instrumento, mas precisa entender como funciona a estrutura de produção de uma música.
E aí, curtiu entender mais sobre essa profissão dentro da cena eletrônica? Se você tem interesse em saber mais sobre outras profissões, fique de olho, pois semanalmente irei trazer convidados especiais para você, querido leitor, ficar por dentro das vibez que rolam off the stage!
Texto por Jade Cohen – Revisão por Hector Lopez