Conversamos com Renata Jacques e Aline Castro, fonoaudiólogas e especialista em Audiologia sobre como nós, que consumimos música alta, eventos e também os artistas, podemos cuidar da nossa audição e proteger nossos ouvidos de futuras perdas auditivas e danos maiores.
Estamos expostos a sons de alta intensidade e essas exposições podem causar alterações temporárias, que duram um curto espaço de tempo, ou de forma repetitiva, que pode conduzir a uma perda auditiva permanente. Por isso, leia atentamente esta entrevista e previna-se!
Existe um limite de decibéis que um ouvido pode aguentar?
Sim! O som é uma onda mecânica que causa o deslocamento das partículas de ar para dentro do conduto auditivo. Quanto maior a pressão causada por este deslocamento de ar, maior a intensidade do som. Quanto mais forte o som, menos tempo as células auditivas suportam sem sofrer danos.
A exposição a sons e ruídos intensos é uma das principais causas de perda auditiva e zumbido. Existe um limite de intensidade sonora que é seguro para a audição. A partir de 85 dB, dependendo do tempo de exposição ao som, já pode haver danos. Ressalta-se que sons acima de 120dB já atingem o limiar de dor e desconforto, podendo causar lesões permanentes às células da audição com uma única exposição.
Como comparação, o barulho em um show de rock pode atingir 130-140 dB. Sons ainda mais intensos podem causar lesão a outros órgãos e a partir de 190 dB tem-se o rompimento da membrana do tímpano. Intensidades superiores a 195 dB podem ser letais.
Quais são os primeiros sinais que uma pessoa altamente frequentadora de festas deve ficar atento? Quando procurar um médico?
Após participar de um show, de uma festa, usar fones de ouvido com intensidade aumentada, ou qualquer atividade que envolva sons em forte intensidade, as pessoas podem apresentar sensação de zumbido, ouvidos tampados, baixa audição, distorção ou irritabilidade aos sons. Estes sintomas podem ser passageiros no início, mas ao longo do tempo podem ficar mais frequentes ou durar por mais tempo.
Caso isso ocorra, atenção! Esses são sinais de que as células auditivas estão sob estresse e há risco de lesão permanente. Diante desses sintomas é muito importante buscar auxílio profissional para a avaliação da audição e orientações sobre proteção auditiva e opções de tratamento disponíveis caso seja necessária alguma intervenção. Geralmente, os profissionais envolvidos neste processo são o médico otorrinolaringologista e o fonoaudiólogo.
De quanto em quanto tempo preciso fazer um check-up?
Quando a exposição a sons intensos é um risco associado ao trabalho daquele indivíduo, a legislação brasileira recomenda realização de exame clínico e audiometria (teste do nível mínimo de audição realizado em cabine) com periodicidade anual.
Infelizmente, a realidade é que muitos profissionais, principalmente músicos independentes, desconhecem tal recomendação e não realizam o acompanhamento periódico da audição, ou procuram um especialista apenas quando um dos sinais de problemas auditivos aparece.
O uso do protetor faz diferença mesmo saindo todo final de semana?
Sim! O uso de proteção auditiva é indispensável para a saúde da audição de quem se expõe, regularmente ou esporadicamente, a sons intensos. Considera-se seguro para a audição a exposição a sons de 85 dB por até 8 horas consecutivas.
A cada 3 dB que o som aumenta é necessário reduzir o tempo de exposição pela metade, para manter a margem de segurança contra lesões auditivas. Os protetores auditivos atenuam em média 20 dB do som que chega aos ouvidos.
Portanto, faz muita diferença usá-los em ambientes ruidosos! Entretanto, a mudança de comportamento em relação à exposição a sons intensos também precisa acontecer. Por exemplo: usar protetores auditivos de forma errada ou inconsistente, e usar fones de ouvido por dentro dos protetores auditivos são atitudes que tornam a proteção auditiva ineficaz e podem até mesmo potencializar o prejuízo à audição.
Existe diferença entre os protetores para músicos e para o público?
Sim. Como os profissionais da música – sejam cantores, instrumentistas, técnicos de áudio, DJs ou equipe de apoio – e os que trabalham com sons amplificados têm uma grande demanda auditiva, eles precisam de soluções diferenciadas, isto é, necessitam de protetores auditivos que aliem proteção e conforto com a preservação da qualidade sonora.
Existem no mercado diversas marcas e modelos de protetores auditivos indicados para esses profissionais e também de monitores in-ear que, além de fornecerem o retorno individualmente, também oferecem proteção sonora a sons intensos.
Sobre esses protetores auditivos, temos os universais e os personalizados, que são moldados de acordo com a anatomia da orelha e do conduto auditivo de cada indivíduo, garantindo conforto e geralmente maior efetividade na atenuação da intensidade sonora. Todos eles possuem filtros flat, isto é, filtros especiais projetados especificamente para reduzir o volume e não alterar a resposta de frequência dos sons.
Desta forma, é possível ouvir a música com todas as suas sutilezas e nuances, mas em volume menos intenso. A escolha individualizada desses filtros permite que o profissional tenha a quantidade de atenuação correta para a situação específica de sua exposição. O uso de protetores auditivos e monitores in-ear, aliado ao acompanhamento com especialistas em audição, são estratégias importantes para o cuidado com a saúde auditiva dos músicos.
Mais sobre as profissionais:
Renata Jacques
Fonoaudióloga – CRFa 6-2200
Mestre em Linguística pela UFMG
Especialista em Audiologia
Aline Castro
Fonoaudióloga – CRFa 6-6880
Doutora em Ciências da Saúde pela UFMG
Especialista em Audiologia