Foi tudo muito novo para esse que lhes escreve agora. Desde saber onde ficam os clubes que sediariam o evento até descobrir como eles eram. Foi uma jornada de novidades desde o princípio.
E talvez seja esse o melhor dos pontos para uma análise sincera e fidedigna de um festival de música eletrônica em meio ao carnaval, no país do carnaval: o Ame Laroc Festival!
Mapeando o espaço
Na sexta-feira, 21, a equipe da Eletro Vibez, esse jornalista e seu fiel companheiro de rolês, foram de São Manuel, uma cidade do interior paulista, rumo a Valinhos, um município de bom porte que se localiza na região mais rica do Estado mais rico da federação.
Ainda que próximo à selva de pedra, o local é montanhoso, silencioso e bem bucólico. Em meio à vegetação serrana, na rodovia Don Pedro, você verá uma discreta entrada que te levará a um conglomerado de construções. Parece um oásis no meio do quase nada.
São 2 clubes destinados à música. Em um mesmo ambiente, no Ame, um novo espaço para festa foi criado, cercados por vegetação, em uma combinação bem bonita. Modernidade e simplicidade conversando. Vimos, ainda na chegada, como era o local. Policiamento ostensivo nos pouco mais de 500 metros que levam a rodovia até a entrada do festival.
Profissionais já faziam o monitoramento de tráfego e se preparavam para o público que chegaria. Fomos, então, recebidos no único hotel que havia por lá e, por sorte, ligado quase umbilicalmente com o clube. Localização não era problema.
Vibez, muitas vibez
Do espaço, discreto e humilde, já era visível o ambiente que se criava. Música estralando nas caixas improvisadas que recebiam os visitantes. Churrasco improvisado, pessoas que cantarolavam suas tracks prediletas. O rolê já começava ainda antes da abertura dos portões. Do lado de fora, pessoas procurando um melhor lugar pros carros e, ainda que houvessem estacionamentos e vagas privadas, o custo não era fácil.
As pessoas, por sua vez, aqueciam o momento com mini caixas de som, um quitute e muita resenha. Não tardou a abrirem o primeiro dia de Ame Laroc Festival.
Estrutura e chegada
Ponto para o evento. Com funcionários desde o princípio da fila, pessoas bem treinadas e educadas (amém!), o direcionamento dos clientes foi efetivo. Nas catracas, não presenciei qualquer tipo de fila. Processo muito ágil. A revista se mostrou forte, dedicada. Nos momentos que passei por ela, não observei truculência, mas eficácia no procedimento. Como deve ser feito.
A primeira impressão estrutural foi de choque. Como estavam lindos, os clubes. As passagens, as telas de indicação, as praças de alimentação, acessos, tudo. Pareceu esteticamente impecável, sem restrições. Cuidado bacana com acessibilidade e necessidades especiais. Até o cuidado com os jardins do feudo Ame Laroc foi de impressionar. Dos festivais que no Brasil ocorrem, esse, sem medo de errar, é dos mais bonitos. Depois do olhar geral, foi hora de detalhar os espaços.
Laroc Club
Impactante. Mistura de Summer vibez com estrutura de espaço de luxo. Palco imponente, espaço totalmente coberto, área VIP muito bem estruturada e espaçosa. Além de lounges com vista privilegiada, do alto.
Uma piscina muito extensa que se dispõe na parte alta do club, gerando a possibilidade de curtir o show com os pés na água e com visão limpa do palco. O espaço físico é muito convincente, de forma geral. Pro público da pista, banheiros e bares também não ficavam distantes, mas com menos proximidade do que os da região nobre do local.
Ame Club
Você pode até imaginar como seria, mas será diferente. O espaço é diferente de tudo o que eu já vi. Parecendo uma espécie de caverna em meio à selva, o palco do AME é no meio do público. Pista à frente e VIP às costas do DJ.
Quando cheio, parece ser um ambiente só, uma reunião pela música, pela melhor sensação. Artista, público e arte se misturam em sinergia pura. É bem bonito de ver. Perfeito para o Techno e suas variáveis. Bar e banheiros muito próximos e acessíveis. O único porém fica por conta do acesso ao stage ser por uma rampa íngreme.
Primeiro dia e um erro
Sem problemas estruturais, o evento parecia receber velhos conhecidos, pessoas que já sabiam como era e como funcionava o espaço. Havia certa intimidade no ar. Os novatos, como eu, logo se acharam. Era muito rápido e fácil caminhar por todo o espaço físico do festival. 10 minutos eram suficientes para atravessar de backstage a backstage. Nas primeiras horas, inclusive, parecia que não rolariam problemas de superlotação. A divisão entre palcos foi suficiente para manter a saúde do espaço, mas um fator colocou a paz em cheque: KSHMR.
O headliner do primeiro dia de Laroc foi uma explosão. O palco do AME esvaziou além do imaginado e o espaço do club mais antigo ficou pequeno, muito pequeno. As mesas que recebiam os baldes de drinks, os grupos de amigos, os espaços pra dançar. Tudo foi tomado pela busca de um cantinho a mais. Ficou quase claustrofóbico, no início, mas a intensidade de show do americano superou a questão. Foram momentos lendários pro club, ainda que faltasse ar.
O foco, então, passou a ser o AME que recebeu Meduza e Claptone, o segundo, inclusive, começaria seu show quando o palco Laroc já tivesse encerrado seu expediente. Houve, de novo, uma pequena superlotação, mas a melhor disposição física do novo ambiente foi definitiva para que tudo ocorresse bem. Tão bem que ao final da última música, para além das 5 da manhã, o palco seguia cheio. Foi um sucesso.
Dias 2 e 3 e o acerto
A melhor distribuição de shows de apelo, em horários conflitantes, foi o fator que trouxe equilíbrio. AME e Laroc, com propostas totalmente díspares de sonoridade, trouxeram suas tribos pro evento. E isso fez com que, nos dois dias finais, a divisão ocorresse e os espaços ficassem saudáveis. Triste ter de escolher entre atrações espetaculares em um mesmo horário, mas essa é a premissa dos festivais. Era necessário agir assim.
Sets pra história
Em histórias já ricas, AME e LAROC presenciaram sets que ficarão lembrados pra sempre. Essa análise não diz respeito a um ranking, mas ao que os meus olhos viram e se emocionaram. Lembranças afetivas que provavelmente serão compartilhadas com muitos dos que lá estiveram também.
KSHMR: já reverenciado na casa, voltou para ser ovacionado. Teve todas as suas músicas cantadas pelo público e ainda tocou ‘Evidências’. Foi uma epopeia pra galera que esteve lá para vê-lo. Bonito.
Barja: Thaís foi destaque absoluto. Mesclando voz ao vivo e ótimas tracks, a brasileira levantou o público do palco Ame. Destruiu.
Timmy Trumpet: foi um incêndio no festival. Trouxe Hardstyle pro palco da música nacional e deu ao evento uma vibe muito distinta. Ninguém ficou parado. Foi histórico.
Vini Vici: era um show muito aguardado e atendeu. Progressividade absurda em uma energia impressionante. Manteve o espaço cheio do início ao fim.
Meduza: conhecido por suas tracks populares, trouxe um set nada comercial e muito envolvente. Sonoridade própria e energia contagiante. Empolgou o Ame.
ARTBAT: trouxe uma avalanche pro evento. Superlotou o palco underground e fez um set encantador. Cheio de luzes, sentimentos e sons. Cumpriu o esperado.
Liu e Chemical Dogz: os brasileiros mais aclamados e que mais fogo trouxeram pro evento. Sets poderosos, cheios de identidade nacional e respeitando as marcas do que a música brasileira construiu.
Santti: o jovem promissor honrou seu status. Fez um trabalho muito bonito, com ares de autoral e muito bom gosto de repertório. Mandou bem.
Sam Feldt Live: fascinante. A mescla de ótimas músicas, os instrumentistas, as inserções ao vivo e o uso de clássicos do Brasil. Final de set com Mamonas Assassinas. Foi uma aula.
W&W: não se esperava menos do que uma sinergia imensa nesse set. Os holandeses cumpriram e trouxeram muito fogo pra Laroc. Set cheio de Big Room e Hardstyle. Foi épico, sem dúvidas.
Pontos de melhorias:
Se o público colaborar, haverá menos lixo no chão. Sobravam latas de lixo e faltou boa vontade no pessoal. Um pouco de consciência não fará mal, de verdade.
Se o evento puder manter a divisão de atrações entre os palcos, serão menores os riscos de superlotação em certos momentos. Pela saúde do festival, é justo um cuidado com isso.
Alguns preços, se fossem mais baixos, agradariam. Ainda que o serviço e os sabores tenham sido ótimos, e foram, ficou um pouco custoso para comer e beber.
Menção honrosa
É extremamente relevante deixar registrado um elogio ao espaço destinado às artes, no festival. Em um cantinho super especial, havia uma área verde cheia de atrações. Desde um estúdio de tatuagem até um mini palco com ótima música rolando, com ativações de marcas gigantes e ainda uma exposição de arte. Um local delicioso, bonito e abarrotado de vibez. Golaço!
Até 2021!
É delicioso saber que há no Brasil uma opção tão poderosa de evento dedicado ao nosso som, à nossa vida. O lineup de 2020 foi grandioso e as expectativas pro ano que vem só crescem. A gente agradece pela imensa hospitalidade e pelo lindo rolê que tivemos. Vida longa ao Ame Laroc Festival!