Foto por Alisson Demetrio

Navio Só Track Boa: último trecho e impressões de um debute em alto mar

A viagem pelo litoral brasileiro a bordo de um cruzeiro cuja proposta foi tocar música eletrônica sem pausa, do primeiro ao último minuto, chegou ao fim. O trecho derradeiro em alto mar foi entre Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e Santos, no Estado de São Paulo. Com o obstáculo de um ciclone e ondas de até 5m de altura, o trajeto teve suas intempéries, alguns enjôos e shows resistentes, além de um público que não abriu mão da festa. 

Depois de fazer rastro pelo chão de carpete do décimo terceiro e décimo quarto andares, o primeiro, que abrigava nossa cabine, e o segundo, onde estavam o restaurante e as pistas de dança, nosso time foi em busca de conhecer áreas ainda novas para nós. A primeira pausa foi na academia, bem competente e funcional. Depois, conhecemos a quadra poliesportiva do navio, muito simpática e ao ar livre, um lugar muito gostoso. 

Antes, porém, a pista já viveu momentos que valem registro. Os trabalhos começaram no raiar do dia, com Halfcab, que tocou para muita gente, já que foram poucos aqueles que optaram pelo descanso após o fim da programação noturna, finalizada pelo B2B entre Vintage Culture e Joris Voorn. Antdot, Barja, Tim Baresko deram sequência à festa, mas foi com Doozie que as coisas esquentaram ainda mais. De surpresa, Lukas assumiu a discotecagem ao lado do amigo, enlouquecendo os presentes. 

Goodboys, Maz, Meca, Mila Journée e From House To Disco levaram as atividades até que o dia se fizesse noite, inclusive já com o palco principal reaberto, com Fernanda Pistelli. Quando o duo inglês voltou ao palco, o Navio desatracou e partiu viagem até seu ponto de partida, e nesse momento o rolê ficou um pouco agitado demais. Ondas de até 5 metros de altura e um ciclone cruzaram nosso caminho, levando ventos muito fortes e uma movimentação incômoda para qualquer ambiente da embarcação.

Apesar da natureza rebelde, ninguém arredou pé do palco, muito pelo contrário, o que se viu foi um desejo muito intenso por aproveitar as horas restantes. Lotado, o mainstage funcionou até 4h30 da manhã, ao fim do espetacular set de Artbat. Esperava-se por uma Jam Session finalizando a viagem, mas questões de segurança impostas pela instabilidade do mar forçaram um encerramento abrupto, causando algum desapontamento – natural pelas circunstâncias.

Resistentes, as pessoas foram para as cabines e fizeram um after adaptado, bebendo e brincando nas varandas, compondo um clima caótico e divertido. Houve os que optaram por descansar ou mesmo adiantarem o check out, pegando filas médias na recepção para acerto dos débitos. O processo não é burocrático, ainda que intenso pela quantidade de presentes. Passageiros que levaram malas despachadas precisam deixá-las nos corredores ainda no anoitecer, mas nada que fosse complicado demais.

O desembarque começou por volta de 8h da manhã, prazo limite para que todos deixassem suas cabines. Foi servido um café da manhã completo, já com a embarcação atracada no Porto de Santos. Com alguma ressaca e muito sono, o clima era de fim de festa, mesmo. Por grupos e andarem, todos foram convidados a descerem ao quinto andar para saírem do navio. Nenhum problema a se registrar nessa partida, ainda que tenha sido feita por muita gente. Foi assim que a viagem chegou ao fim.

Como em todo pós rolê, temos considerações nada profissionais e muito pessoais para fazer dessa jornada absolutamente única e sem qualquer precedente.

Uma viagem de navio é uma jornada muito particular e específica. Balança, enjoa, causa alguns sintomas chatos, sim. Não é tão simples como se pinta na internet e isso precisa ser dito. Conhecemos pessoas que não deram conta dos momentos nos quais a embarcação navegava em alto mar e não conseguiram curtir as ótimas festas. É um fator a ser levado muito em conta, mesmo que em caráter preparatório para uso de medicamentos adequados. 

A estrutura física do MSC Fantasia é linda. Não havia nada que gerasse grande incômodo por conservação ou funcionamento, ao menos na nossa experiência. Por conta do caráter específico de ser um Só Track Boa e as pessoas estarem lá para curtir os DJs, muitas áreas de entretenimento ficaram inutilizadas ou muito pouco frequentadas, mas era algo a se esperar sem muita surpresa. Sala de jogos, Cassino, Sports Bar, bandas ao vivo e uma praça de convivência foram apenas adornos. 

O palco principal era um desbunde de tão bonito. Enorme, cheio de luzes, próximo à pista, era tudo impecável, mesmo. A gestão do espaço, fazendo da piscina uma grande pista também foi bem feita. Havia obstáculos, sim, mas nada que atrapalhasse. Na nossa observação, foi o ponto alto do evento, sem qualquer dúvida. Bonito, bem feito, bem ocupado e muito eficiente. 

As outras duas pistas tiveram pontos positivos e negativos. A interna, da piscina coberta, foi encerrada por questão do intenso calor do ambiente, impedindo sua realização. Apesar da área ser muito bonita, com piscina, jacuzzi e bar, o teto retrátil não operou como esperado e precisou haver um remanejamento de artistas, nada que fosse um problema, até porque as alterações foram avisadas por todo o navio através de telas e avisos. 

Muito por conta disso, o Alien Lagoon, na piscina externa, ficou sempre muito cheio. Em estrutura, era o menor, em um local mais intimista, e acabou lotado. Apesar disso, muita coisa boa aconteceu por lá, incluindo uma Jam Session com Korolova, Joris Voorn, Miss Monique e Yotto, dançando, curtindo e se integrando ao público. A cena foi muito maneira e todos que lá estavam certamente carregarão com carinho a lembrança. Por vias complicadas, o espaço funcionou.

Por mais que não reinventasse a roda e nem parecesse com o restaurante de um chef de cozinha, afinal, era um navio de quatro mil pessoas, as comidas eram boas. Lanches, comidas nacionais, peixes, carnes, saladas, pizza e doces. Mais do que suficiente para que a viagem fosse agradável. O serviço 24h também foi cumprido, já que sempre existiam opções de alimentação, quentes e novas, a qualquer momento do dia. 

As bebidas não tinham preços de varejo, nem deveria se esperar por isso. O fato de tudo ser feito em dólar, como em qualquer navio, complica as coisas em uma conversão de R$5,00. As pessoas já tinham esse norte em mente e souberam resolver o problema – o cartão de crédito que lute. As lojas da MSC vendiam garrafas em valores mais amigáveis e isso contribuiu muito para sorrisos e copos cheios. 

As cabines, como você já leu aqui, são realmente muito legais. Camas ótimas, limpeza impecável, banheiro operante e uma varandinha que é nota 10. Só cabem elogios a esse aspectos. Os corredores são imensos e confundem um pouco, mas essa culpa é da dimensão da embarcação, não há muito o que protestar a respeito. Os elevadores são muitos e também não deixaram a desejar. 

Agora, as coisas mais legais desse rolê:

Imagine uma festa de 72h durante a qual você pode trocar de palco, pular na piscina, fazer um treino, apostar uma moeda no Cassino, acompanhar um evento esportivo ao vivo pela televisão, tomar banho, dormir umas horinhas, comer muito, beber ainda mais, e voltar pra festa. Imaginou? Esse é o Navio Só Track Boa – que de quebra ainda te oferece a chance de cruzar com seu artista favorito de chinelo tomando uma brisa. 

Ah, e podendo dar uma voltinha em praias lindas para relaxar.

É maneiro demais. Vocês precisam conhecer.