Reprodução Multishow

Sob tempestade, Alok encanta com música eletrônica para todos os povos do Brasil

O nome é ‘Show do Século’, mas eu honestamente mudaria para ‘Show do Povo’. Alok levou a música eletrônica para a icônica Praia de Copacabana, em frente ao Copacabana Palace, símbolo absoluto do luxo, e compartilhou da mais alta tecnologia com o povo brasileiro. De graça, na rua, na chuva, na areia, no mesmo espaço onde as pessoas construíram a história deste país. Nenhuma barreira social sobrou depois de algumas horas de música.

Alok promoveu uma apresentação que custou milhões de reais para existir, e que normalmente custaria um altíssimo valor para ser assistida, mas não nesse caso. Todo mundo poderia: o ciclista desavisado, o turista que pegava um sol horas antes, o vendedor ambulante, o periférico, a criança, o idoso, o dono de um cobertura avaliada em cifras estratosféricas ou um cliente do Copa, que abriu sua varanda para ver um show. A música eletrônica foi a visita de todos os povos, sem a menor distinção.

Seria comum que celulares surgissem como um mar de luzes para registrar esse momento, mas a tempestade que caiu sobre o Rio de Janeiro impediu esse hábito. O que vimos foi um cenário quase hipotético nesse novo mundo: as pessoas dançaram e cantaram na chuva, ao melhor estilo daquele musical dos anos 50. Eu honestamente achei que nunca mais veria isso acontecer. Cada imagem registrada pelo Multishow e pelo Globoplay me causou os mais sinceros arrepios. Festa, afinal, é sobre isso.

Se você frequenta eventos de música eletrônica, sabe que os valores e ocasiões não promovem o foco à diversidade, uma barreira quase intransponível, culturalmente. Pare alguns minutos e veja o público desse show – você vai perceber que o dia 26 de agosto marcou o dia no qual todos puderam sentir a emoção dos fogos rasgando o céu enquanto melodias enchiam os corações com sentimentos puros de alegria e êxtase. Qualquer ser humano merece essa sensação.

Alok trouxe pra música eletrônica o eterno “É Hoje”, samba-enredo de 1982 que viria se tornar o mantra da música popular brasileira – e o fez na companhia de ritmistas de escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. A simbologia de celebrar a cultura da nossa terra ao lado daqueles que a constroem diariamente é tocante. Tim Maia, Seu Jorge, Raça Negra, Alceu Valença, Vanessa da Mata – todos eles tiveram suas vozes reproduzidas por milhões de pessoas que cantavam sob muita água.

Rindo do melindre, Alok transformou a Pirâmide num paredão do Furacão 2000 e passeou pelos clássicos do funk carioca, os antigos e os sucessos mais recentes, misturou os mundos e bagunçou a cabeça de quem ainda não entende que a liberdade da música é apenas entender que ser feliz é o limite.

Alok tocou o Brasil para o brasileiro, levou pro povo o que tem de melhor no mundo da música eletrônica, tocou do sertão ao hardstyle, muito funk, falou sobre clássicos com quem nunca ouviu falar deles, e viu que a linguagem da música é universal, independente de nível ou circunstância. É possível, e lindo, dividir nossa música com quem não teve, até então, a chance de provar seu sabor. Nesta noite, nós, EDM, temos muito a celebrar e aprender. Nossos preconceitos não valem a pena.

Viva a música. Vamos viver a música.